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Elie Saab: estrela do Oriente

Guilherme Ravache Publicado em 24/05/2012, às 16h08 - Atualizado em 25/05/2012, às 14h02

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Elie Saab - Getty Images
Elie Saab - Getty Images

Ao encontrar Elie Saab (48) é difícil não se surpreender com a figura serena e simpática que recebe a equipe do CARAS Fashion em sua casa em Beirute, no Líbano e oferece chá, café e pergunta atenciosamente “como foi a viagem” e nossas “impressões sobre a cidade”. Mister Saab, como todos o chamam, é uma estrela global. Voz ativa nos altos círculos da indústria fashion, é o maior expoente atual da moda do Oriente Médio e sinônimo de red carpet. Amado pelas estrelas de Hollywood, somente no último Oscar, vestiu as atrizes Katie Holmes (33), Rashida Jones (36), Berenice Bejo (35) e  Milla Jovovich (36) . Dividindo seu tempo entre Paris e Beirute, desenha vestidos de festa, noivas, acessórios e coleções ready-to-wear e haute couture. Ainda projeta iates de alto padrão e recentemente lançou seu próprio perfume. Mas além de ser o responsável criativo da marca, Saab é um homem de negócios. Comanda um império com lojas em Beirute, Paris, Dubai, Londres e Hong Kong e tem pontos de venda em 22 países. E um vestido básico do estilista custa mais de R$ 4 mil.

E a história de Saab dificilmente encontra paralelos no universo da moda ou mesmo no mundo dos negócios. Ele nasceu em 1964, filho de um próspero cristão maronita que negociava madeira.  Mais velho de cinco irmãos, Saab afirma que aos 5 anos já tinha uma “visão do que faria em sua vida”. Aos 9 anos, com toalhas de mesa e cortinas da mãe, criava roupas para as irmãs. Com 18 anos, abriu sua marca e vendia as criações para as vizinhas em Beirute. Dois anos depois, já era um dos mais renomados estilistas da cidade. Logo começou a receber pedidos da alta sociedade árabe, costurando para a realeza do Oriente Médio e magnatas do petróleo. Foi com um de seus vestidos que a Rainha Rânia, da Jordânia, foi coroada em 1999. Em 1997, Saab foi convidado para desfilar sua coleção de couture em Roma. Em 2000, o Chambre Syndicale de la Haute Couture o convidou para mostrar o trabalho de alta-costura nas passarelas de Paris, o que tem feito em todas as temporadas. Mas provavelmente sua maior glória internacional tenha vindo em 2006, com o convite para ser um Membre Correspon¬dant, posto ocupado somente por outros dois estilistas não franceses: Valentino e Giorgio Armani.

A precocidade do jovem estilista já tornaria a história de Saab singular, mas ela também é marcada pela guerra civil que assolou o Líbano. Em 1976, após um ano do início do conflito, Damour, a cidade onde o estilista nasceu, foi atacada. O evento ficou conhecido como o “massacre de Damour”. Mais de 500 homens, mulheres e crianças foram mortos. “Não gosto de falar da Guerra nem de lembrá-la, foram anos terríveis”, diz. A mulher Claudine, filha de um de seus primeiros clientes e com quem se casou aos 20 anos e seus três filhos são motivo de orgulho.

Mesmo em meio à violência que desolou o Líbano e ainda hoje marca os prédios furados por balas e bombas nas ruas de Beirute, Saab realizou sua visão. Hoje, a beleza e a sofisticação são suas marcas. A seguir, ele relembra sua história e revela como continua sua “visão’ para o futuro. 

- Os seus vestidos são muito populares com as atrizes de Hollywood, mas também fazem sucesso no Oreinte e na Ásia. O que torna suas criações universais?
Eu sinto que o sucesso vem do que eu apresento para a mulher, a feminilidade. O sucesso vem do produto que temos. Porque toda mulher quer estar linda, quer ser sexy. Eu não quero dizer sexy exatamente, mas feminina e elegante. E seja uma atriz famosa no tapete vermelho ou uma cantora de sucesso internacional, no final todas elas são mulheres e querem se sentir bonitas. Serem vistas e comentadas.

- Como um jovem que vive em um país em guerra e com um pai conservador se tornou estilista?
Eu sofri com meus pais para ser estilista, porque com certeza ele não queriam que eu fosse um designer. E eu entendo o porque, um homem designer de moda não era bem visto. Mas eu acredito no que eu faço, no que eu amo. Eu tenho a minha visão de quando e onde quero chegar. Onde eu posso chegar é o meu sonho. Por acreditar nessa visão eu abri a minha primeira loja e montei a minha equipe aos dezoito anos de idade.

- Muitos designers reclamam da pressão para criar diversas coleções em um ano. Além de designer você é o presidente da sua empresa. Como você lida com o acúmulo de funções?
O que me motiva é ver as pessoas usando as minhas roupas, isso me dá muita força para fazer mais e fazer melhor. Eu não gosto de fazer vestidos por fazer vestidos. Eu gosto de fazer vestidos para ver as mulheres felizes com o que estou fazendo. As pessoas sentem que é fascinante ser um designer de moda, mas isso não é tudo. É muito difícil, é uma obrigação. Você faz sete, oito coleções por ano. Mais eventos, entrevistas... Não é uma vida normal.

- De alguma forma, em seu trabalho você está vendendo sonhos. Como eles viram realidade?
Sim, é como um sonho. Mas eu tenho um produto verdadeiro. Você entende? Não um produto de marketing. É um sonho tê-lo. Para isso, ela empurra a porta e vem até mim. Mas depois ela quer um produto bom, porque há muitos nomes que fazem marketing para o seu nome e depois não tem um produto. Mas o nosso produto não é fácil de fazer, porque é um sonho, é que ela quer entrar. É um sonho quando ela empurra a porta e entra, este é o sonho. Ela quer estar em um vestido Elie Saab. Mas o vestido deve ser um Elie Saab.

- Se uma mulher pede um determinado vestido para você e você acha que ela não combina com a sua roupa. Como você reaje?
O ready to wear é uma coisa e a alta-costura é um outro mundo. Quando ela chega ao ready to wear, ela compra um vestido pronto. Mas quando ela vai a haute couture, devemos orientar essa mulher para um bom caminho. Estamos aqui para dizer a verdade, porque afinal de contas o produto final é uma grande responsabilidade. E quando ela pergunta e você faz o que ela quer e o resultado não é bom, ou ele não serve, nós somos os responsáveis, temos uma grande responsabilidade. Nós podemos imaginar o produto acabado. Ela não.

- As pessoas dizem que Haute Couture é uma arte que está morrendo, porque não é rentável, mas é o seu maior negócio.
Acredito Haute Couture é arte. É como quando você compra algo e coloca sobre a mesa ou pensura na parede, quer que as pessoas vejam, admirem. Uma mulher em um modelo de haute couture, em uma ocasião importante, é vista por centenas de pessoas e se essas pessoas  dizem ‘uau’... Especialmente para essa mulher, esse é um momento muito sonhado. O preço da alta-costura é como o preço da arte, medido por sua beleza e exclusividade.

- Quando uma mulher chega até você e pergunta "O que devo fazer para ser mais glamourosa, ou mais fashion, para ser mais bonita". Você tem um conselho para ela?
Primeiro, eu odeio quando uma mulher vem como desafio um esforço, como se ela quisesse ser outra mulher. A partir daí, eu sinto que a tarefa não vale a pena. A primeira coisa é o caráter da mulher. Quando todos tentam ter um grande esforço ou para alterar a maneira como eles são ou apenas para ser mais glamouroso ou fashion é falso. E com esse sentimento de falso ou forçado, ela destrói todos os esforços e tudo o que fez isso, ou cada peça que lhe pagou para fazer. Você deve ser você mesmo.

- Você cresceu em meio à guerra e se tornou um estilista em um país em conflito. De que maneira essa tragédia influenciou você?
Trabalhamos durante a guerra, era complexo administrar os prazos, ser perfeito, fazer um bom serviço. A guerra não era um problema das melheres que compravam nossos trabalhos. Foi um grande desafio, honestamente.

- Quais seus planos de expansão, e Brasil este neles?
Temos oito ou dez lojas para abrir entre este e o próximo ano. Vamos expandir para todos os lugares e não estamos muito longe de ir para o Brasil. Nada está confirmado ainda. É um projeto. Mas faz parte do desenvolvimento. E estaremos no Brasil e América Latina. Tenho certeza que as nossas criações e os brasileiros tem muitas afinidades.