ATOR, QUE AGREDIU A MULHER, BUSCA O PERDÃO E CRÊ NA RECONCILIAÇÃO
Redação Publicado em 30/08/2006, às 14h06
por Cláudia Boechat
No carnaval deste ano, o país se chocou quando Ingrid (34), mulher do ator Kadu Moliterno (54) há 16 anos, apareceu em uma delegacia policial com o rosto ferido, acusando o marido de ter lhe dado um soco. Na época, ela deu várias entrevistas expondo a vida conjugal do casal como, no mínimo, bastante conturbada. Kadu se calou. Divulgou uma nota à imprensa pedindo perdão e silenciou. Agora, entre as montanhas da Cordilheira dos Andes, resolveu contar seu drama. Foi condenado pela Justiça a prestar serviços comunitários no Lar Maria de Lourdes, que atende crianças com problemas cerebrais, o que tem feito, segundo ele, muitas vezes acompanhado de Ingrid. A pena é de oito horas semanais durante um ano.
Todos esses acontecimentos mudaram radicalmente sua vida. Tanto em questões de foro íntimo, quanto profissionalmente. Achou que jamais se recuperaria. Mas nunca deixou de ser um bom pai, fato reconhecido pela própria Ingrid. Durante a temporada em Termas de Chillán, passeou com os filhos pela região coberta de neve e praticou snowboard com eles. Ficou com os olhos marejados quando Kauai (14) deslizou do cume da montanha acompanhado apenas do instrutor e declarou: "Pai, foi a melhor coisa que eu já fiz na vida."
Em nome dos filhos, Kadu e Ingrid jamais se afastaram. Ele leva as crianças diariamente para a escola e, mesmo ao viajar com Kauai e Lanai (12) para Chillán, fala com a mulher freqüentemente por telefone para saber do caçula, Kenui (8), que foi com ela para a Disney. A família, inclusive, tem planos de
construir uma casa maior. A vida continua. Kadu e Ingrid estão fazendo terapia para superar a mágoa e tentar entender como a relação chegou a um extremo tão grave. Ingrid sofreu a agressão e Kadu afirma que ela disse inverdades na hora da raiva, para se vingar. Isso arruinou a vida dele e, só não foi pior, em sua avaliação, por ter uma reputação bem construída. Hoje, ela não declara mais que ele lhe bateu outras vezes: "Falta de respeito sempre houve, mas agressão física, aquela foi a primeira", garante.
Kadu quer se explicar. Mas sabe que seu ato é injustificável. Busca o perdão. Da mulher e da sociedade. Por isso, resolveu contar a sua história. Ele está retomando a carreira, renovou o contrato com a Globo e foi convidado a atuar na minissérie de Glória Perez (58) sobre a Amazônia.
- O que aconteceu naquele dia que o levou a agredir sua mulher? Estava drogado?
- Não! Jamais. Não gostaria de falar nisso, mas acho que preciso contar como tudo aconteceu. Já havia um clima muito ruim entre a gente. Houve agressões anteriores. Não físicas, claro. Ela vinha fazendo tudo o que eu não gostava. Era um período de carnaval. Ela, contra minha vontade, disse que ia desfilar numa escola de samba. Queria que eu fosse e eu não quis, porque nunca fui de carnaval. Ela foi a ensaios durante um mês mais ou menos. Saía às sete horas da noite, voltava às duas da manhã. Eu perguntava o que estava acontecendo e ela dizia: 'não interessa!' Naquele dia, ela saiu umas dez horas da noite e voltou às oito da manhã. Fiquei com as crianças em casa, como em todos os períodos de ensaio. Ela estava "virada". Uma pessoa quando não dorme fica com os nervos à flor da pele. Continuou me agredindo. "Quero que me leve agora para Cabo Frio, arrume o carro, faz isso, faz aquilo", dizia. E eu fui, quieto. É como uma bola que vai enchendo, enchendo... Aí, eu peguei um tráfego violento. Continuou o mesmo tipo de agressão durante o caminho, aquele calor insuportável... As crianças começaram a brigar entre si no carro.
- Você explodiu.
- Explodi. Ela explodiu com meu filho no carro, atirou um tamanco que estava usando no meu garoto. Parei o carro, falei que ela não podia fazer aquilo, segurei o braço dela, ela me agrediu, eu agredi ela. Foi instantâneo. Ela estava de óculos, por isso feriu tanto o rosto. Sou uma pessoa extremamente tranqüila
e descobri, naquele dia, que também tenho sangue nas veias.
- O que se tornou público era que você se irritou no trânsito e descontou nela. E que bateu nela outras vezes também.
- Isso é doideira. Foi pura vingança, a forma que ela encontrou para também me agredir. Pensei em reagir, processar. Mas concluí que era melhor ficar quieto. Ou seria tudo que a mídia queria: sensacionalismo. A coisa foi falada como final de Copa do Mundo... A reputação construída em décadas foi destruída em um ato. Não sou uma pessoa violenta nem tenho problemas psicológicos de agressão nem de coisa nenhuma. Fiz uma nota à imprensa dizendo que no momento oportuno eu iria falar.
- Mas, em resumo, a nota dizia: ela está certa.
- Não posso dizer que ela está errada. Eu a agredi. E me arrependo muito. Ela foi para a Justiça, eu peguei uma pena e estou cumprindo. Jamais vou me considerar uma pessoa que está certa naquilo que fez. Ao contrário. Assumo aquele momento de destempero, de descontrole, e quero retomar a minha vida em família inclusive com ela. Estou junto com ela, conversando, desde que isso aconteceu. Procuramos ajuda na terapia. Estamos doentes não é de hoje. Acho que é uma enfermidade que vinha crescendo e explodiu nisso. Não podíamos ter deixado a relação chegar a esse ponto. A palavra é tão violenta quanto a agressão física. Mas a agressão física é injustificável.
- E como está atualmente o clima entre vocês dois?
- Estamos tentando entender o que aconteceu. O perdão é uma coisa que vem e vai, a gente perdoa e depois 'desperdoa'. Não vou dizer que está fácil. Mas estamos conseguindo. A vida continua. Nossos filhos não mereciam ter passado por isso. É um momento de tudo pelas crianças, tudo. Seja o sacrifício que for. No início, achei que deveria me afastar. Mas vi que o trauma ia ser muito maior para as crianças. Sempre me orgulhei de ter uma família unida. O fato de a gente estar indo no Lar Maria de Lourdes nos mostrou que o nosso problema é tão pequeno e nos aproximou, como seres humanos. Vamos encontrar, conscientemente, de uma maneira adulta, uma separação amigável, se for o caso. A pior coisa seria se separar com ódio. É possível até que a gente se reconcilie. Nós estamos melhorando como pessoa.
- Parece que vocês estão vivendo uma mistura de emoções.
- Não sei se a gente vai conseguir resgatar a paixão, o amor, mas, se conseguirmos continuar lado a lado, criando nossos filhos, seja qual for a nossa opção - separados ou juntos -, isso devolve a dignidade ao casal. Temos que esclarecer essa situação porque, para a sociedade, eu sou uma pessoa que bato numa mulher durante 15 anos e ela é uma mulher que gosta de apanhar e quis aparecer. A gente tem que limpar isso. Se eu ou ela tivesse mesmo uma índole negativa, a gente nunca mais ia se olhar, guardaríamos um rancor que jamais iria se desfazer. Existe uma mágoa, mas há também uma predisposição de perdoar. A Ingrid é muito honesta, generosa, uma excelente mãe, qualidades sufocadas durante um período...
- Como foi o seu casamento?
- No início, existia muito ciúme. Das duas partes. Ela era muito novinha, é 20 anos mais nova do que eu, que já era um ator consagrado. Fui seu primeiro namorado. Na festa do nosso casamento, ela disse que queria ter seis filhos. Essa disposição de formar uma família me deixava muito feliz. Só que uma coisa é você sonhar, outra é realizar. E o processo de realização disso foi muito difícil. A terapia está nos fazendo descobrir coisas que foram sufocadas durante esses 16 anos. Por exemplo: ela era bailarina, atriz, e nunca conseguiu exercer a profissão. Logo que se casou teve três filhos seguidos e passou oito anos só sendo mãe. E esposa de um ator que cada vez fazia mais sucesso, que contracenava com mulheres bonitas. E a gente cada vez mais foi tendo problemas em casa. Quando se é pai e mãe, você deixa de ter a relação marido e mulher, passa a ser só pai e mãe. Aí, ela quis retomar a vida dela, terminar a faculdade, voltar a trabalhar. Dei toda a força. A gente nunca teve uma família por perto para ajudar com as crianças e tinha muito medo de deixar nossos filhos com pessoas estranhas. Isso fez com que eu ficasse em casa e ela fosse para a faculdade ou ela ficasse em casa e eu fosse para o trabalho. A gente não saía para jantar, não ia ao cinema, não saía para nada. Era uma vida dedicada às crianças. O homem e a mulher se perderam nessa história.
- Como é o seu trabalho no Lar Maria de Lourdes?
- As crianças têm problemas cerebrais graves. Não falam, não escutam. Vegetam. A única coisa que posso fazer é dar amor. Os primeiros dias foram dificílimos. Eu pensei: 'Meu Deus, como vou poder ajudar essas crianças?' Depois, fui descobrindo que só o fato de estar ali, dando comida, carregando de um lado para o outro, levando para o sol, você está ajudando. E a Ingrid é uma pessoa tão generosa que vai junto comigo. Descobri na minha esposa esse lado generoso e isso nos aproximou de uma outra maneira. Um casal que se desentendeu e chegou a um extremo, agora é muito unido nesse lado.
- Essa história que vocês dois estão vivendo parece bastante incomum, não é?
- É. Depois que ela foi à mídia, se arrependeu a ponto de chorar e me pedir perdão. Eu dizia: mas agora você já fez isso. E ela dizia: mas você também já fez. E ficavam os dois chorando muito e se perguntando: e agora? Aí, veio a intimação judicial e ela disse que não iria dar continuidade àquilo, que já tinha prejudicado demais a nossa família. Mas ela ficou sem saída, ficou entre o amor da vida dela - isso dá uma novela - e sua imagem pública. Depois de tudo que tinha dito na televisão, ela não podia voltar atrás. Mas as coisas não acontecem por acaso. Quando comecei a freqüentar o Lar Maria de Lourdes descobri porque a gente chegou a esse ponto. Eu tinha que resgatar a solidariedade, o amor ao próximo, deixar os pequenos problemas de lado.
- Está encontrando um aspecto bom nessa história?
- Se você pensar bem, é uma história romântica. É negativa, mas o resultado pode ser muito positivo pela solidariedade e pelo amor. Continuamos próximos, apesar de a gente não estar bem. Temos uma família. Agora, precisamos resgatar a dignidade, a reputação, o caráter... Por trás disso tem um amor muito grande. E tem também problemas que a terapia vai descobrindo.
- Você acha que ainda pode resgatar o seu casamento?
- Acho. Pode ser resgatado e vir a ser muito melhor do que foi. É muito mais fácil o outro caminho, o da agressão. É muito mais fácil você pegar sua trouxa, sair de casa e chegar para os amigos no bar e falar: "Ela era isso, era aquilo". E ela se juntar com as amigas e falar: "Homem é tudo igual ...". Difícil é perdoar. Nós estamos nesse processo: buscando uma solução.
- Como conseguiram isso?
- Tem paixão, amor, tem respeito. Nós já desrespeitamos muito um ao outro, mas a paixão é tão poderosa que pode destruir tudo para depois nos levar a dizer: estou apaixonado por você. Não posso afirmar agora que o resultado vai ser esse final feliz. Mas com a ajuda da terapia, com o apoio da família e dos amigos, é até possível uma reconciliação. Quem sabe a gente não consegue dar um bom exemplo daqui para frente?
Agradecimentos: Timberland, Bill, MissBella, Miss Sixty, General Cook, Acessorize, Bizarre, Trousseau, La Martina, Estela Maris, Cecilia Prado, Kangol, Dee Vice, Evoke e Ótica Morrison; Produção Visual: Carlinhos Duarte/ CHD Produções e Eventos; Figurino, Cabelo e Maquiagem: Fabinho Araújo by Bed Head/ Tigi e Paul Mitchell; Coordenação operacional: Jaime Borquez.
FOTOS: MARTIN GURFEIN
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