CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil
Teatro / ENTREVISTA

Dan Rosseto e Viviane Figueiredo refletem sobre humor e liberdade no teatro: 'Ponto de partida'

Em entrevista à CARAS Brasil, Dan Rosseto e Viviane Figueiredo, diretores de 'Passaporte para o Amor', falam sobre levar humor para o teatro

Protagonistas e diretores de Passaporte para o Amor - Divulgação/Rafa Marques
Protagonistas e diretores de Passaporte para o Amor - Divulgação/Rafa Marques

Em cartaz até o dia 21 de março em São Paulo, a comédia romântica Passaporte para o Amor acumula passagens bem sucedidas pelos palcos da capital paulista e tem conquistado o público com um enredo que mescla romance, drama e humor. Em entrevista à CARAS Brasil, o autor e diretor do espetáculo, Dan Rosseto (45), que divide a direção com Viviane Figueiredo (41), fala sobre o processo criativo para dar vida à história. Juntos, eles refletem sobre humor e liberdade no teatro: "Ponto de partida", declaram.

Comédia romântica no teatro

A peça marca a primeira incursão de Dan no gênero da comédia romântica, após uma trajetória consolidada como dramaturgo. Segundo ele, a motivação para explorar esse novo terreno veio da própria concepção da história. "A história já nasceu pronta na minha cabeça. O arco principal da peça é o encontro de dois desconhecidos no saguão de um aeroporto, e quando se dão conta que estão fechados ali, precisam se conhecer melhor", explica.

Na trama, os personagens vividos por Marjorie Gerardi (35) e Stephano Matolla (41), inicialmente, se estranham, mas aos poucos criam uma relação de amizade que pode evoluir para um romance. "Mesmo a estrutura do texto seguir rigorosamente as regras da comédia romântica, há espaço para o drama. Num determinado momento, as personagens abrem espaço para revelações profundas e acredite, ouço soluços e choro na plateia. Sem spoiler, mas é surpreendente", destaca Dan, garantindo que a peça entrega mais do que apenas o riso.

Viviane Figueiredo, que divide a direção do espetáculo, lembra como a parceria entre os dois facilitou o processo criativo. "Trabalhar com o Dan é maravilhoso! Como autor, o Dan já tinha uma visão clara sobre a direção da peça e quando a gente conversou foi muito fácil visualizar e alinhar nossas ideias, foi como se as peças do quebra-cabeça tivessem se encaixado bem rápido. Juntos fomos moldando a peça na estética e na linguagem que queríamos", conta.

Ela destaca que trabalhar com um texto inédito trouxe um frescor especial para a direção. "É legal trabalhar em um texto inédito e sentir aquele frescor de criar tudo do zero, como um pintor com uma tela em branco. Explorar novas ideias e dar “asas à imaginação” é uma delícia.  E o melhor de tudo é poder ver a reação genuína da plateia se conectando com a história original".

Diálogos e química

Passado inteiramente dentro de um único cenário, a peça depende fortemente da interação entre os protagonistas. Para Dan, esse foi um dos grandes desafios durante o processo de escrita. "Eu tinha uma boa história, mas precisava que ela chegasse diretamente em cada espectador. Que fizesse sorrir através da identificação das situações, criar nostalgia com as histórias dos personagens e provocar o golpe fatal nos minutos finais da peça", afirma.

A ambientação restrita também influenciou as escolhas na direção. Viviane explica que a decisão foi utilizar o espaço fechado de forma dinâmica: "O espaço traz uma energia única, cheia de movimento e expectativa. Nesse tipo de configuração a intimidade com o público pode deixar tudo mais emocionante! Isso nos fez optar por uma direção mais dinâmica entre os atores e deles com o público. A gente se preocupou em aproveitar bem o espaço através de alguns códigos, que criamos para gerar atmosferas que pudessem transmitir sensações com o desenrolar da história".

Segundo ela, a iluminação foi um elemento essencial para destacar momentos cruciais do enredo. "Os atores foram incentivados a manter a energia alta, aproveitando as transições rápidas, assim como acontece num aeroporto cheio de chegadas e partidas. Buscamos trazer elementos na direção para que as pessoas pudessem se identificar com as personagens, como se elas estivessem nessa viagem, de forma a imergir na situação e se lembrar do que é importante numa relação e da urgência da reconquista diária dentro dela", completa.

Humor como ferramenta essencial

Para Dan, o riso sempre esteve presente em sua trajetória como dramaturgo. " O riso é nosso maior aliado, sem ele a gente desmorona. É importante rir até nos momentos difíceis. Eu comecei a minha carreira como dramaturgo há pouco mais de 13 anos, e no início eu buscava nas minhas sombras, nas minhas dores os elementos para criar as personagens e suas histórias. E mesmo diante das tragédias todas, o humor sempre esteve lá", reflete.

Ele conta que, ao longo dos anos, percebeu que o humor sempre foi seu ponto de partida na construção das histórias: "Equilibrar essa tríade: humor, romance e drama; foi um desafio e tanto, porque eu não queria cair numa comédia romântica insossa, boba, banal. Era preciso criar uma montanha russa de emoções e alternar o tempo todo essas três sensações para o público se manter interessado na história".

"A comédia romântica tem uma régua, uma fórmula muito simples e objetiva; e foi nela que me guiei para construir a trama: a história de amor é a principal, o humor é um recurso para entreter o público, um casal improvável se conhece por acaso e se rejeitam, eles vão se tornando amigos, o casal precisa ser carismático, eles desenvolvem um interesse amoroso, há uma dose de tensão e conflito misturado situações engraçadas, quase no final eles se separam, mas o final é sempre feliz", conta ele, evidenciando sua inspiração no cinema das décadas de 1980 e 1990.

Adaptação para as telas

A peça tem uma premissa digna das telonas e, segundo Dan, uma adaptação para o cinema já passou por sua cabeça. "Bom, penso sim, não vou mentir. Eu tenho formação em Comunicação e Cinema, então a minha escrita é um híbrido entre cinema e teatro. Depois da série “As Aventuras de José & Durval” (Globoplay/Globo), eu trabalhei com sitcom, mas não foi uma experiência agradável", revela.

Ele também aponta a falta de boas comédias românticas no cinema brasileiro atual como um motivo para considerar essa transição. "A impressão que eu tenho, é que a gente mostra quase sempre a pior face do humor, com situações esdrúxulas, pouco convincentes, ridículas e elegantes, por assim dizer. Precisamos abrir espaço para novas narrativas na comédia, o público merece ser bem servido", critica.

Dando asas à criatividade, Dan não teme mergulhar em cenários inusitados em seus textos: o autor já explorou ambientes como um fast food, um ringue de boxe e uma pista de patinação. Se tivesse que criar um cenário inédito, ele apostaria em uma loja de discos antiga.

"O dono recebe uma proposta de compra do imóvel por uma construtora, ele não quer vender para não se desfazer do espaço e das memórias criadas ali. Ele tem uma filha que se apaixona por um dos rapazes que frequenta, colecionador de discos e que vem toda semana comprar um disco novo, com a desculpa de aumentar a sua coleção, mas na verdade ele tenta conquistar a jovem usando as canções do disco que ele compra", imagina. O título? Amores, Dores & Discos de Vinil. "Ah, seria uma comédia romântica musical. Sei lá, parece inspirador", conclui.

Últimas apresentações

Após temporada de sucesso no Teatro Arthur Azevedo, que será finalizada no próximo domingo, 23, Passaporte para o Amor fará três apresentações no mês de março no Teatro Itália, com reestreia marcada para o dia 7.

A peça é protagonizada por Marjorie Gerardi e Stephano Matolla, tem participação de Regiane Alves (46), texto de Dan Rosseto e direção compartilhada entre ele e Viviane Figueiredo.

Leia também: Rebeca Carvalho sobre desejo de viver da arte: ‘Não é comum no Brasil, isso é o mais triste’