Em entrevista à Revista CARAS, Jacqueline Sato fala sobre retorno às novelas e celebra representatividade amarela na arte
Focada no presente e em si mesma, Jacqueline Sato (36) vive o momento mais pleno de sua vida. De volta às novelas em Volta por Cima, trama das 7, da Globo, a atriz comemora a oportunidade de interpretar a jovem Yuki.
“Novela é algo bem intenso e eu amo fazer. Retomar o ritmo das gravações, conciliando com outros trabalhos como criadora e produtora foi desafiador, mas funcionou muito bem. Já considero isso uma vitória”, entrega ela.
Com diversas camadas e complexidades, a personagem tem sido um desafio prazeroso. “Essa fase da Yuki reencontrando o Gerson e revivendo traumas do passado é um dos maiores desafios, mas também um presentão enquanto atriz”, revela ela.
“A única coisa em comum entre nós é essa característica de ser multitarefa e cheia de ideias. O resto foi um desafio delicioso como atriz”, conta a artista. Na lista das poucas atrizes de ascendência japonesa a se consolidar no audiovisual brasileiro, Jacqueline tem uma visão clara dos avanços e das lacunas que ainda existem na arte.
“Está melhorando e nossa novela é um exemplo. Temos um elenco asiático diverso, com atores de descendência japonesa, chinesa e coreana. Isso nunca foi visto antes na TV brasileira”, celebra ela, que se refere a nomes como os atores Chao Chen (45), Allan Jeon (23), Gabi Yoon (35) e Sharon Cho (25).
Ainda assim, a atriz explica que há um longo caminho a ser percorrido. “Até hoje, só tivemos uma protagonista amarela na TV Globo, que foi a Ana Hikari, em Malhação – Viva a Diferença, de 2017. Queremos e merecemos mais”, dispara ela, que teve uma trajetória marcada por barreiras relacionadas à representatividade.
“No começo, eu cheguei a duvidar se seria possível ser atriz. Não havia referências. A minha primeira grande inspiração foi a Danni Suzuki, em Malhação. Foi um marco que me fez acreditar que era possível”, relembra, ciente dos desafios.
“Já fiquei mais de oito meses sem teste, enquanto colegas da mesma faixa etária faziam testes semanalmente. Cansei de escutar: ‘Ah, mas você não é brasileira’ ou ‘Você não é bem japonesa’. A sensação era que a aparência bloqueava as oportunidades, como se não pudéssemos ser consideradas para interpretar papéis comuns”, conta.
Diante dessa dura realidade, Jacqueline encontrou forças para se reinventar. “Essas barreiras me levaram a agir e a criar meus próprios projetos. Hoje, também sou produtora e criadora de conteúdos que colocam pessoas como eu em posição de protagonismo”, diz a atriz.
No ano passado, por exemplo, ela comandou o Mulheres Asiáticas, no canal E! Entertainment e disponível também no streaming, o primeiro programa brasileiro a trazer representatividade real na frente e atrás das câmeras.
“Foi um lugar de cura e conexão muito profundo, liderado por uma equipe com 100% de mulheres amarelas. Esse projeto abriu muitas portas e me deu confiança para realizar ainda mais”, conta. Com três longas, dois documentários, uma série e um reality em andamento, Jacque segue firme no propósito de criar conteúdos que rompam barreiras artísticas e sociais. “Sou muito feliz com quem já sou, mas há sempre espaço para mais”, avalia ela.
“Profissionalmente, quero protagonizar bons projetos como atriz, criar e produzir outros tantos com histórias que merecem ser contadas e que gerem impacto positivo na sociedade. Tenho também um projeto ligado à sustentabilidade que não vejo a hora de tirar do papel. E, obviamente, alguns que trazem representatividade amarela como merecemos”, adianta.
Aos 36 anos de idade, ela vive sua melhor fase. “Estou mais conectada comigo mesma e mais confiante em todos os sentidos. Tenho muito orgulho da trajetória que me trouxe até aqui. Cada obstáculo foi essencial para o meu crescimento”, reflete a atriz, que descarta crises por conta da idade.
“Fico curiosa para saber como eu verei a vida quando estiver com mais idade ainda. Meu único incômodo é a ideia de que há poucos papéis para mulheres nessa faixa etária, como se já não fôssemos mais mocinhas, mas também jovens demais para sermos mães”, comenta.
A maternidade, aliás, é um dos planos que Jacque possui para o futuro, embora ainda não tenha pressa para realizá-lo. “Esse é um tema que vem à tona depois dos 30. Já pensei em ser mãe em alguns momentos e em outros não. Se for para acontecer, será futuramente. Por enquanto, estou focada na carreira e nos meus projetos. Mas já estou me organizando para ter essa opção no futuro”, diz ela, que não cede às cobranças externas.“Compreendo que para muita gente é difícil entender que a vida pode ser plena e feliz com ou sem filhos”, pontua.
Com os pés na natureza, seu refúgio favorito para meditar, se reconectar e até mesmo praticar exercícios, Jacqueline reconhece os aprendizados e ensinamentos que guiam sua trajetória. “Com o tempo, passei a confiar cada vez mais no fluxo e percebi que muita coisa dá errado para que outras deem certo. Fora isso, estou sempre na posição de eterna aprendiz, aberta ao novo. Sou grata pela vida. Tudo na vida começa primeiro dentro da gente para depois, talvez, acontecer no externo, seja uma ideia, um sonho, uma mudança de comportamento”, analisa ela.
Jacqueline iniciou carreira na TV no final dos anos 1990, apresentando o programa Sessão Super Heróis, da CNT. E, de lá pra cá, não parou mais! Ela coleciona uma série de trabalhos no cinema, no teatro e na televisão e, como disse, também abraça a produção e a criação de conteúdo.
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