Uma das protagonistas de 'Sexo e as Negas', ex-Rouge Karin Hils fala sobre a polêmica envolvendo o seriado antes mesmo da estreia: "Não sinto a minha identidade como mulher corrompida"
Uma das estrelas do seriado Sexo e as Negas, que estreia nesta terça-feira, 16, na Globo, Karin Hils falou em entrevista exclusiva à CARAS Digital sobre a camareira Zulma, sua personagem na trama. A atriz de 35 anos, que fez parte do extinto conjunto musical Rouge, também comentou a polêmica causada pelo nome da série, que levou a Globo a ser autuada pela Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
"Achei uma besteira enorme. Essa polêmica, sim, é um preconceito no sentido mais estrito da palavra, já que quem a criou nem sabe do que trata a série, nem viu ainda", afirmou.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
- Como surgiu o convite para atuar em Sexo e as Negas?
Na verdade não foi um convite, porque vi o projeto nascer. Há uns 3 anos, estava trabalhando com o Miguel Falabella em Aquele Beijo e aí fomos a uma festa, uma feijoada na cidade Alta de Cordovil [subúrbio carioca]. E lá, nesse passeio, ele teve a ideia do programa, que foi amadurecendo. Como eu estava lá desde o início, ele quis aproveitar o fato de eu ser cantora e ter uma parte musical. Por isso, chamou mais três atrizes que cantam para o projeto.
- A Zulma, sua personagem, é uma camareira. Se inspirou em alguém?
Na verdade, a Zulma é inspirada na camareira do Miguel, que chama Antonieta. É uma senhora que já trabalha com ele há muitos anos e é moradora da Cidade Alta. Só que além dela, claro, busquei elementos em outras pessoas que eu conheço, não foi só nela. O que acho que a Antonieta e a Zulma têm em comum é que são mulheres de muita fibra. Ela é uma mulher absolutamente para cima e feliz, muito positiva, com ela não tem derrota, sempre tira um proveito das situações ruins.
-- Sua personagem tem muitas cenas sensuais. Isso te incomodou de alguma maneira?
Desde o início sabia que o seriado teria cenas assim. Sou atriz e sei que essas cenas acontecem. Tive uma direção excelente da Cininha de Paula e um parceiro super respeitoso, que é o Rafael Zulu. Foi tudo muito tranquilo, sou muito disponível. Se tem que fazer, eu chego e faço. Mas confesso que quando voltei pra casa, eu chorei. É muita entrega, é uma exposição, e quando você chega em casa, é só você. Mas também chorei de felicidade, pela entrega que tive. E espero que as pessoas gostem, porque tive que perder peso para a personagem, me esforcei (risos).
- Perder peso foi uma ideia sua ou uma imposição para o papel?
Foi uma coisa minha. Quis perder e perdi 7 quilos, e talvez queira mais. Fiz dieta, tive acompanhamento médico, e muita malhação. Contratei um personal e malho 4 ou 5 vezes por semana, mas não gosto de malhar. Tenho uma estrutura grande e na TV pareço gorda. Tomei consciência que, para ser protagonista na TV, preciso estar muito magra e abrir mão de alguns prazeres por um tempo. Mas é bom. Quando eu entro num figurino 38, compensa.
- O que achou das críticas e denúncias de racismo que o seriado vem recebendo?
Achei a polêmica maravilhosa! No início fiquei chateada. Não acompanhei muito, porque estou em uma correria tremenda por causa do ritmo de gravações. Mas chegou um momento em que tive que parar para ver o que estava acontecendo. Tenho certeza que por causa dessa polêmica o Ibope vai ser maravilhoso. Mas achei uma besteira enorme. Essa polêmica, sim, é um preconceito no sentido mais estrito da palavra, já que quem a criou nem sabe do que trata a série, nem viu ainda.
Em nenhum momento o nome te incomodou?
Claro que não! Não vi tanto peso nesse nome, achei hiperdivertido, não sinto a minha identidade como mulher corrompida com esse título. Isso é dramaturgia, quero que as pessoas vejam, porque diferente do que estão pensando, o seriado também trata de questões sociais, mas com o olhar do Miguel, que é leve. São mulheres que apesar das dificuldades são positivas, bonitas, se vestem da melhor maneira que podem, prezam pela família. Mulher é mulher seja negra, rica, branca, ou pobre. Não tem nada de racismo e olha que de racismo eu entendo.
Já se sentiu discriminada?
Claro que já me senti discriminada. No Brasil, isso está enraizado, grande parte da população é negra, mas o Brasil não se vê negro. Eu já sofri muito preconceito. No início da minha carreira, ainda quando fazia parte do grupo Rouge, que era direcionado para o público infantil, virei até boneca, e quando fui ver minha boneca era quase branca. Eu fiquei muito sentida, muito dolorida com aquilo. As crianças negras e mulatas tinham um lugar dentro daquele grupo, elas se sentiam representadas, diferente da minha época, quando eu queria ser Paquita, mas não me via nelas. Eu fiquei muito chateada quando vi a boneca que não era nada igual a mim, e lutei para que houvesse uma mudança, mas não foi como eu queria. Já fui discriminada em hotel de luxo no Rio de Janeiro, quando estava fazendo Pé na Cova, em várias ocasiões. Eu sei o que é preconceito.