Lajes inclinadas e curvas criam o espaço perfeito para um misto de residência e galeria que valoriza a natureza serrana de Minas Gerais
Uma casa enorme e prática e uma galeria de arte fantástica que respeitasse a todos os critérios de segurança e preservação das peças. Esse era o sonho de consumo de um entusiasta de arte, dono de uma coleção invejável, casado e pai de três crianças entre 7 e 13 anos. Realizar esse desejo foi o desafio do arquiteto mineiro
Humberto Hermeto. O cenário ideal, o condomínio Vale dos Cristais, em Nova Lima, Minas Gerais. E se o nome já era bastante sugestivo, o pôr do sol nas montanhas conseguiu ser ainda mais.
O terreno irregular de 3.160 m2 guiou o projeto dessa casa-galeria. A solução arquitetônica encontrada foi aproveitar os cerca de 10 metros de inclinação vertical para criar três níveis com diferentes usos. No andar mais abaixo, então, fica a galeria com todas as suas especificidades. No nível intermediário estão o mezanino da galeria e a garagem. E, no alto,
no andar "térreo", foi construída a residência propriamente dita, com 500 m2.
"Como eram muitos ambientes - quatro suítes para a família e uma para convidados, sala, cozinha, sauna, lavabo -, não queria uma construção cheia de volumes, como costumamos ver aos montes por aí", explica Humberto. O concreto, portanto, permite essa leitura única e ainda tem uma certa maleabilidade que possibilita a criação de lajes inclinadas e curvas.
"E quando você tira a forma, já está praticamente tudo pronto", diz o arquiteto.
"Gosto muito disso. É bem interessante".
No primeiro andar, para aproveitar a maior parte possível das vistas, todos os cômodos foram distribuídos sob um teto contínuo de 81 metros constituído por dois pórticos, um de cada lado, de concreto armado.
"Esses pórticos, diferentes entre si, são a cara final do projeto", explica o arquiteto. A entrada principal, aliás, é marcada por um vão em um deles. A partir de lá, são delimitadas algumas áreas "fechadas", como a sauna, a cozinha, os banheiros e os quartos, que têm piso de madeira. Toda a área social é "aberta", integrada e sem paredes. O piso, de mármore
travertino, mantém a unidade. O mobiliário - moderno, elegante e estiloso - foi escolhido pelos proprietários.
"Eles são verdadeiramente apaixonados por design", diz Humberto. No living, quando o rosa do céu já não atrai todos os olhares, a atenção se volta para uma cadeira de balanço assinada por Oscar Niemeyer e a obra True Rouge, do artista plástico pernambucano Tunga. As janelas, com esquadrias de alumínio pintado de marrom, podem ser abertas quase que completamente. E, através do vão que se forma, a integração entre o interior e o exterior é total. A varanda, abrigada sob a cobertura estendida, se expande para o deck de madeira, onde algumas espreguiçadeiras convidam ao descanso. E do lado externo, mais um detalhe prova que essa não é uma casa comum.
"Como a região de Nova Lima é mais fria, a piscina precisava ser escura para reter mais o calor", explica Humberto.
"Ficamos em dúvida entre
as pastilhas de vidro pretas ou vermelhas e decidimos por essas últimas". Mas, ele próprio, reconhece que não é qualquer pessoa que topa uma coisa dessas.
"Os donos aceitaram e, como tinham uma escultura geométrica
dessa cor, do Franz Weissmann, que foi posta no jardim, ficou ótimo".
A comunicação entre os andares se dá pelas escadas ou por um elevador com capacidade para até seis pessoas. E quem desce na galeria, encontra um projeto à parte com mais de 230 m2.
"O dono queria que esse espaço
fosse completamente branco", explica o arquiteto. Por isso, as paredes, de alvenaria convencional com tijolos furados, receberam pintura acrílica sobre massa corrida e o piso vinílico, alvíssimo, nem rejunte tem.
"Fizemos
essa escolha porque o mármore branco trinca muito", conta Humberto. Para completar, iluminação diferenciada e controles de umidade e temperatura.
"Como essa é a face oeste, as portas pivotantes vermelhas, com estrutura de aço e revestimento de alumínio, protegem as obras de arte do sol durante a tarde".
Parte do jardim, aliás, fica exatamente em cima da galeria de arte particular.
"Mas não tem problema algum, porque a grama isola termicamente a manta impermeabilizante da laje e aumenta sua vida útil", ensina Humberto. Porque esta casa é assim mesmo. Tudo está integrado. Do lado de fora, por exemplo, banquinhos vermelhos colorem o terraço e, graças a uma janela de guilhotina que sobe inteirinha, se comunicam diretamente com a cozinha. Trata-se, portanto, de um lugar onde a natureza tem tanto destaque quanto móveis, esculturas e quadros. E o erudito e o popular e a exceção e a rotina sentam juntos na sala para apreciar as cores do pôr do sol. | HUMBERTO HERMETO ARQUITETURA 31 3297-9419 (HUMBERTOHERMETO.COM.BR)