Cada um tem um jeito de lidar com ressentimentos e discussões. O ideal é respeitar os limites do outro, apontar soluções para os problemas e permitir que se estabeleça o melhor para ambas as partes. Mas, entre o ideal e o real, existem variações. Há, por exemplo, aqueles que, em vez de resolver os problemas, aumentam-nos. Não se conformam em conviver em desalinho com o parceiro e ficam à espera de que ele converse logo sobre o assunto e queira resolvê-lo. Pessoas desse grupo «suspendem» a vida enquanto houver uma pendência com o cônjuge e, mesmo que as emoções estejam nublando seu raciocínio, preferem enfrentar a situação na hora.
Se uma pessoa deste grupo envolve-se com outra que tem essa mesma atitude, o risco de haver conflitos é menor; contudo, pode ser que o outro resista em discutir um problema até que tenha refletido sobre a situação e suas próprias emoções. Nesse caso, em vez de encontrar saídas para a crise, aumenta-se o risco de piorá-la. Uma amiga defende a ideia de que nunca se deve dormir com problemas de casal por resolver. O marido — contido e reflexivo — retruca que enquanto não tiver processado suas emoções nada de bom sai de sua boca. Resultado: ela não suporta conviver com o problema nem com as agressões do marido quando ele se vê obrigado a falar.
Algumas pessoas precisam de tempo para raciocinar, dar significado a sentimentos, organizar o pensamento e encontrar uma posição equilibrada antes de debater diferenças com o cônjuge. Enquanto isso, permanecem silenciosas e reservadas, dando a impressão de que estão ressentidas ou «de mal». Embora não seja assim, também não é certo que estejam «de bem». Ficam por um tempo a meio caminho. Para aquele que quer enfrentar logo o desentendimento e que elabora rapidamente as emoções, essa indefinição silenciosa do parceiro gera ansiedade e angústia. As piores fantasias rondam sua cabeça e o desejo intenso de controlar a situação leva-o a pressionar o outro a falar sobre o assunto. Isso costuma ser irritante e, como ocorre com o marido de minha amiga, aumenta o perigo de haver reações indesejáveis.
Outra diferença é o modo como cada um sai da crise. Existem os que, uma vez superada a rusga, agem como se ela nunca houvesse existido. Podem até achar natural fazer sexo logo após uma briga como prova de que tudo voltou ao normal. Por outro lado, existem os que precisam de tempo para se livrar dos ressentimentos e voltar a agir naturalmente. Para estes, qualquer entrega depois de uma briga é impensável, principalmente a sexual. Costumam dizer que não são dotados de uma “chave liga/desliga” para fazer desaparecer imediatamente os sentimentos negativos.
Portanto, é necessário que os casais conheçam e respeitem o modo como cada um reage e processa desentendimentos. Os impacientes podem aprender com os contidos a moderar a ansiedade e conviver algum tempo com os problemas, o que vai ajudá-los a refletir sobre alternativas e tomar decisões ponderadas. Os contidos podem aprender com os impacientes a ousar e reagir de forma mais espontânea. Os dois comportamentos têm pontos positivos e negativos e, como sempre, a melhor opção é o equilíbrio.