A infidelidade está na moda. Em jornais e programas de televisão, em sites da Internet e reality shows não se fala de outra coisa. Aproveito a onda para refletir neste espaço sobre o tema.
Se eu tivesse de resumir em uma frase a razão de as pessoas traírem, diria que elas o fazem porque acreditam que podem. Trair é um ato voluntário. Ninguém é infiel sem saber, nem por acaso. Mas é também um ato “politicamente incorreto”, por isso, em algum momento, a pessoa tem que lidar com a culpa e com a autocrítica por ter feito tal escolha. Para diminuir a gravidade de seu ato e o peso da culpa, trata de encontrar motivos que a justifiquem. Não importa se antes ou depois de ter sido infiel, o fato é que qualquer que seja o motivo, ele é sempre um modo de enganar a si mesmo com a ideia de que não se é tão canalha assim.
Vejamos, por exemplo, as entrevistas dadas recentemente ao jornal Folha de S.Paulo por usuários de sites de infidelidade. Disse um deles: “Minha namorada tem preconceito. Respeito, mas quero conhecer outras pessoas. Eu gosto de variar de parceira sexual. Não acho que isso é traição, não quero outra mulher, mas vejo isso com uma naturalidade que ela não aceita”. O jornalista perguntou: “Ela sabe que você usa o site?” “Não. A função do site é ter privacidade”, afirmou.
Outra usuária se explicou assim: “Esse negócio de fidelidade é pura hipocrisia. A gente sabe que todo mundo trai, a diferença é que uns assumem, outros não. Eu sou do time que assume”. O repórter perguntou também a ela: “Seu namorado sabe que você está cadastrada num site de infidelidade?”. “Se ele souber, nunca mais olha na minha cara”, foi sua resposta. O jornal procurou ainda a vice-presidente de um dos sites para saber se ela trairia o marido usando o próprio serviço. Ela disse: “Eu trairia meu marido pra continuar casada com ele”.
Atendi recentemente a um rapaz que disse ter passado a sentir nojo pelo corpo da esposa depois que ela engordou. Para não ficar sem sexo, ele a traía com uma colega de trabalho. Perguntei se estava satisfeito com essa saída e ele disse que não teve alternativa. Não queria separar-se da esposa e não tinha coragem de magoá-la dizendo-lhe a verdade. “Então, você acredita que entre ser traída e fazer um regime sua esposa prefere ser traída?”, perguntei a ele. “Bom, eu nunca coloquei a questão nesses termos”, ele respondeu.
São exemplos de um raciocínio frequente: não há problema em ser infiel se for para preservar a relação ou o cônjuge. Mas tal modo de pensar peca por deixar o parceiro de fora. Quem trai se dá o direito de escolher a saída que só favorece a si, por isso a esconde do parceiro.
É hipocrisia mantê-lo na ilusão de que não precisa mudar, pois não se é honesto para enfrentar diferenças e queixas existentes, optando por varrê-las pra debaixo do tapete da traição. É egoísmo esconder do companheiro ou da companheira seu eu verdadeiro, suas necessidades, e ser-lhe infiel porque ele ou ela não as satisfaz. É hipócrita e incoerente quem assume o direito de ser infiel, mas não o faz diante do parceiro, pois sabe que vai perdê-lo.
Se alguém acredita que tem boas e justas razões para trair deve expô-las e discuti-las com o cônjuge de modo a que ele possa também fazer escolhas. O “casamento aberto” dos anos 1970 propunha essa transparência, mas não deu certo. Num próximo texto, vamos ver por quê.
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