Em entrevista à CARAS Brasil, Eduardo Martini fala sobre a experiência de interpretar idosa solitária em curta e preparação para encarnar Clodovil nas telonas
Com mais de 40 anos de carreira, Eduardo Martini (60) chega às telonas como protagonista pela primeira vez. O ator, dançarino e diretor paulistano acaba de protagonizar o curta A valsa dos ponteiros ou algo que o valha, escrito e dirigido por Bruno Sorc (34), e em breve encarnará o inesquecível Clodovil Hernandes (1937-2009) em um longa que retratará a vida do ex-estilista e deputado.
“Parece um sonho. Tudo que eu queria era levar essa persona tão rica, conflitante e ambígua que deslumbrantemente é o Clodovil para o cinema", afirma Martini em entrevista à CARAS Brasil. O ator é responsável por dar vida ao inesquecível figurão nos palcos desde 2019. De acordo com ele, a ideia do filme surgiu após o produtor de Martini, Peterson Melo, levar um amigo para assisti-lo em seu espetáculo, apresentado semanalmente no Teatro União Cultural, no Paraíso, em São Paulo (SP).
"O cara ficou enlouquecido e resolveu fazer um filme da peça", explica o ator. A produção contará com roteiro e direção de Leonardo Cortez (50), irmão de Rafael Cortez (49). Bruno Sorc e Raphael Gama também devem integrar a equipe responsável por produzir o longa.
O convite para viver seu primeiro protagonista em um longa-metragem chega logo após Martini viver seu primeiro protagonista em um curta-metragem. "Eu não posso estar mais feliz. Eu estou nas nuvens, porque é uma baita responsabilidade, porque o cinema nacional está incrivelmente em voga", avalia.
Assim como Clodovil, Eduardo Martini se eternizou na pele de personagens cômicos. Entre eles, estão vários personagens da Escolinha do Professor Raimundo, da Globo, ao longo dos anos 1990, como Nuno Matos, Seu Antônio Casado e o icônico Seu Eça de Quental, além de personagens femininos, marca constante de sua trajetória, como a irreverente Neide Boa Sorte do saudoso Programa da Hebe, no SBT.
Apesar do talento nato para esta área, que abriu caminho também para personagens femininos na veia cômica, em sua estreia como protagonista no curta A valsa dos ponteiros ou algo que o valha, Martini levou mais uma de suas personagens femininas para um outro lugar que também domina na arte: o drama.
"A diferença do homem e da mulher é a genitália, o resto é igual. O sentimento é igual", enfatiza o ator, que vem desenvolvendo o gênero dramático nos últimos tempos. Em Pra Você Lembrar de Mim (2021), peça escrita por Regiana Antonini (62) e dirigida por Elias Andreato (69), Martini havia encarado nos palcos o drama do Alzheimer precoce por meio de seu personagem.
"O Chico Anysio me dizia que eu era o melhor ator dele e que eu podia ir para o drama. Quanto mais comédia você faz mais dramático você pode ser. A hora que você começa a viver o drama você vai", explica o ator, que conta ter se desapegado de um único estilo.
“Eu não sou uma caricatura de mulher. Eu fiz um sentimento que abala todo mundo, que é a traição, a solidão, a gente passa por isso. Então quando você começa a entender o comportamento do personagem, você faz aquilo que está escrito nele, não interessa a roupa. Isso é uma coisa que já me deixou. É óbvio que eu amo a comédia, mas não tenho problema em transitar entre drama e comédia porque eu gosto é de comportamento de personagem", afirma.
Para compor sua personagem, Martini conta que compôs uma mulher "sofrida, com solidão". "Foi um choque, mas eu consegui passar o que eu queria passar. Além disso eu li muita história, busquei muita história e é louco porque parece que a coisa vem sozinha, nasce sozinha".
A valsa dos ponteiros ou algo que o valha foi lançado no dia 9 de dezembro de 2024. Gravado em São Paulo, o curta conta com a atuação de Eduardo Martini e Kiko Pissolato (44). Em dois meses, a obra já concorreu a premiações como melhor filme, melhor ator e melhor diretor em Los Angeles, nos Estados Unidos, além de melhor filme na Inglaterra, menção honrosa de melhor filme na Itália e agora, no próximo dia 28, chegará a Paris para uma nova premiação.
O convite para o curta chegou a Eduardo Martini durante uma viagem de férias. O ator estava em Nuremberga, na Alemanha, quando foi convidado por Sorc para ler o roteiro. Inicialmente, ele achou que interpretaria um personagem e se emocionou. No entanto, depois ao descobrir que daria vida à mãe da história, a surpresa foi ainda maior.
"Era a história real do autor. Ele não foi ver a mãe por 60 dias porque estava fazendo fertilização in vitro com a esposa e queria fazer surpresa e quando chegou lá a mãe tinha morrido. Ele ficou arrasado e transformou isso em história. Eu fiquei muito emocionado", relembra.
Havendo topado a empreitada rumo ao audiovisual, Eduardo Martini começou a produzir o longa junto ao diretor. Ambos saíram em busca de patrocínio e começaram a gravar cenas em sua própria casa e no teatro onde atua como coordenador. "Passamos perrengue porque foram duas diárias, todo mundo muito cansado, mas foi muito bacana", pontua.
A experiência rendeu uma nova parceria ao ator, que conta já ter ganhado três roteiros de Sorc. "A gente virou irmão. Todo dia de manhã ele me manda uma mensagem, me conta que foi um cara muto bem educado. Ai se eu mando uma mensagem pra ele e ele não responde", brinca.
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