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Alexandra Loras: francesa com alma de brasileira

Alexandra Loras, ex-consulesa, se engaja em questões raciais

Ana Paula de Andrade Publicado em 07/07/2017, às 08h03

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Alexandra Loras - Rogério Pallatta
Alexandra Loras - Rogério Pallatta

Em tempos de discussão sobre igualdade racial e de gênero, a francesa Alexandra Loras (40) é uma figura inspiradora. Jornalista e ex-apresentadora de TV, mora no Brasil desde 2012 por causa do trabalho do marido, Damien Loras (47), que foi cônsul- geral da França no País durante quatro anos. Aqui, além de organizar jantares e o famoso Bailinho da Bastille — na data comemorativa francesa, no dia 14 de julho —, a então consulesa passou a se engajar em projetos como o Meias do Bem, que doa cobertores feitos de meias para a população carente, e a dar palestras sobre empoderamento feminino, tema que a levou à renomada plataforma digital TED.

A ex-consulesa também presta consultoria com a finalidade de incluir profissionais negros no mundo corporativo. “Poucos sabem, mas São Paulo é a cidade mais negra do mundo. Vi uma demanda enorme nas empresas em falar sobre diversidade”, diz. Seu trabalho ganhou repercussão e, quando se deu conta, já tinha sido entrevistada por Jô Soares (79), Pedro Bial (59) e Regina Casé (63).

A missão consular de Damien chegou ao fim no ano passado, mas o casal resolveu ficar em São Paulo. “O Brasil me deu carinho e respeito. Surgiu a oportunidade de ir morar no Canadá e nos EUA, mas preferimos ficar aqui. O chamado do Brasil foi mais forte”, afirma ela, que acaba de lançar o livro Gênios da Humanidade, em parceria com o historiador Car los Eduardo Di as Machado, on de estão reunidos nomes das ciências que têm em comum a origem africana. “Infelizmente, os inventores negros não são divulgados. Nossa narrativa é totalmente voltada para o homem branco e isso precisa mudar”, frisa.

Hoje, Alexandra, Damien e o filho, Raphael (5), moram em uma charmosa casa de 400m², em bairro nobre de São Paulo — compraram também um terreno em Praia do Forte, Bahia, onde o irmão mora. “Aqui em casa só conversamos em francês, mas o Rapha fala português na escola”, conta ela, que apesar do sotaque, também é fluente no idioma. “Eu já tinha uma base de espanhol, mas adquiri vocabulário através das músicas da Adriana Calcanhoto”, diz.

O casal se conheceu em um jantar, na França, quando ela ainda era apresentadora de TV. “O dono do canal onde eu trabalhava era amigo do Damien. Na época, ele era conselheiro do ex-presidente da Fran ça Nicolas Sarkozy, de família tradicional católica e aristocrática. Eu era de um mundo oposto. Apesar da família da minha mãe ter uma parte rica, de industri ais, meu pai era de uma vila na Gâmbia, que não tinha nem eletricidade”, relembra ela, que também lidera projetos ligados ao segmento de luxo, que incluem via gens à capital francesa, Paris, onde os participantes têm aulas de moda e gastronomia com experts.

Incansável, Alexandra já prepara uma nova empreitada: a exposição What If, com obras do designer Henrique Steyer. Os quadros propõem uma reflexão sobre a questão racial, ao retratar personalidades como a rainha Elizabeth II (91) e o piloto Ayrton Senna (1960-1994) com a pele negra.