Em conversa com a CARAS, Nany People fala de sua biografia aos 60 anos e desabafa sobre etarismo, carreira e superação como mulher trans
Nany People não só vive sua melhor fase como faz questão de escancarar isso com estilo, coragem e muito bom humor. Prestes a completar 60 anos, a atriz, comediante e apresentadora celebra a chegada de mais um marco com o lançamento da sua biografia 'Ser Mulher Não É Para Qualquer Um', um mergulho profundo e inspirador na trajetória de quem desafiou o tempo, os rótulos e os preconceitos para ocupar seu espaço.
Em entrevista exclusiva à CARAS, a artista foi direta ao comentar a pressão estética e os julgamentos impostos pela idade: "Não tive essa tal crise dos 60. Nem dos 50. Isso nunca me pegou. Em um país onde se fala tanto sobre etarismo, é contraditório ver o quanto se cultua a juventude enquanto a população está envelhecendo", dispara.
Com 50 anos de carreira, ela desabafa sobre como encara as críticas gratuitas que escuta ao longo da vida e por que escreveu seu livro: "Quis mostrar que a forma como as pessoas te veem não define quem você é. Muitas vezes, há uma tentativa de minimizar a sua história. As pessoas desprezam seu currículo, suas conquistas, como se não tivessem valor", afirma.
Para explicar melhor, Nany compara os julgamentos ao processo de reforma de uma casa: "É como quando você faz uma reforma em casa. Só você sabe o quanto gastou, o quanto se dedicou, o quanto empreendeu. Aí chega alguém, sem saber de nada, e diz: 'Ah, por que não colocou a escada do outro lado?' Ué, porque você não pagou um saco de cimento, meu amor. Só por isso", diz, com sua tradicional irreverência.
Sem papas na língua, ela reforça que seu caminho foi construído com força, propósito e uma dose generosa de autoconhecimento:
"Aprendi a lidar com esse tipo de julgamento como uma forma de preservar minha saúde mental. Não me deixo levar pelas críticas automáticas que dizem o que 'não fica bem para sua idade', 'não fica bem para o seu gênero', 'não fica bem para você'".
E completa com franqueza: "Se eu tivesse ouvido tudo isso, teria desistido lá atrás. Estaria até hoje usando kichute, tomando rivotril. Mas estou aqui, lançando outro livro, feliz, viajando o mundo. Já fiz quatro turnês internacionais. Passei por Dublin, Braga, Porto, Lisboa, Paris…"
Mesmo com tantas conquistas, Nany faz questão de pontuar a desigualdade enfrentada por outras mulheres trans no país: "E tudo isso sem fazer a tal 'ponte para o além'. Agora a vida está fluindo. Mas é importante dizer: sou uma exceção à regra. A expectativa de vida de uma mulher trans no Brasil é de apenas 35 anos".
Ela credita grande parte da sua força à base familiar: "Cheguei até aqui graças a Deus e à minha mãe, que foi muito à frente do seu tempo. Ela me apoiou, me protegeu, me blindou, me incentivou para a vida".
Hoje, aos 60 anos, ela celebra mais do que uma nova década: "Estou completando 60 anos e vivendo do que sempre desejei viver. Não me perdi no meu percurso, vim para cá [São Paulo] para ser artista, para ser atriz e virei dona do instituto de beleza, motorista. Não, eu vi ser atriz e sou atriz. Estou há 50 anos em cima do palco e me dedicando a isso", afirma com orgulho.
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