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JOSÉ POSSI NETO APRESENTA SEU PARAÍSO URBANO

15|DIRETOR TEATRAL ABRE AS PORTAS DA ANTIGA ESCOLA QUE REFORMOU PARA TRANSFORMAR EM SUA CASA

Redação Publicado em 30/01/2008, às 17h48 - Atualizado em 29/06/2011, às 17h54

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Zé Possi descerra seu reduto de mil m2 - Lailson Santos/Imagens&imagens
Zé Possi descerra seu reduto de mil m2 - Lailson Santos/Imagens&imagens

Diretor teatral dos mais consagrados do Brasil, conhecido pelo bom gosto com que realiza as suas montagens, José Possi Neto (60) abriu com exclusividade para CARAS os portões de seu paraíso particular de mil metros quadrados em São Paulo. Paulistano do reduto italiano do Brás, cidadão do mundo, Possi revelou os detalhes da decoração da casa localizada no bairro nobre do Pacaembu, uma ex-escola cuja estrutura pôs abaixo em 1999 e transformou num imóvel requintado e aconchegante. Expansivo e gregário, Zé Possi afirma ter construído a casa "para saraus", objetivo que cumpriu com sofisticação ao receber, nos últimos oito anos, importantes artistas brasileiros e estrangeiros para leituras, ensaios, encontros e celebrações. Entre os convidados, Christiane Torloni (50), Regina Duarte (60) e Miguel Falabella (50), e outros grandes artistas, como o saudoso Raul Cortez (1932-2006). Fotos de espetáculos, peças únicas e de design e móveis escolhidos a dedo refletem na decoração de Possi um pouco de sua própria multiplicidade. Ele se define, em palavras exatas, "louco por obras e reformas" e revela algo surpreendente: pensa em pôr à venda o lindo imóvel. "Para mim casa é como cenário. É preciso mudar", define, sobre o padrão que repete sistematicamente quando o assunto é imóvel: comprar, reformar, curtir um pouco, vender. - Qual sua relação com a casa? - Comprei este imóvel oito anos atrás. Na época, era uma antiga escolinha que estava caindo aos pedaços, e até hoje encontro gente pelo bairro que estudou nesta casa. Costumava passar por aqui e achava linda, a casa ficou à venda por 11 anos, até que tive cacife para comprar. Quando assinei a escritura entrei em pânico, passei mal, afinal hoje em dia trabalho exclusivamente com teatro, não tenho contrato com TV, não dirijo mais comerciais. Reformei absolutamente tudo. Casa para mim é cenário, assim como eu troco de peça, eu troco também de casa. - Como foi o processo de reforma da casa? - Entre 1999 e 2001, passei 13 meses reformando este imóvel. Cheguei a reunir um total de 40 pessoas trabalhando ao mesmo tempo debaixo do mesmo teto, uma loucura. Pus a casa abaixo, abri duas novas salas, construí as fundações. Mexi também no jardim, que hoje tem três amoreiras, uma ameixeira e um abacateiro em plena produção. E orquídeas, muitas orquídeas! Transplantei duas mangueiras há sete anos, e elas estão absolutamente saudáveis. Gosto muito do bouganville roxo. Vivia reclamando que não floria, mas o problema é que sou daltônico, então, na verdade, só fui perceber que ele estava carregado uma noite quando os faróis do carro jogaram luz sobre as flores, e eu pude então percebêlas. Mandei fazer o piso térreo de cimento queimado, a lareira, os banheiros e os espelhos d'água do jardim. Algumas coisas mantive originais, como o teto e os detalhes de seu acabamento. - Depois das leituras, festas e ensaios realizados nesta casa, não terá saudades da história que vai deixar aqui? - Com certeza levarei na memória vários momentos especiais, mas a verdade é que eu detesto a manutenção. O que gosto mesmo é de comprar, reformar e deixar a casa com a minha cara, mas, na seqüência, já quero partir para uma nova empreitada, um novo cenário. Casa para mim é como um espetáculo: depois que estréio, preciso me apaixonar por novo texto, novo elenco, uma nova equipe, um novo lugar. - Quem você costumava receber aqui na sua casa? - Este é um ambiente que foi feito para receber amigos, ofereci jantares importantes aqui, desde a recepção que fiz para meus amigos do Teatro Piccolo, de Milão, até almoços nos quais líamos textos de dramaturgia ou novas peças eram encomendadas. Foi aqui que li com Christiane Torloni a terceira parte de Mulheres por um Fio e Pour Elise, texto do Miguel Falabella. Aqui também, na sala de baixo, ensaiei com Regina Duarte a peça Coração Bazar. Esta casa também presenciou, durante um jantar, o primeiro ensaio de Amigas Pero no Mucho e uma série de outros trabalhos meus. Vários espetáculos começaram ou terminaram aqui. - Você pensa em mudar só de cenário ou de cidade também? - Minha rotina profissionanal mudou totalmente, hoje vivo entre Rio, Paris e São Paulo. Não tenho mais condição de desfrutar esta casa como deveria. No ano passado não passei nem um mês inteiro em São Paulo! Como tenho ficado mais no Rio, talvez acabe me mudando para lá. Penso em viver num bairro como a Gávea ou o Jardim Botânico. - Que peças da decoração são especiais para você? - Eu tenho uma relação afetiva com as peças e os artistas escolhidos na decoração, acredito que a casa é uma extensão da nossa personalidade, das nossas escolhas. Meu pedaço é o meu pedaço. Escolhi a dedo a porcelana de design francês dos anos 1920 que comprei na feira de antiguidades do Masp e o jogo de peças de cristal que trouxe de Belém, no Pará, em 1984, quando fui para lá fazer o filme A Floresta de Esmeraldas. Comprei o jogo para compor com taças semelhantes que ganhei da querida Regina Guerreiro, editora de moda de CARAS, e pertenceram à mãe dela. Gosto especialmente da chaise longue que ganhei do cenógrafo Felipe Crescenti, além da mesa inglesa para piquenique, na varanda. A mesa Paschoal Bianco anos 1950 da sala eu garimpei em antiquários. Tenho também uma paixão de família por vidros, sou fascinado, tenho peças autênticas da artista Jacqueline Terpins. A luminária art déco eu ganhei do meu sócio, Jean Pierre Tortil, que trouxe de um antigo cinema de Paris. - E quanto às fotos? - Gosto muito de uma foto dos olhos da Christiane (Torloni) que tenho na sala, foi feita pela fotógrafa Lenise Pinheiro durante a apresentação de Hamlet, do Zé Celso Martinez Correa. Tenho um 'casamento artístico' com a Christiane e ela está muito bem nesta foto. Eu gosto também das fotos das mãos da diva da ópera Maria Callas e a imagem do cineasta e diretor italiano Federico Fellini.- O que é estilo para você? - É uma marca pessoal. Claro que não é preciso dinheiro para ter estilo e bom gosto. Na década de 1970, por exemplo, eu era duro, professor na Universidade Federal da Bahia, e isso não me impediu de ter uma casa muito bonita, que chamávamos de Casa Boca-do- Riso, em alusão ao bairro Boca do Rio, onde ficava. Foi um imóvel que escolhi a 200 metros do mar, uma antiga casa de fazenda de coco. Com orçamernto de professor universitário, fiz dali um lugar de encontro inesquecível, era freqüentada por todo mundo. A cara da casa é a nossa marca pessoal, a relação afetiva que se constrói com a decoração e o imóvel. - Além de um novo "cenário", quais são os planos para o futuro de um dos diretores mais prolíficos do país? - Acabo de reestrear no Rio, no Teatro João Caetano, temporada da peça O Baile, que se estende no mínimo até o fim de março. A estréia da peça, cujo texto deu origem ao filme de Ettore Scola, foi no Rio em janeiro do ano passado; em seguida levamos o espetáculo para São Paulo, de setembro a novembro. A Tássia Camargo tinha o sonho de montar esta peça e executamos em tempo recorde, apenas dois meses, mais de 150 figurinos e 80 músicas. Para 2008 tenho ótimos projetos, entre eles a montagem do novo texto de Célia Forte, Ciranda, Cirandinha, com Arlete Salles no elenco; novos projetos com Regina Duarte - o texto Outra Vez, de Maria Adelaide Amaral -, Cristiane Torloni - A Loba de Rayban - e O Usufruto, com Lúcia Veríssimo. Devo dirigir ainda um espetáculo de teatro-dança do Ivaldo Bertazzo, com quem aliás sou sempre confundido na rua (risos), chamado A Troca da Pele, e o show de comemoração aos 30 anos de carreira que a minha irmã, a cantora Zizi Possi, completa.