Nos palcos com seu primeiro monólogo, O Figurante, o ator Mateus Solano joga luz sobre o tema invisibilidade, em entrevista à Revista CARAS
Sair da zona de conforto sempre foi uma máxima para Mateus Solano (43). Nos palcos com seu primeiro monólogo, O Figurante, o ator joga luz sobre o tema invisibilidade e o quanto nós nos transformamos em personagens de nós mesmos na sociedade. Livre de máscaras, o artista recebeu CARAS em casa para falar sobre a fase de desafios pessoais e profissionais. “Não é nem me reinventar, mas me reencontrar”, define o artista.
– Como é fazer um monólogo?
– São muitas sensações. Esse processo foi uma montanha-russa de altos e baixos, de muita angústia, ansiedade, mas também muitas alegrias. Estou levando para a cena questões minhas, coisas que eu não sabia se iriam ter eco nas pessoas. Estou muito feliz de ter o retorno do público nesse sentido, de ser uma peça que diverte, mas que também tem a sua profundidade, traz questões que são importantes
para todo mundo.
– Como é estar só no palco?
– Desde o início, fiquei com medo da tal da solidão, mas me sinto muito bem acompanhado. Tanto antes e depois da peça quanto durante, porque tem uma operadora de luz, de som, junto comigo. Em
cena não sou eu sozinho, é um texto que foi criado a partir de mim, mas com a maestria da Isabel Teixeira e com o toque do Miguel Thiré, então me sinto bem acompanhado, apesar de ser um trabalho solitário. E essa solidão também me impede de fugir de mim mesmo.
– É um grande desafio...
– Estou saindo da zona de conforto completamente. Não tenho para onde fugir, durante 1 hora e 10 minutos, sou eu, o público e a comunicação acontecendo. Então, muitos vícios, fraquezas, dificuldades que eu conseguia escamotear, eu não tenho como esconder, preciso enfrentá-las. Tem sido um exercício de superação como ator.
– O texto parte de uma série de questionamentos seus, mas que todo mundo se identifica.
– Sempre me interessou falar sobre o teatro que a gente inventou para viver. A tal da sociedade, com suas religiões. E não é só relacionada a Deus, tem a ver com o mercado também, que é uma religião.
A gente se mata para ter dinheiro, que, no fim das contas, é um papel que a gente inventou trocando por outros papéis... tudo uma invenção com convenções. O teatro está aí para dar uma chacoalhada nisso e fazer a gente lembrar sempre de que tudo é uma coisa inventada, portanto, a gente pode repensar essas coisas enquanto sociedade. É engraçado que o tema da invisibilidade começou a surgir na minha cabeça a partir do momento que eu fiquei famoso.
– Como assim?
– Porque parecia que as pessoas não estavam mais se relacionando comigo, mas com alguma expectativa em cima de um personagem que tinham visto, de alguma coisa que apresentei. É muito doido que, quanto mais famoso, mais eu fui me sentindo invisível enquanto pessoa real. Tem a ver com o personagem, tem a ver com o quanto eu preciso ser para o outro e o quanto sou porque eu sou. Eu escrevi um ‘ser ou não ser’ para a peça em cima dessa ideia de ser você mesmo ou não ser. Acho que a gente anda não sendo muito mais do que sendo. A gente acaba sendo funcionário de uma sociedade, de uma rede social antissocial, dos amigos que a gente quer conquistar, da mãe, do pai, do grupo que a gente quer pertencer, a gente acaba querendo mais parecer do que ser.
– Quando você é mais você?
– Acho que cada vez mais o meu caminho de vida é na direção da autenticidade. Teve algum momento
de todos nós, adolescentes, de querer pertencer a um grupo e aí você vai se moldando, mas, depois,
a gente tem que soltar isso e correr atrás da gente. Tem a ver com a minha idade também, acho que tem um momento em que a gente olha para trás e parece que nada do que eu aprendi serviu para aquilo que eu tenho que enfrentar daqui para frente. A gente se reinventa e, nessa de me reinventar,
tenho me perguntado quem sou eu, o que eu quero, o que não quero, o que queria para o outro me
aceitar, o que não preciso mais. Graças a Deus e ao meu talento, às oportunidades, à minha branquitude, ao meu machismo também, cheguei aonde cheguei e não tenho que provar mais nada.
– Você é bem discreto, né?
– Acho importante separar a vida pessoal do trabalho. A gente pode até expor, de uma forma artística,
a vida pessoal, mas o trabalho precisa ser valorizado! Essa é uma tecla que bato muito, numa era em que a nossa imagem é rifada, parece que ninguém é de ninguém com a nossa imagem.
– As redes sociais são importantes para artistas hoje e você é bem tranquilo com isso...
– Mas é horrível, né? Porque aí eu não consigo monetizar. Acho que a gente está no olho de um furacão. Me sinto defasado também, porque metade das pessoas que têm bilhões de seguidores eu não conheço. Estou dessituado realmente nessa seara toda, mas acho que os empresários também estão, as empresas, as emissoras e produtoras, está todo mundo meio jogando para cima e vendo o que cai.
Creio que, em algum momento, essa poeira vai assentar, espero que isso tenha a ver com a gente largar
um pouco das redes sociais, do celular, no sentido de voltar a viver a vida real, de voltar a se conectar.
– Quando você tomou o protagonismo da sua vida para si?
– Vai rolar ainda. É um processo e fazer essa peça faz parte disso. Um monólogo, sozinho, me expondo
em cena, tem a ver com a coragem de me encontrar.
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