Glenn Greenwald e David Miranda mostram seu refúgio no Rio de Janeiro

Em meio à floresta urbana que emoldura o Rio de Janeiro, em uma casa com seis quartos e 12 cachorros, mora o jornalista americano Glenn Greenwald (47), responsável pela histórica denúncia sobre o esquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional Americana, NSA. O endereço recluso não é um esconderijo, apesar de ele afirmar que sofre constantes ameaças do seu país. Trata-se apenas do refúgio escolhido para viver com seu companheiro, David Miranda (29), com quem está há nove anos.

Com o apoio dele, o jornalista aprendeu a conciliar a adrenalina da profissão com a calmaria da intimidade que tanto almejou. Quando termina de trabalhar na varanda, onde escreveu o livro Sem Lugar para se Esconder, da Sextante, que vai virar filme e no qual relata o encontro com o ex-prestador de serviço da NSA Edward Snowden (31), Glenn se desconecta do mundo e curte a vida. Além de jogar video game, gosta de tomar banho de cachoeira e assistir a filmes, “exceto os de espionagem”, frisa. “O medo existe, mas sem paranoia”, sentencia ele, que pensa em aumentar a família.

– Quando chegará o bebê?
Glenn – Quando David estiver pronto, em condições de cuidar.
David – Estou em um processo de convencimento que já dura mais de cinco anos.

– David participou do livro?
Glenn – Muito. Conversamos bastante sobre o que eu escrevia. Estamos sempre debatendo.

– Sem brigas, não é?
Glenn – Temos opiniões diferentes. Mas isso ajuda muito.

– O que mudou na sua vida com a chegada do Glenn?
David – O último ano foi uma grande aventura. Tudo o que aconteceu foi eletrizante. Entramos em guerra com o maior império do mundo. Isso fortaleceu ainda mais uma união que já tínhamos.

– Glenn, você dedica o livro aos corajosos. É um deles?
– É mais fácil quando você tem apoio, e David me apoiou muito. Sabemos que vamos ficar ameaçados, que enfrentaremos riscos.

– Snowden virou amigo?
Glenn – Temos uma conexão forte. Nos falamos sempre.

– Como sua família reagiu?
Glenn – Ficam preocupados, moram na Flórida, onde cresci. Mas apoiaram.

– O medo existe, David?
– Meu laptop já sumiu naquela mesa da sala. A luz da casa já foi cortada e a empresa não sabia me informar o que havia acontecido. Já passei a madrugada toda acordado, no escuro, esperando alguém que viria me matar.

– Você se decepcionou com tudo que descobriu?
Glenn – Não, porque já imaginava que seria assim.

– Voltaria a morar nos EUA?
Glenn – Sim. Eu não vou deixar ninguém me expulsar do meu próprio país.