As confissões de ‘Sr Barriga’ no Brasil

Em São Paulo para apresentação de seu novo show, o ator revelou a vontade de atuar em uma telenovela brasileira

Kellen Rodrigues Publicado em 13/09/2011, às 15h11 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

Edgar Vivar, intérprete de Sr. Barriga e Nhonho - Manuela Scarpa/PhotoRioNews

Com a fala tranquila, um esforço louvável para falar português e com um sorriso presente em quase todas as respostas, o ator mexicano Edgar Vivar (66) participou de um bate-papo com a imprensa na manhã desta terça-feira, 13, em São Paulo. Durante uma hora, ele falou sobre sua vida, a carreira, o show que apresentará por aqui e, claro, sobre os queridos personagens Sr. Barriga e Nhonho, do seriado Chaves. “Fiz aulas de português por quatro semanas. Me sinto muito feliz de estar neste país tão amoroso e tão especial para mim”, disse na chegada.

O começo de tudo

Edgar tinha ainda seus vinte e poucos anos quando trocou a faculdade de Medicina pela carreira de ator. Foi para pagar os estudos, aliás, que aceitou participar de comerciais para a TV. “Eu tinha uma namorada que era atriz e fui com ela em um teste. Fiz um comercial e vi que pagavam bem. Nem pensei muito”, contou entre risos. Quando o comediante Roberto Gómez Bolaños (82) estava em busca do elenco para o programa Chespirito, um amigo indicou Edgar. Começava aí uma carreira de sucesso. “Ele me ligou e disse: É o Roberto Bolanõs, Chespirito. Vi seus comerciais e gostaria de saber se você quer fazer televisão. Ele ainda não era tão conhecido”, lembra. Com o sucesso do programa, foi preciso escolher. “Tive que fazer uma decisão, ou eu seria um bom médico ou um bom ator, ou um médico/ator medíocre”.

Da escolha, nem um pouco de arrependimento. Logo vieram os seriados Chaves e Chapolin Colorado e Edgar ganhou fama em diversos países, conquistou o coração de milhares de fãs, além, é claro, de fazer um bom pé de meia. “É como se eu tivesse amigos em todas as partes do mundo, que nunca me foram apresentados”.

Nos bastidores, hematomas e risadas

Cobrar a dívida do desempregado ‘Seu’ Madruga não era tarefa fácil para o Sr. Barriga. Mas o que pode ser pior do que não receber 14 meses de aluguel? “Ser recebido com uma pancada”, conta Edgar. E de pancadas ele entende bem. Cada vez que pisava na Vila, ganhava um hematoma por conta de Chaves. “Às vezes a gente gravava cinco tombos, eu ficava com o cotovelo machucado de verdade”, lembra. “O clima nos bastidores era muito cordial e de muito respeito. E era tudo muito preciso, a gente repetia, nunca se improvisava”, conta confirmando a fama de perfeccionista de Bolaños, criador dos seriados. E claro, tinha muita diversão. “Teve um episódio em que o Chaves enterrava uma moeda e queria que nascesse uma árvore de dinheiro. Ele jogava a terra na minha cara e eu engoli a terra”, lembra rindo.

Um dos momentos mais animados, segundo ele, foi durante as gravações dos episódios em Acapulco, que no Brasil virou Guarujá. “Ficamos todos juntos gravando por dez dias. Os americanos que estavam no hotel não nos conheciam e não entendiam o que estava acontecendo”, diverte-se. “Os programas de Natal também foram bem emocionantes”.

Volta de Chaves

Edgar Vivar fala sobre vários assuntos. Menos sobre um: os desentendimentos entre alguns colegas de elenco, como a longa disputa judicial entre Maria Antonieta de las Nieves (Chiquinha) e Roberto Bolaños, que envolvem os direitos sobre a personagem. A justificativa é que ele se dá bem com todos os ex-colegas e prefere não entrar na briga. “Falo principalmente com o Professor Girafalles (Rubén Aguirre), mando email uma ou duas vezes por semana para a Maria Antonieta e ligo para o Bolaños com certa regularidade”, conta.

Uma possível reunião do elenco vivo do seriado - Roberto Bolaños (Chaves), Florinda Meza (Dona Florinda), Carlos Villagrán (Kiko), Maria Antonieta de las Nieves (Chiquinha), para um episódio especial pode ser o sonho de muitos fãs da série mexicana, mas Edgar não vê possibilidade de um retorno da trupe. “Agora é impossível porque os capítulos têm 25 anos, 30 anos, eu não posso ficar como era naquela época. A peruca do Nhonho tem que ser cada vez maior”, brinca. “É difícil competir com a imagem que o público venera. Eu me sinto jovem ainda, mas não acho possível. Até porque o Jaiminho e o Seu Madruga não estão mais neste mundo”, diz.

Não apenas a idade passou os cabelos diminuíram, mas também os quilos se foram. Mais precisamente, 84 deles - resultado de um procedimento cirúrgico para emagrecer, depois de ter passado por quatro grandes sustos. “Minha saúde agora está muito bem”, afirma.

Vontade de atuar no Brasil

Edgar tem uma relação muito próxima com o Brasil. Costuma dizer que os fãs brasileiros são mais carinhosos que os mexicanos e foi aqui, em São Paulo, que vivenciou um dos momentos mais marcantes de sua vida. “No ano passado quando vim para o Festival da Boa Vizinhança, todos falaram juntos ‘Edgar, eu te amo’, foi muito emocionante”, lembra.

Quando perguntado do que mais sente saudades, ele conta uma história da infância. “Saudade foi a primeira palavra que eu aprendi em português. Eu tinha cinco anos e meu avô escreveu um livro de poemas que chama Saudades. Eu perguntei o que era “saudade” e ele disse que eu ainda era um menino e não entendia, mas que iria entender quando ele não estivesse mais aqui”, lembra. “Tenho saudades dos amigos: do Godinez, do Jaiminho...”.

Para alegria dos fãs brasileiros, uma boa notícia: Edgar tem vontade de trabalhar no Brasil. Não necessariamente em um programa de humor, mas em uma telenovela. Fruto da nova filosofia adotado por ele após os problemas de saúde que vieram com a obesidade. “Estive muito perto de morrer e descobri que a vida tem uma oportunidade a cada dia. A vida é um desafio e você deve tratar de fazer coisas novas. Isso me mostra que estou vivo e faz sair da zona de conforto”, diz. Enquanto isso não vira realidade, o ator aproveita sua passagem pelo país para provar o que mais gosta por aqui. “Comer churrasco de cupim e tomar caipirinha (risos)”.

SERVIÇO:

O show de Edgar Vivar será realizado no próximo domingo, 18, no Carioca Club, em São Paulo. No espetáculo inédito, ele exibirá cenas dos bastidores de Chaves e Chapolin Colorado que fazem parte de seu acervo pessoal, além de cantar as músicas dos seriados acompanhado da banda Ploc Monsters. Gustavo Berriel, dublador dos personagens de Edgar, também estará presente.

Os ingressos são vendidos no site www.ticketbrasil.com.br.

Arquivo Chaves Roberto Bolaños Edgar Vivar Sr. Barriga

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