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Revista / ENTREVISTA!

Lucinha Araújo luta pelo amor e mantém viva a arte do filho, Cazuza: 'Ele não vai ser esquecido'

Em entrevista à Revista CARAS, Lucinha Araújo detalha a exposição Cazuza: Exagerado e recorda lembranças especiais do filho

por Fernanda Chaves
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Publicado em 03/07/2025, às 15h00

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Lucinha Araújo - Foto: Selmy Yassuda
Lucinha Araújo - Foto: Selmy Yassuda

Ela é conhecida como mãe de Cazuza (1958-1990) e até já se lançou como cantora, mas a carreira não foi pra frente por conta da vergonha que sentia em divulgar seu trabalho. No entanto, quando o assunto é falar sobre o filho, Lucinha Araújo (88) se mostra a mais eloquente das mulheres. A timidez dá espaço para o orgulho e o amor.

Celebrando os 40 anos do álbum Exagerado e a estreia da exposição Cazuza: Exagerado, no Shopping Leblon, a matriarca abre as portas de seu lar e de seu coração com exclusividade para CARAS. "Eu vivo pra isso, senão já tinha ido também. Ele não vai ser esquecido", sentencia ela, que mantém o legado do artista mais vivo do que nunca.

Apesar de ter cedido muitos itens de seu acervo pessoal para a exposição, Lucinha se emocionou quando visitou o espaço pela primeira vez. "Quase tive um troço", revela a guardiã da memória do poeta. Desenhos e cartinhas provam que desde criança Cazuza já tinha alma de artista.

Leia também: 'Cazuza permanece vivo em nós, através da arte e sua coragem', diz mãe do cantor

"Ele viveu no berço esplêndido da música popular brasileira. Era Caetano [Veloso], [Gilberto] Gil, Os Novos Baianos... Elis Regina pegava ele no colo, mudava a fralda. Ele cresceu nesse ambiente e começou a escrever poesia, mas escondia de mim. Ele jogava no lixo o que não gostava, mas eu guardava tudo. Algumas viraram até músicas."

Depois que a primeira poesia foi musicada e o artista entrou no grupo Barão Vermelho, as escritas que nem a mãe tinha acesso se tornaram canções que atravessam gerações. "Ele queria que a música
fosse conhecida, que tocasse na rádio, mas achava que o sucesso incomodava", fala. Com a fama veio a
superexposição, que não o impediu de ser quem era. "Ele fazia tudo o que queria, mas custava caro."

Filho único, Cazuza foi muito amado e cuidado por ela e pelo produtor musical João Araújo (1935-2013). O pai era firme, a mãe mimava. Até os 15 anos foi um menino exemplar, mas depois "foi para o mundo" e Lucinha só conseguia dormir quando ele chegava em casa.

"Vivi em outra época, sempre fui levada, mas a minha mãe cortava as asas. Mas o Cazuza... não havia pessoa que cortasse as asas dele. Quando vi que não tinha mais jeito, deixei ele voar sozinho", relata a filantropa, que fez tratamento para ter mais filhos, mas não conseguiu. "Vai ver Deus sabia o que eu
ia passar. Tive um só que valeu por muitos!", avalia.

A exposição, que depois irá para São Paulo, detalha momentos importantes da vida do músico. Por meio de um holograma, a mostra reproduz o show O Tempo Não Para, no Canecão, em 1988, que
deu origem ao álbum icônico. Mesmo frágil devido à aids, Cazuza brilhou no palco e, claro, sua fã nº1 estava na plateia.

"Eu não acreditava que ele fosse morrer, então os shows sempre foram um presente para mim. Se eu acreditasse, deitava numa cama e morria antes dele. Cada vez que a gente ia para Boston, achava que ia ter um remédio, como agora tem, né? Mas não foi tão rápido quanto eu queria", lamenta ela, que participou de documentário do Globoplay em parceria com a Conspiração Filmes, que estreia em 1º de dezembro e faz um recorte dos últimos anos de vida do cantor, mostrando como ele conciliava a doença com a carreira. "Já sofri tanto que nada me pega. Não consigo chorar mais. Já chorei minhas lágrimas todas."

Lucinha poderia ser revoltada com a vida, mas transformou o luto em luta. Além de manter o legado do filho vivo, ela ajuda pessoas que enfrentam a mesma doença que ele. "Sou como ele queria que eu fosse, porque logo que ele soube do diagnóstico, ele disse: 'Se eu vier a morrer um dia, você não vai ficar como essas velhas de preto chorando. Quero que você vista a camisa e lute contra a doença'", conta.

"Levei aquilo muito a sério, fiz o que ele pediu. Gasto todo o dinheiro dele nessa doença. Durante 32 anos tive uma casa para crianças com HIV. Só não fiquei mais tempo porque não tinha mais nenhuma criança, graças a Deus! Mas continuo o trabalho com os adultos, dando cestas básicas para os que estão se tratando", relata.

Na vida dela nada foi mediano e as dores a fizeram mais forte. "Foram grandes alegrias e grandes
tristezas. Tive apenas um filho, mas foi um filho tão especial, não tem outro igual no Brasil. Não conheço pessoa mais corajosa que ele. Aprendi mais com ele do que ele comigo", afirma. "Sou menos egoísta, penso muito nos outros e menos em mim. Sou uma pessoa melhor depois do sofrimento", diz.

Seja por meio de fotos, recordações, memórias ou músicas, Cazuza se mantém presente na vida de Lucinha e do público. E, para a alegria de todos, ela anunciou que ainda existem obras inéditas. "Tem umas 15 ou 18 letras que ainda não foram musicadas. O Frejat ficou de musicar. É um projeto para o ano que vem", adianta.

Por ora, podemos curtir as canções na voz dele e as regravações que outros artistas fizeram. "Cada música dele que é gravada por outra pessoa, seja cantando bem ou não, é um renascimento pra mim, é sinal de que ele não morreu."

Foto: Selmy Yassuda
Foto: Selmy Yassuda
Foto: Selmy Yassuda
Foto: Selmy Yassuda
Foto: Selmy Yassuda
Foto: Selmy Yassuda

Leia mais em: Lucinha Araújo quer lançar disco de inéditas de Cazuza na voz de Jão

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