A prática médica de Luiza Drumond tem como premissa essencial a escuta. Não apenas escutar os batimentos do bebê ou os sinais clínicos de uma gestação, mas escutar as inquietações da mulher, seus medos, sua história e o contexto que ela carrega. Ginecologista obstetra com formação em medicina fetal e mestranda em neurologia fetal, Luiza construiu sua trajetória entre Minas Gerais e São Paulo, motivada por uma certeza: oferecer um cuidado que enxergue a gestante e o bebê como protagonistas, e não como coadjuvantes de um protocolo rígido.
Luiza cursou Medicina em Barbacena (MG) e retornou para Belo Horizonte, sua cidade natal, no último ano da graduação. Após ser aprovada em residências tanto em Minas quanto em São Paulo, tomou a decisão de se mudar para a capital paulista. "Hoje vejo que foi uma das escolhas mais acertadas da minha vida", afirma.
A lacuna no olhar fetal
Foi em São Paulo que a médica aprofundou sua formação em obstetrícia e despertou para uma lacuna: "Percebia que cuidávamos bem da gestante, mas havia um espaço imenso no olhar para o bebê. A medicina fetal veio como um caminho natural para ampliar minha atuação", conta.
A especialização na UNIFESP e o fellowship em neurologia fetal em Brasília abriram espaço para um aprofundamento técnico que culminou em experiências marcantes: um curso com um médico referência mundial em neurosonografia, no hospital especializado em neurologia fetal em Israel. "Aprender com os melhores, num centro onde o cérebro fetal é o foco, foi um divisor de águas", afirma.
Essa experiência internacional reforçou seu entendimento sobre a importância do acompanhamento detalhado do sistema nervoso central do bebê ainda no útero. "O cérebro é o órgão que mais se modifica ao longo da vida. Muitas alterações podem ser diagnosticadas ainda na gestação. E quanto mais precoce for essa identificação, maior a possibilidade de intervenção e preparo para o parto", explica.
O impacto da neurosonografia
Entre as condições que podem ser detectadas por exames como a neurosonografia e a ressonância fetal, estão espinha bífida (que pode ser tratada intraútero), hidrocefalia, sinais de infecções congênitas e alterações estruturais. Luiza destaca a importância de fazer esses exames com profissionais especializados. "Nem todo ultrassonografista tem foco em medicina fetal. Muitos realizam exames diversos, e isso pode deixar passar detalhes cruciais. Nós, especialistas, vivemos para olhar o bebê com profundidade e precisão", defende.
Outro ponto de destaque é a avaliação do cérebro de bebês com restrição de crescimento. "Estamos estudando se esses bebês terão o mesmo desenvolvimento cognitivo a longo prazo. É algo que ainda não está totalmente estabelecido, mas queremos antecipar cuidados e oferecer mais suporte a essas famílias", afirma a médica.
Restrição de crescimento e personalização do cuidado
Além da neurologia fetal, Luiza se dedica ao acompanhamento de casos de restrição de crescimento, condição que exige sensibilidade e acompanhamento contínuo. "A gestante, ao ouvir que o bebê não está crescendo como esperado, se sente imediatamente culpada. É preciso explicar que, na maioria das vezes, isso está relacionado à função da placenta. A partir daí, entramos com estratégias que visam melhorar a formação placentária e reduzir riscos", afirma.
Essas estratégias passam por ajustes no estilo de vida, prática de atividade física, controle do estresse e suplementação individualizada. "A gente não entrega kits prontos de vitaminas. Cada mulher tem uma necessidade específica. Personalizamos a suplementação para favorecer uma gestação mais saudável e segura", pontua. A atuação precoce, especialmente desde o primeiro trimestre, pode prevenir complicações e evitar decisões precipitadas, como partos antecipados sem necessidade clínica.
Uma clínica pensada para acolher
Essa visão integrada se reflete na estrutura da nova clínica que Luiza inaugurou recentemente: o Instituto Mater, localizado na Vila Olímpia, em São Paulo. Trata-se de um espaço multidisciplinar com atendimento de fisioterapeutas, nutricionista, psicóloga, acupunturista, dermatologista, consultora de amamentação, ginecologista, mastologista e uma sala exclusiva para amamentação. "A paciente chega, faz a consulta, o ultrassom, e já pode ser encaminhada para outras especialidades, se necessário. Aqui em São Paulo, deslocamento custa caro – em tempo, dinheiro e saúde mental", pontua.
O ultrassom feito por Luiza durante a própria consulta é um diferencial. "A cada consulta, consigo avaliar o crescimento fetal, o bem-estar e detectar sinais precoces de alerta. Isso me permite conduzir a gestação com mais segurança, sem deixar nada passar despercebido", explica.

Da pré-concepção ao pós-parto: cuidado contínuo e humanizado
Apesar de seu envolvimento técnico com a medicina fetal, Luiza não abre mão de acompanhar o pré-natal completo, o parto e o pós-parto de suas pacientes. "É um privilégio participar da jornada desde antes da concepção, acompanhar a gestação, planejar o parto e ainda estar presente no puerpério. Acompanho o nascimento não só de um bebê, mas de uma mãe, de uma nova família", reflete.
Esse olhar para o pós-parto é uma de suas bandeiras mais fortes. "A mãe é esquecida no puerpério. Todos os presentes vão para o bebê, e ninguém pergunta se ela conseguiu tomar banho, dormir ou se alimentar. Aqui, a gente cuida da mãezinha também", destaca. Ela reforça ainda os riscos silenciosos desse período: "A depressão pós-parto é muito comum. Não tem a ver com culpa ou ausência de amor ao bebê. É hormonal, é exaustivo. Por isso, criamos uma rede de apoio e acompanhamos de perto, inclusive com psicóloga na clínica."
Parto respeitoso e empoderamento da mulher
Com uma atuação marcada pela escuta ativa, Luiza também lida diariamente com inseguranças comuns, como o medo de perder o bebê nas primeiras semanas ou o receio de não ter “passagem” para o parto normal. "É um processo de empoderamento. Mostramos para a gestante que ela está fazendo a parte dela. Se não for possível um parto vaginal, está tudo bem. O que importa é que ela tentou com todo apoio e segurança", comenta.
O compromisso com um parto respeitoso também permeia sua rotina. "O parto é dela, não meu. A minha função é dar segurança e respeitar os desejos daquela mulher", afirma. Para isso, Luiza conta com uma equipe completa: enfermeira obstetra, anestesista, obstetra auxiliar e pediatra. "Trabalhar em equipe é essencial para garantir que cada detalhe seja assistido", pontua.
Tecnologia e prevenção como aliadas
No âmbito tecnológico, Luiza destaca o impacto do ultrassom morfológico do primeiro trimestre como um verdadeiro divisor de águas. "É um exame que salva vidas. Nele, conseguimos identificar riscos aumentados de pré-eclâmpsia e iniciar medicações preventivas. Também já conseguimos detectar malformações, avaliar o colo do útero e prevenir prematuridade", detalha.
Ela também menciona os testes genéticos e exames complementares como a tocografia computadorizada e a possibilidade de ressonância fetal, que hoje permitem uma investigação minuciosa de síndromes, alterações estruturais e condições específicas do bebê. "É um mundo à parte, mas com potencial incrível de impacto na vida dessas famílias", diz.
Educação e acesso: uma missão além do consultório
Mesmo com os avanços da medicina, Luiza acredita que o acesso à informação ainda é limitado. Por isso, utiliza suas redes sociais como uma extensão de sua prática médica. "O conhecimento que tenho não pode ficar só comigo. Nas redes, consigo levar informação gratuita e de qualidade para quem não pode pagar. Uma paciente bem informada tem mais chance de viver uma gestação segura e tranquila", diz.
Atualmente, além de tocar a clínica e seguir com o mestrado, Luiza também atua como preceptora no hospital Santa Marcelina, na zona leste de São Paulo, onde colabora na formação de novos residentes. Para o futuro, deseja ampliar o acesso à medicina fetal no SUS (Sistema Único de Saúde). "É um campo ainda restrito na rede pública, mas essencial. Quero contribuir para que mais mulheres possam ser assistidas com o mesmo cuidado, independentemente da condição financeira", afirma.
A escuta, o conhecimento e a coragem como guias da gestação
Entre tantos temas abordados com profundidade e sensibilidade, Luiza compartilha uma mensagem que sintetiza sua missão de acolher, informar e empoderar mulheres em todas as fases da gestação:
"Se tiver medo, vai com medo mesmo. O medo é natural, mas o conhecimento protege. Quando a mulher entende o processo, ela faz escolhas mais seguras. Confiar no processo e fazer a parte dela é o caminho para dar tudo certo", destaca.
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