Em cartaz no Rio de Janeiro, Leona Cavalli interpreta trechos de depoimentos de figuras icônicas como Bibi Ferreira e Marília Pêra no espetáculo Ser Artista
Publicado em 03/04/2024, às 08h00
Leona Cavalli (54) está comemorando o sucesso do espetáculo Ser Artista. Na peça, em cartaz no Teatro dos 4, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, a artista interpreta trechos de depoimentos de figuras icônicas do teatro, da televisão e do cinema como Bibi Ferreira (1922-2019), Eva Wilma (1933-2021), Irene Ravache (79), Marília Pêra (1943-2015), Nicette Bruno (1933-2020), Nathalia Thimberg (94), Rosamaria Murtinho (91), Tônia Carrero (1922-2018) e Zezé Motta (79). Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz fala da responsabilidade de homenagear grandes estrelas brasileiras e revela: "Inspiração vem naturalmente".
A produção é uma livre adaptação de Regiana Antonini e Marcus Montenegro do livro homônimo, escrito por Montenegro e Arnaldo Bloch, que homenageia as grandes e eternas damas da arte. Ao lado do ator Anderson Muller (54) e dirigida por Beth Goulart (63), a atriz fala, principalmente, sobre o etarismo, um dos temas do espetáculo e ensina às novas gerações a importância que as estrelas tiveram, tanto na área artística quanto no pioneirismo brasileiro na luta pelo feminismo.
"Um dia fui visitar o Marcus (Montenegro), que também é meu empresário, e ele disse que queria me mostrar a peça, que estava transformando o Ser Artista livro em peça, e queria que eu lesse um trechinho. Quando comecei a ler, não paramos mais. Li inteiro e, quando terminamos, estávamos aos prantos, os dois. Então, foi muito emocionante. E ele falou: 'Você vai fazer e eu vou levar para o palco'. Mas isso passou um tempão, nos encontramos coincidentemente em Portugal e lá a gente fez outra leitura, quando ele realmente me convidou oficialmente. Depois, fizemos uma leitura já na casa da Beth Goulart, com ela dirigindo. Aí, a gente firmou que eu realmente faria", relembra Leona.
A artista revela como conseguiu dar o tom às personalidades do espetáculo. "Parti, primeiramente, do nosso amor em comum, que é o teatro, a arte. Então, a minha homenagem é sempre a partir da atriz. Então, digo que a minha personagem mesmo é a atriz. A partir disso, a inspiração de cada uma vem naturalmente. Fui dirigida pela Bibi (Ferreira), tive a honra de acompanhar os ensaios da última peça da Bibi e da Marília (Pêra), que elas estavam ensaiando - A Bibi dirigindo a Marília e que não chegou, infelizmente, a estrear. Acompanhei porque estava fazendo um documentário de ambas. Então vivi ali, aquele momento nos bastidores com elas. Já fiz novela com a Nicette, com a Eva Wilma, com a Marília... Um pouquinho de cada, de certa forma, tive um contato com elas", conta.
Leona também fala sobre o retorno positivo que teve das atrizes homenageadas, como Irene Ravache. "Para a minha emoção e honra, a Nathalia Thimberg veio na estreia e a Rosamaria Murtinho também. Elas adoraram. A Irene Ravache acompanhou logo a segunda leitura que a gente fez, e ela foi, inclusive, nos ensaios. A Irene também é madrinha do espetáculo porque esteve conosco. Então, é um espetáculo que traz muita emoção, mas em nenhum momento quis imitá-las. É uma homenagem a partir dessa inspiração, e acho que essa é a forma como posso fazer, claro, e o que o público sente", diz.
Questionada sobre como consegue jogar sozinha com tantas personalidades quando está no palco, ela ressalta: "No começo do espetáculo tem a coisa dos atores. Então, de fato, tem a atriz fazendo, mas quando começo, são elas. Só que ao mesmo tempo, fica realmente esse jogo. E para mim é realmente o mais interessante jogar com isso, e partir dessa grande homenagem: que é homenageando outras atrizes, grandes atrizes, as atrizes matrizes da nossa arte, do nosso ofício. É muita responsabilidade".
ETARISMO COMO TEMA PRINCIPAL
Em entrevista ao podcast Ser Artista, na última segunda-feira, 1º, Leona Cavalli falou principalmente sobre o etarismo, um dos temas do espetáculo; um último grito do autor Marcus Montenegro para viabilizar a volta dos grandes atores veteranos à TV.
“O etarismo sempre existiu só que ninguém falava. Antigamente não se falava em etarismo, porque não tinha uma geração anterior as grandes atrizes que hoje são veteranas. A nossa contribuição, hoje em dia, é falar que trazer isso à tona. Só de estarmos falando sobre isso é um avanço. É importante pedir, questionar, perguntar para quem pode dar espaços aos grandes veteranos. Temos esse poder, principalmente, com as redes sociais. É importante que os autores voltem a escrever para esses grandes atores”, salienta a artista.
“O mais interessante nos dias de hoje, é ver a diversidade em tudo. Os jovens, veteranos, os pretos... É importante ter todos os tipos e dar oportunidade, isso é vida. O mais importante é você saber alimentar o amor pelo ser humano sem preconceito. Observar as pessoas é a grande matéria-prima. Gerenciar o amor pelas pessoas não sendo uma pessoa fechada, abrir a cabeça, procurar assistir filmes, ler, assistir novelas, observar os atores e se encantar com a vida e com os sonhos. Cacilda Becker já dizia que era muito importante ler os clássicos”, emenda.
ELOGIO DA LOUCURA
Em paralelo a este projeto, Leona Cavalli segue em cartaz com a peça Elogio da Loucura, que reestreia em 13 de abril, no teatro J. Safra, em São Paulo. Publicado em 1511, o texto de Roterdã fincou as bases para a reforma Protestante e para a difusão do humanismo, uma vez que criticava a Igreja e dava um novo significado à palavra loucura, considerando-a parte indissociável do ser humano. No palco, a atriz vive a própria loucura, personagem que, assim como na versão literária, denuncia com sarcasmo a hipocrisia e a intolerância presentes na sociedade.
"É um monólogo, que fiz uma curtíssima temporada antes de começar a novela (Terra e Paixão, da TV Globo, onde deu vida a personagem Gladys). Fiz a novela durante um ano e, agora, vou reestrear nos sábados e domingos, a Elogio. E continuo aqui (no Rio) as quartas e quintas-feiras", finaliza.