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Música / Review!

O que torna o HOLY FVCK o álbum mais autêntico de Demi Lovato?

HOLY FVCK, oitavo álbum de Demi Lovato, é o mais coeso da sua carreira com versos confessionais e conciliação direta com suas raízes

André Luiz Freitas Publicado em 19/08/2022, às 11h42

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Demi Lovato retorna às suas raízes com o álbum 'HOLY FVCK' - Foto/ANGELO KRITIKOS
Demi Lovato retorna às suas raízes com o álbum 'HOLY FVCK' - Foto/ANGELO KRITIKOS

Demi Lovato (29) lançou oficialmente o tão esperado álbum HOLY FVCK (2022), o estrondoso retorno da cantora norte-americana às suas raízes Pop Punk e Rock — como vimos em Don’t Forget (2008) e Here We Go Again (2009) —, deixando o universo Pop e R&B de lado. O disco mantém a verdade por trás dos últimos meses da vida da estrela, retratando a sua raiva, suas explorações sexuais e sentimentais, início de novos amores e muitas dúvidas feitas pela mídia sobre a sua vida pessoal. Em convite pela Universal Music Brasil, eu tive a oportunidade de ouvir em primeira mão o álbum que irá apresentar um novo início na carreira de uma das maiores artistas vocais da indústria musical na atualidade.

FUSÃO POP-PUNK, ROCK E METAL:

O disco, que ao todo soma 16 músicas, apresenta uma conciliação clara e direta da artista com o seu novo estilo musical, apresentando uma fusão atualizada entre Rock e Metal: "Aquilo não refletia quem eu era por dentro [música pop] e acho que isso fez eu me perder completamente para me achar novamente. Eu comecei a me encontrar novamente e é engraçado quando você volta para o que você era no começo.”, afirmou Demi Lovato para a Apple Music. Em HOLY FVCK, ela passa a se libertar das expectativas musicais e estéticas que foram colocadas sobre ela — e pela primeira vez, ela escolheu não se desculpar por isso —. Em faixas como EAT ME, parceria com a banda Royal & the Serpent, ela canta: “É isso que todos vocês preferem? Você gostaria mais de mim se eu ainda fosse "ela"? Ela te deu água na boca? Eca”, rebate no refrão com riffs de guitarra elétrica.

Esse novo trabalho apresenta a autenticidade de Demi Lovato em seus trabalhos musicais, realidade que os fãs não viam há um determinado tempo, não sendo apenas específico para este lançamento do disco. Recentemente, ela falou abertamente sobre suas lutas com a saúde mental e a superação do vício, enquanto no ano passado, ela também compartilhou ser uma pessoa não-binária e aderir os pronomes ela/elus. Na música CITY OF ANGELS, por exemplo, retrata uma continuação de sua nova missão de viver a vida com a sua verdade: “Você me chama de "elu", mas ainda continuo a menina do papai”, cita a compositora em um refrão com a presença de um solo de bateria de fundo que remete a sonoridade da banda Blink-182 e Avril Lavigne. “Venha fazer meu dia e balançar meu mundo”, continua ela ao destacar também um romance com uma mulher que foi exposto por um paparazzo na época.

Em faixas como HOLY FVCK, BONES e WASTED está explorando entre solos de bateria pesadas, címbalos, instrumentos elétricos estrondosos que te arrepiam, quebrando as pontes  e causando uma sensação de headbanging – entrado na moda sonora que está em alta nos dias atuais trabalhados por artistas mainstream como Machine Gun Kelly e Paramore, posicionando este álbum não apenas como um Pop Punk, mas como um retorno ao seu estilo sonoro favorito.

"Eu sou a única procurando substância?", questiona ela, em SUBSTANCE, uma das melhores do álbum, onde Demi Lovato está em busca do que é o essencial para ela, do que vai dar forças para ela continuar cantando. “Eu quis trazer um ponto que vivemos em um mundo que nada mais é real Tem muita coisa que está faltando”, contou ela ao falar sobre o processo de inspiração para a canção.

“Demi deixou a reabilitação de novo”, dispara Demi Lovato na primeira linha da faixa SKIN OF MY TEETH, fazendo referência as piadas e as manchete que as pessoas fizeram sobre a sua última recuperação em 2021. A produção sonora da música é limpa, concisa e dominada com um solo de bateria pulsante e loops de baixo. Assim como em outras faixas do disco, marca o período sincero da cantora que se mostra “cansada” de explicar sobre as suas batalhas internas. Essa autenticidade é semelhante em músicas Pop Punk como da banda Simple Plan, inteiramente auto-escrita e bem-sucedido em partes. “Estou viva, mas foi por um triz, eu sobrevivi, mas ficou mais difícil de respirar; perguntar o motivo não faz as coisas ficarem mais fáceis, pegue leve comigo”, reflete a cantora no refrão ao tentar humanizar os vícios para as pessoas, de certa forma, terem empatia. 

Críticas sobre padrões impostos na indústria musical:

O início do álbum é feito de uma forma brava e com um tom pesado, trazendo uma sonoridade metal e um potencial vocal mais irritado. Em parceria com Yungblud, um cantor britânico conhecido por trabalhar em canções Pop Punk e Rock Alternativo, FREAK é uma composição que explora uma metáfora sobre se sentir exilado mas não dar a mínima para isso de forma irônica: “vim do trauma, fiquei pelo drama” ou “diga o que você quer, está na ponta da sua língua, não precisa soletrar para mim, aberração”. Eu, particularmente, achei necessário abrir o disco com esse tipo de canção. Reafirma a forma como Demi Lovato está tentando reestabelecer o controle e o poder. Além de atacar a obsessão do público com a cultura das celebridades “Pegue seus ingressos para o show de horrores, Suba direto para assistir o esquisito enlouquece”.

Homenagem aos amigos mortos, términos e busca de um final feliz:

DEAD FRIENDS é a música “mais impactante” do álbum, por sinal, ela apresenta uma sonoridade mais eletrizante, relembrando um Pop Rock feito no início dos anos 2000, emocionando, trazendo uma batida que vai crescendo de acordo com o relato de saudades da cantora. Na letra, ela lista coisas que faz em um dia normal da vida e que os seus amigos que morreram não fazem mais: “Sinto falta do tempo que não podemos perder; sinto falta das mensagens que eles não podem enviar”, cita ela. O disco também conta com baladas românticas como 4 EVER FOR ME, que remete ao sample de Íris, lançado por Goo Goo Dolls, em 1998. Já COME TOGHETER levanta a influência U2 no início da carreira. 

Em 29, uma das canções mais sinceras do álbum, a artista deixa explícito um recado ao ex-namorado da estrela, o ator Wilmer Valderrama (42), e a diferença de idade entre eles no início do relacionamento: “Finalmente 29. Engraçado, a mesma idade que você tinha naquela época”, canta ela ao relembrar que tinha apenas 17 quando o namoro começou. No passado, a atriz costumava defender a diferença de idade entre os dois dizendo que a relação foi amor à primeira vista. Agora, a música traz a cantora reconhecendo, pela primeira vez, que o relacionamento, foi errado desde o início, quando o ator, já com 29 anos, se envolveu com ela tendo apenas 17 anos: “Longe de ser inocente, o que é consentimento, afinal? Os números te diziam que era errado, mas isso não te parou. Pensei que era um sonho adolescente, apenas uma fantasia. Mas era a sua ou a minha?", cita ela com raiva na música.

Uma das minhas favoritas neste disco é HAPPY ENDING tem versos como “estou sóbria e todos estão orgulhosos, mas eu sinto falta dos meus vícios”. Nesta composição é interessante trazer a forma como ela colocou na melodia o consentimento de que a felicidade é um sentimento que, por mais duradouro que ele esteja, vai ser instável, não importa o que aconteça. A faixa faz parte das músicas que entraram quando ela “estava com raiva” e quando estava fazendo de tudo para ter um final feliz, após sofrer uma overdose em 2018 e ter falado abertamente sobre dependência de substâncias lícitas e ilícitas: “Vou morrer tentando encontrar meu final feliz? E será que algum dia vou saber como é estar bem sem fingir que minha pele não está rastejando”, canta ela na segunda parte da canção.

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