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Ideias arraigadas sobre decência perturbam a vida sexual dos casais

CARAS Publicado em 18/09/2013, às 17h05 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Descobri que o inglês D. H. Lawrence (1885-1930), autor de O Amante de Lady Chatterley, escreveu um poema intitulado A Indecência Pode Ser Saudável. O título me pôs a pensar. Resolvi começar pelo significado da palavra indecência. Ela é o oposto de decência, que, segundo o dicionário Houaiss, é “o que está em conformidade com os padrões morais e éticos da sociedade”. No âmbito sexual, no qual o termo é mais usado, diz
respeito a todo ato que desafia a repressão imposta pela moral social. Ou seja, traduz uma ideia que mantém a sexualidade aprisionada em camisa de força e, para o psicanalista austríaco Sigmund Freud, gera um mal-estar capaz de atrapalhar, e muito, a vida sexual de um casal.

O sentimento de indecência tem duplo aspecto. Por um lado, nos protege de sermos grosseiros e inconvenientes. Por outro, e esse é o seu problema, nos faz sofrer com inibições. Como está ligado a valores culturais — e o que é inconveniente para um povo pode não ser para outro —, é fundamental nestes tempos de casais globalizados, mas não só para eles. 

Inculcado desde a infância, trata-se de sentimento vivido como verdade inquestionável, e por se manifestar assim, sem participação da vontade individual, e estar profundamente entranhado, perpetua o aprisionamento de desejos, tornando, para muitos, a relação erótica complicada e sofrida. 

Por tudo isso, é conveniente que a pessoa possa retirar a indecência de seu recinto sagrado. Não para praticar uma iconoclastia cega, mas para apreciar o valor que a ideia tem para ela, individualmente, para que possa se perguntar: “O que é para mim sexualmente decente e o que é indecente?” Vale até a pena recuar mais ainda: o que é indecente para os animais e para o bebê? A resposta é que nada é indecente para estas duas categorias. Por que, então, os atos se tornam indecentes?

Respondê-lo exigiria um longo estudo ético, político e histórico, e não é o caso. O que nos interessa aqui é focar na felicidade individual e conjugal. Por isso acho importante dizer a quem se sente pressionado por esse sentimento, seja por carregá-lo, seja por estar com um parceiro que o carrega, que tente desativá-lo.

É o que o casal formado por Meryl Streep (64) e Tommy Lee Jones (67) no filme Um Divã para Dois procura fazer. Há anos sem vida sexual, recorrem a um terapeuta na esperança de salvar a união. Muitos problemas psicológicos são perceptíveis na união, mas, além deles, existe um pudor quanto a certas questões da sexualidade. Pois bem, a terapia se orienta mais no sentido de fazer o casal enfrentar situações vistas como
indecentes do que pela tentativa de interpretar suas motivações. Isso se justifica porque o sentimento de indecência preexiste às questões psicológicas surgidas na convivência do casal.

Outro exemplo: conheci um adolescente que não conseguia dizer palavrões e por isso sofria bullying de seus pares. Um dia ele se trancou num quarto e falou palavrões por muito tempo. A repetição fê-lo mais íntimo dos palavrões e pôde dizê-los diante dos colegas. Claro que poderia viver sem adquirir tal capacidade, mas ela o fez sentir-se melhor. Casos como esses podem ser inspiradores para casais que trazem enraizados no seu ser sentimentos de indecência que atrapalham sua vida sexual.