É possível, sim, conservar o desejo sexual em relações de muitos anos

Redação Publicado em 06/03/2012, às 11h11 - Atualizado às 11h19

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Passada a paixão, segue-se, na melhor das hipóteses, o amor. E, se o casal permanece junto, com o tempo o desejo tende a decrescer e os encontros amorosossexuais a rarear. Os parceiros sentem-se então frustrados, amputados de uma parte essencial de sua vida. A repressão, a vergonha, a disputa pelo poder muitas vezes tornam difícil a reaproximação. Por isso, o ideal é tomar providências antes que o casal se afaste totalmente.

O desejo sexual, inicialmente movido  pela paixão, pode vir a ser motivado pela ternura. Uma ternura que, se no início do relacionamento é um botão incipiente, poderá crescer com o companheirismo, os cuidados mútuos, a cumplicidade, a compreensão, a capacidade de perdoar e de não guardar ressentimentos. Paradoxalmente, essa ternura dessexualizada é também marcada por um potencial erótico que pode facilmente se realizar.

Mas esse não é o único caminho. Ou é um caminho que pode ser complementado por uma espécie de jogo de sedução. Aqui também temos uma situação paradoxal. O psicanalista inglês Donald W. Winnicott (1896-1971) fala da criança que se esconde, mas quer ser encontrada. Similarmente o parceiro sexual que resiste quer ter a resistência vencida. A resistência apimenta a relação, elevando o grau de desejo. Existe porém o risco de emergir um sentimento de rejeição, pois todos passamos, enquanto bebês, por vivências de abandono que nos marcaram com uma susceptibilidade — maior ou menor — a esse sentimento. A aproximação sexual é uma das formas de exorcizar os profundos e inconscientes sentimentos de rejeição e é em grande parte por aí que o jogo de negaça exerce sua ação picante.

Outra maneira de animar a vida sexual do casal é a manutenção de um clima erótico no dia a dia. Além das manifestações de carinho dessexualizado, o casal poderá, certamente vencendo resistências ancestrais, manter a sexualidade presente através de palavras, gestos, carícias fugazes; esse comportamento ajuda a manter o desejo sexual em fogo baixo, sempre pronto a se tornar incêndio.

Conversas francas sobre as sensibilidades erógenas do casal também ajudam a intensificar atividade sexual e a adicionar prazer a ela. É preciso levar em conta que muitas pessoas em nossa cultura professam um sentimento —  inconsciente ou consciente — de que a sexualidade é algo sujo, indigno, depravado; por isso, necessitam de entrar num estado de espírito abjeto, para entrar no clima do sexo, o que conseguem tornando pornográfica a sexualidade. Ao sair de um plano de pureza para um plano pecaminoso essas pessoas podem, dissociadamente, expressar a sua sexualidade. Esta é uma situação que para alguns casais pode perdurar sem criar maiores problemas. Se no entanto ela se tornar perturbadora, será preciso fazer desaparecer a dissociação, integrando a sexualidade à vida de tal maneira que ela possa ser sentida como imaculada, feita da mesma substância que o carinho, por exemplo. Nesses casos, carinho terno e carícia sexual teriam a mesma legitimidade e gozariam do mesmo status.

Estas são algumas das aproximações que podem ajudar a conservar o desejo sexual após muito tempo de convivência. Há outras, com certeza, e cada casal poderá encontrar a sua — desde que haja disposição para isso.

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