Protagonista da novela Vai na Fé, Samuel de Assis enaltece representatividade e foge de padrões
Com vinte anos de carreira e trabalhos de destaque no currículo, como as séries 3%, da Netflix, além de Rensga Hits!, do Globoplay, o ator Samuel de Assis (40) já se sentia realizado em sua profissão, mas o Benjamin da trama global das 7, Vai na Fé, veio para sacramentar essa trajetória. Vivendo o primeiro protagonista em novelas, o sergipano celebra a conquista por representatividade na TV e se orgulha de ser apontado como um dos galãs da nova geração. “O galã de hoje é o homem que está aprendendo a lidar com as suas emoções”, afirma ele, durante bate–papo exclusivo com CARAS, no Ilha Itanhangá, no Rio.
– O que sentiu quando soube que daria vida ao Ben?
– Foi um processo muito doido, porque demorou uns dias. Eu tinha outras séries para fazer, tinha contratos no meu e-mail para enviar a assinatura e estava esperando sair a resposta da novela. Até que saiu. Eu fiquei felicíssimo, me senti realizado. Tenho a sensação de que eu trabalhei esses 20 anos para eclodir nesse momento. Acho que me preparei uma vida inteira para assumir esse lugar, que é muito difícil e importante.
– E que representa muito, né?
– Representa muito, não só para mim, mas para muita gente que vem atrás, que vem na sequência, que vem comigo. Eu sou o resultado de uma luta de muita gente e sou uma luta de muita gente que está vindo. Então, é de uma importância sem tamanho.
– Você achou que sua hora nunca chegaria, que nunca faria um protagonista?
– A minha hora chegou no dia 5 de maio de 1982, quando nasci. A partir de lá, construí uma belíssima carreira. Fazer um protagonista, óbvio, é gratificante, é de um reconhecimento muito maior, porque atinge todas as camadas brasileiras e do mundo. O Ben é um grande personagem, em uma novela maravilhosa. Mas minha realização já havia acontecido.
– Quando aconteceu?
– Para quem saiu de casa aos 17 anos, ter a carreira que tenho aos 40, independentemente do Ben, é de uma realização absoluta.
– O Ben quebra estereótipos antigos, já que ele é um advogado bem sucedido. Qual é a importância de mostrar isso na TV?
– Essa novela tem uma sucessão de revoluções que são importantíssimas. A gente demorou muito tempo para ver personagens negros que não fossem marginalizados. Vai Na Fé é a primeira novela com 70% do elenco negro, que não é uma novela de escravo, que os protagonistas pretos não são personagens marginalizados. É um advogado rico, uma vendedora de quentinha, uma estudante. São pessoas normais, como a gente sempre quis ser representado, como a gente é de verdade.
– Você tem sido muito elogiado também pela sua beleza. Como lida com sua imagem?
– Eu nunca me achei um cara bonito, mas acho que isso também vem dessa falta de representatividade que nós, pessoas pretas, temos de não nos vermos em lugar nenhum. Então, é muito natural que pessoas como nós cresçamos sem nos acharmos bonitos, porque a nossa cultura, o nosso País, fica o dia inteiro botando na nossa cara que ser bonito é ser outra coisa. É ser heterossexual, é ser branco, magro e sem sotaque nordestino. E eu era um preto que vinha do Nordeste. Culturalmente eu fui educado para não me achar bonito mesmo. Então, foi toda uma construção. Haja terapia para a gente aprender a se olhar e se achar uma pessoa bonita.
– Você é visto como um dos galãs da nova geração. Como lida com esse título?
– Eu acho o máximo! Acho legal ser visto como um galã dessa geração, que é superdiferenciada, é um outro tipo de galã. O que acho mais legal: o galã de hoje em dia não é aquele viril, branco e que não chora. O galã de hoje em dia é o homem de verdade, é o homem que está aprendendo a lidar com as suas emoções. E acho que por isso o Benjamin faz tanto sucesso, por isso que ele é um cara tão próximo das pessoas, que o público admira tanto. Porque é isso, ele é um cara que lida com as suas emoções, bem ou mal, ele está ali testando elas o tempo inteiro. Porque a gente, quando nasce homem, a gente é educado a não lidar com as emoções, a gente tem que suprir todas esses emoções. É o famoso ‘homem não chora’. Por isso, acho que ser esse tipo de galã me interessa muito mais e acho muito mais legal.
FOTOS: CADU PILOTTO; SAMUEL VESTE: 5STAR BRAND; AGRADECIMENTOS: ILHA ITANHNAGÁ
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