'O PROBLEMA NÃO ERA SER POBRE, MAS GAGO, GAIATO E GAY. ERA DEMAIS ATÉ PARA MIM'
Redação Publicado em 25/09/2008, às 14h22
por Bianca Portugal
Quando o promoter, colunista e radialista David Brazil (39) começou a contar a história de sua vida em Bariloche, os convidados da Temporada CARAS/ NEVE correram para ouvir. Figura presente na noite carioca, ele é querido por todos os atores, mas poucos sabem os percalços que já enfrentou. Mas em se tratando de David, até mesmo sua trajetória recheada de dificuldades, que começou aos 18 anos, quando trocou Campina Grande, na Paraíba, pelo Rio, sem nenhum dinheiro, é descrita com humor. "O problema não era ser pobre. Era ser gago, gaiato e gay. Era demais até para mim, não é? E, ainda por cima, como meu nome é Francisco, me chamavam de Chiquinho. Olha que horror!", dizia ele, sacudindo orgulhoso as madeixas. "Sabe quantas vezes hidrato o cabelo por mês? Vivo no salão. Era um dos meus maiores sonhos, ter um cabelo que balançasse", contou, levando a platéia às gargalhadas.
- Como foi a chegada ao Rio?
- Vim só com o dinheiro da passagem. Fui morar em um quartinho de empregada em que entrava de frente e saía de ré. E, mesmo assim, fiquei ainda mais nervoso porque precisava arrumar emprego para pagar o aluguel. Fui na banca tentar olhar anúncios sem comprar o jornal, mas o jornaleiro me mandou ralar. Aí, juro por Deus, veio um jornal velho no vento com anúncio para balconista de restaurante em Ipanema. Fui lá.
- E conseguiu o emprego?
- Fui com minha roupa mais bonita, calça preta com vinco bem marcado e camisa de cetim amarelo- ovo. Todos olhavam. Me contrataram, mas como caixa. Já havia sido rejeitado em vários empregos. Uma vez perdi uma entrevista porque era no Largo do Machado e todo ônibus que parava eu perguntava: esse ônibus passa no Lar... no Lar... no Lar? Aí o motorista ia embora. Outra vez, era caixa do Spaghetti Music, em Ipanema, e recebi ordens de jamais atender o telefone. Um dia atendi e falei Spa... spa... spa. Desligaram. No dia seguinte, descobri que era o dono, que me demitiu porque eu não servia nem para atender telefone.
- Quando virou David Brazil?
- Ainda como caixa, peguei o cartão de crédito do Diogo Vilela e vi que o nome dele era outro, João Carlos. Na hora, pensei, vou ter um nome artístico. Passei a ser David dos Santos. Tinha até cartão! Mas sempre passava pela loja Yes, Brazil e achava esse nome lindo. Um dia perguntaram meu nome e eu disse: David Brazil.
- Tentou tratar a gagueira?
- Ih!!! Fui em uma mulher caríssima que me mandava soprar canudinho. Nem voltei. Graças a Deus, porque logo depois o Marcos Breda me pediu ajuda para viver um gago em uma peça. Aí virei matéria em um monte de revista como o gago que dá aula de gagueira. Daí pra frente, ninguém me segurou mais. Virei promoter e terminei conhecendo vários artistas. E aí decolei. Só no Jô Soares já fui quatro vezes e todas foram reprisadas. Então fui oito, né?
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