Maestro e pianista retomam parceria antiga em sarau exclusivo no castelo de Caras nos EUA
A junção de talentos e a história de superação foram essenciais para que o maestro João Carlos Martins (70) e o pianista Arthur Moreira Lima (70) emocionassem a plateia formada por artistas e vips que desfrutaram a temporada 2010 do Castelo de CARAS. Em sarau exclusivo, a dupla brasileira de ícones da música clássica, internacionalmente reconhecidos, apresentou também dois novos talentos da atual geração: o tenor Jean William (24) e o violinista Renato Yokota (21), em uma amostra do concerto que levam a vários países, lotando teatros. João Carlos, considerado o maior especialista em Johann Sebastian Bach (1685-1750) do mundo, era um pianista no auge do sucesso quando iniciou sua batalha apaixonada pela música. Primeiro, perdeu o movimento das mãos por causa de um nervo rompido. Depois, foi diagnosticado com LER (Lesão por Esforços Repetitivos), doença que o afastou novamente do piano. Na Bulgária, após uma apresentação, sofreu um golpe na cabeça durante assalto, que o fez perder parte dos movimentos novamente. Como o esforço provocava muita dor, o então musicista tentou desenvolver novas técnicas para tocar. "Hoje faremos uma pequena demonstração para vocês. Darei início, com meus dois dedinhos, e depois o Arthur, este grande pianista, dará continuidade. Ele vai ser meu solista hoje e vai tocar uma peça que eu toquei há exatos 50 anos, em New York. Também apresentaremos dois jovens talentos", avisou. Como João Carlos e Arthur são amigos de longa data, eles criaram juntos um concerto em que tocam Bach e Frédéric Chopin (1810-1849), como antigamente. "Acabei perdendo minhas duas mãos para o piano e o Arthur continuou sua carreira, democratizando a música assim como faço com minha orquestra. Ele é meu querido irmão e amigo. Um incrível pianista", disse o maestro que, pela dificuldade ao piano, atualmente se dedica à Fundação Bachiana, na qual rege a Filarmônica Bachiana e a Orquestra Bachiana Jovem, que dá oportunidade a jovens carentes da periferia de São Paulo. Um vídeo sobre a trajetória do maestro expôs ao público o trabalho social. "Estava começando uma nova vida, mas quis fazer de tudo para deixar um legado na música. Nesse ano, corri 40 favelas de São Paulo levando música para crianças que nunca tiveram oportunidade." Para iniciar a apresentação, ele tocou a bela Luiza, composição de Antonio Carlos Jobim (1927- 1994). Logo depois, convidou Renato para acompanhá-lo com o violino na Ave Maria de Bach/ Gounod. Aplaudidíssimo pela plateia vip, o maestro dirigiu-se a Arthur e o conduziu ao piano, para ele executar Scherzo em Si Bemol Menor, de Chopin, e Adios Nonino, do argentino Astor Piazzolla (1921-1992), a quem conheceu pessoalmente no Rio. "É uma obra dificílima, ainda mais para piano. Eu tinha muita admiração por ele e gravei um disco de Piazzolla que foi premiado na Europa", conta Arthur, antes de dar a vez à potente voz de Jean William na interpretação de My Way, imortalizada na voz de Frank Sinatra (1915-1998). "Tanto o violinista quanto o tenor irão fazer parte da história do Brasil. São jovens que jamais teriam oportunidade. O cantor foi criado pelos avós, um boiafria e uma faxineira, e hoje significa um exemplo para a periferia. Quando ele cantou na Fundação Casa, a antiga Febem, os garotos choraram de emoção, pensaram em ter futuro. É este tipo de exemplo que temos de dar ao Brasil", refletiu João. "Comecei a cantar aos 8 anos de idade, me formei na USP, Universidade de São Paulo, e, hoje, aos 24 anos, fui convidado para cantar no Castelo de CARAS pelo maestro. Poder dividir um pouco do que eu tanto gosto de fazer com pessoas que apreciam boa música é fantástico", disse Jean, que, assim como Renato, também comemorou a temporada em New York. "Aprendi a tocar com 10 anos no Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, em SP, e estou terminando a faculdade. É um grande prazer estar aqui", contou o violinista, orgulhoso. O ator Carmo Dalla Vecchia (40) e o DJ e modelo Jesus Luz (23) foram os primeiros a levantar para aplaudir o concerto de pé. "Fiquei em êxtase, em transe. Foi um momento muito bonito", disse o eleito da popstar Madonna (52), que se identificou com a noite essencialmente musical. O casal Cid Moreira (83) e Fátima Sampaio Moreira (46), atentos durante a apresentação, ficou emocionado. "Ouvir esses talentos da música me deu um sentimento incrível. É algo que transcende! Jamais poderia imaginar que isso fosse acontecer, ainda mais aqui em New York. Foi o ápice da nossa estada no Castelo", contou Cid, endossado pela mulher, que ficou agarradinha a ele. "Eles nos tocaram profundamente. O Cid é amante da música e tem ouvido ótimo. Isso aqui foi um verdadeiro presente para nós", concluiu a dedicada Fátima.