Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz e cantora Nabiyah Be fala sobre relação com a música e inspirações para seu álbum de estreia
Publicado em 12/02/2025, às 11h30 - Atualizado em 14/02/2025, às 15h04
Nabiyah Be (33), conhecida por seu papel como Simone Jackson em Daisy Jones & The Six, lançou seu álbum de estreia, O QUE O SOL QUER, na última quinta-feira, 6. Com 14 faixas que transitam entre inglês e português, Nabiyah une uma musicalidade plural com um mergulho em identidade, autoconhecimento e renascimento. Em entrevista à CARAS Brasil, a cantora e compositora revela que vive um novo momento com carreira na música: "Me completando", diz.
A jornada musical de Nabiyah reflete sua própria trajetória. Filha do músico jamaicano Jimmy Cliff (80)
com uma brasileira, a cantora cresceu imersa em diferentes culturas e, naturalmente, absorveu referências que fazem parte desse primeiro projeto. "A minha história de vida é essa grande mistura. Sou baiana, jamaicana, vivi muito tempo em Nova Iorque e minha família também é muito diversa. Então, é um resumo sonoro muito natural pra mim", explica.
A artista, que enxerga a arte como um processo em constante evolução, revela que os arquétipos e simbolismos presentes no álbum surgiram organicamente ao longo do desenvolvimento do projeto: "Os arquétipos vêm surgindo à medida que o trabalho cresce, ele mesmo é quem mostra pra gente o que é e como ligar os pontos. Então, não foi o processo teórico".
Nabiyah espera que o público sinta o álbum de maneira vulnerável e honesta, assim como ele foi criado: "A música tem o poder de ir para os dois lados, o do sentir e o do pensar. E em O QUE O SOL QUER, está tudo escondido como uma tesoura para quem se interessar em buscar".
Um dos elementos recorrentes do disco é a figura da serpente elétrica, que, para Nabiyah, representa um processo interno de poder e renascimento. "É uma simbologia que fala muito mais de um processo interno, talvez uma jornada do herói mais feminina e para dentro, que consequentemente se reflete no externo e na vontade de se arriscar para o mundo e como artista", diz.
Além da serpente, os contrastes entre luz e sombra, coragem e medo também aparecem como fio condutor das canções. Para a cantora, essa dualidade é um dos elementos mais poderosos da arte. "O palco foi o meu grande impulsionador para ter coragem de viver a vida e de sentir. Devo muito do meu crescimento a ele e à arte. É o que me ajuda a processar o incompreensível e a me entender humana e divina ao mesmo tempo".
Com influências das Américas e da diáspora africana, O QUE O SOL QUER se apresenta como um álbum que não se prende a uma fórmula comercial. "Eu não pensei em mercado ao fazer o álbum. Fiz o que gosto de ouvir e o que soa bem para mim. E é assim que gosto de trabalhar", afirma.
A mistura de inglês e português também reflete a identidade da cantora, mas não foi uma decisão planejada. "Não é uma escolha teoricamente política. A minha existência pode até ser, mas o cantar em inglês ou português nas faixas não foi algo planejado. E acho que é essa realidade diária de muitas pessoas que são 'third culture kids', a gente acaba misturando várias línguas e culturas no nosso falar e agir".
Além dos idiomas, o projeto também traz uma união de sonoridades: com elementos de soul, R&B, MPB e eletrônico, as faixas se conectam em uma narrativa musical com começo, meio e fim. "A minha primeira linguagem foi a performance e a dança. Me compreendi como compositora e produtora muito depois. Por algum tempo, esses lados ficavam um pouco separados, mas acho que nesse álbum eu consegui unir a minha necessidade pelo movimento, com músicas mais dançantes, e a minha necessidade pela introspecção, com algumas baladas", explica.
O storytelling é uma das grandes forças do disco, e Nabiyah acredita que esse elemento não poderia faltar: "Acho que inevitavelmente o prezar pelo storytelling em geral acaba influenciando as escolhas sonoras sim".
Para quem conheceu Nabiyah Be como Simone Jackson, a pioneira da disco music em Daisy Jones & The Six, a relação entre a artista e a personagem é inevitável. A própria cantora reconhece algumas conexões inesperadas entre as duas trajetórias.
"Eu sinto que, às vezes, a vida imita a arte, sabe? A história da Simone é muito diferente da minha, mas existem alguns paralelos que ressoam de maneira curiosa. Musicalmente não houve uma influência direta, mas na canção HERO, que compus logo depois de ter terminado as gravações, acabei usando um 'four on the floor' característico da música disco e eletrônica".
Atravessando teatro, cinema, TV e agora a música, Nabiyah se sente completando sua identidade artística. "Me sinto me completando sim. E também não sinto necessidade de clamar uma só identidade. Acredito na multiplicidade das pessoas", afirma.
Com O QUE O SOL QUER, Nabiyah Be entrega um projeto ousado, que escapa de convenções e desafia o mercado musical. "A música está para além do mercado e muitas vezes para além da nossa consciência. A gente é que tem que acompanhar para onde ela vai e não o contrário", reflete.
Com a crença de que a arte vive ciclos, a cantora destaca que o momento atual pede por novos caminhos. "Acho que os nossos gostos e aberturas para o novo — seja ele na arte ou na compreensão de nós como um coletivo — são cíclicos. Acho que estamos vivendo um momento com um tanto de sede por reinvenção", conclui a cantora.
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