Em entrevista à CARAS Brasil, a artista plástica Lia Khey, ex-participante do BBB 10, analisa o BBB 25 e reflete sobre sua jornada no reality há 15 anos
A ex-dançarina e atriz Lia Khey (44) é lembrada até hoje por sua participação marcante no BBB 10, reality show da TV Globo. E é dela o famoso bordão "Olha no meu olho". Atualmente, a paulista trabalha como artista plástica. Suas obras de escultura têxtil, além de terem rodado o mundo, fazem parte da decoração de diversos famosos como Sharon Menezes (41) e Tiago Abravanel (37). Em entrevista à CARAS Brasil, ela analisa o BBB 25, relembra experiência no confinamento e reflete sobre sua jornada no programa. "Aprendi que sou passível de ser amada", avalia.
Com a falta de comprometimento do elenco e poucos conflitos, a atual edição do Big Brother Brasil tem penado para alcançar bons resultados desde a sua estreia. Questionada sobre o que está achando do jogo, Lia comenta: “Tenho acompanhado, mas estou sentindo o programa um pouco morno. Não estou achando ele muito movimentado, e não creio que seja por conta da direção, mas mais por conta das pessoas mesmo que foram escolhidas. Não sei, estou achando meio morno”.
Para a artista, o BBB é uma grande oportunidade para se autoavaliar. “Porque a gente passa por um processo superpotente, sob pressão absoluta. E na minha concepção, a gente leva algo a ser trabalhado, sabe? Para mim, principalmente fazendo uma avaliação olhando daqui, percebo o tamanho da minha carência, da minha solidão; realmente eu era uma pessoa muito sozinha, me sentia assim, e ali fica claro sobre o quanto estabelecer uma amizade foi importante. Esse foi o enredo do meu arco dramático. O valor das relações”, diz.
“E hoje, olhando daqui – tenho uma rede de apoio de poucas e incríveis pessoas ao meu lado, e eu me considero uma boa amiga – percebo o quanto é importante mesmo para mim, sabe? E o quanto faz sentido a minha história ter sido voltada para isso. Acredito que a vida é uma busca constante por autoconhecimento e evolução. Creio que a gente está aqui para agregar valor no mundo, e o Big Brother me ajudou muito nesse sentido. E não no momento em si, mas no decorrer da minha vida e como ele foi se manifestando”, continua.
Lia confessa que precisava se amar e ser mais afetuosa consigo mesmo. “O reflexo disso foi quando fiquei desapontada. Primeiro, porque ao sair, tudo muda. O (Pedro) Bial falava sobre isso. Ele falava: ‘Vocês acham que estão passando turbulências aqui? Vocês vão ver quando vocês saírem. Aqui vocês estão blindados’. Creio que ele tenha dito isso não só em relação ao público, ao assédio, à vida, à mudança, à fama, ao dinheiro, mas internamente. Fiquei muito tempo sem conseguir me assistir por causa desses apontamentos. Porque, de uma certa maneira, todo mundo sai muito mexido de lá. Desde as pessoas que são campeãs, dependendo do arco dramático, né? Eu saio ali no último paredão depois de ter ganhado de uma das favoritas. E aí, quando saio, fico com uma sensação de desapontamento comigo mesma”, pontua.
VIROU MEME
Dez anos após a sua participação no programa, Lia se deparou com o resgate de registros do BBB 10. Suas reações, gírias e frases passaram a virar memes entre os jovens, que têm compartilhado sua imagem nas redes sociais. E ela reflete sobre isso: “Quando os memes começaram a viralizar e tal, nessa de eu ser convidada para reagir às minhas cenas, acabei me olhando e me apaixonando por mim, me vendo de um jeito diferente. Me apaixonando não, me admirando. Comecei a entender o que as pessoas diziam. Acho que às vezes a gente – eu que era uma pessoa muito solitária – acho que existia uma dificuldade também de me sentir amada. Tanto pelas pessoas quanto por mim mesma. Porque tudo que queria, tudo que buscava era ser amada. Hoje, quando olho, é isso que vejo”.
“Quando digo solitária, é por conta também da minha história pregressa em relação a uma família disfuncional, a escassez financeira. Sempre trabalhei muito. A minha mãe também. Eu ficava muito tempo sem a minha mãe. Essa solidão vinha já dessa sensação dentro de casa. E aí, quando os memes aconteceram, tive essa oportunidade – é aquela história: não é terapia, mas é terapêutico. Então, os memes foram terapêuticos para mim. É como se houvesse uma reparação histórica de mim para comigo mesma. Olha está vendo, Lia? Como você foi incrível. Ame essa pessoa que você foi. Porque fui incrível mesmo, me considero incrível. Me joguei, fui leal, verdadeira. Me entreguei, chorei, ri, brinquei, briguei. Não tinha treinamento”, completa.
USO DE COACHES NO BBB
O uso de coaches tem sido cada vez mais comum entre os integrantes do Big Brother Brasil. Profissionais do tipo já foram usados na preparação de ex-integrantes como Fiuk (34), Jade Picon (23) e Rafa Kalimann (31). Lia Khey também opina sobre isso: “Não acredito nessa coisa de treinamento, muito pelo contrário. As pessoas fazem coaches antes de entrar (...) Creio que isso só atrapalha o desempenho delas, porque o que as pessoas querem ver são pessoas reais, de verdade, pessoas que falham e acertam. É isso que faz com que as pessoas criem essa empatia, essa simpatia por quem está participando. Então, quando me olho, vejo alguém muito especial hoje. E fico muito feliz por ter esse cuidado comigo mesma hoje, porque fiquei muito tempo sem ter”.
Lia recebe o carinho do público até hoje. “Eu amo, é muito legal. Tenho amigos que torceram por mim, depois que eu, por exemplo, me curei dessa coisa de não conseguir me ver; virou meio que uma festa a gente se reunir e ficar assistindo vídeos da minha edição. Porque a minha edição em si foi muito incrível, né? Então é muito legal. E também pela questão dos memes, acontece muito. Adoro quando estou passando e a pessoa fala, por exemplo, ‘ela não tem esse direito’ ou ‘olha no meu olho’. Também ‘tem minha mãe, que linda’. Vou a lugares públicos, geralmente em festas e eventos, e isso acontece e eu adoro, amo e me amarro (risos)”, festeja.
CONTATO COM OS COMPANHEIROS DE CONFINAMENTO
A artista plástica revela que mantém contato até hoje com algumas pessoas que participaram da sua edição. “A gente tem até um grupo. Lá estão Serginho, Dicesar, Fernanda, Dourado, Eliéser. A gente se comunica a hora e vez. Quando esse grupo surgiu, não faz muito tempo, foi superlegal, superbacana. Gosto muito desse contato, ainda que seja pouco, porque fico feliz. Quando os encontro, o que lembro é sobre o quão importante foi o Big Brother na minha vida”, garante.
“Principalmente na minha jornada de autoconhecimento. Ele é um estudo sobre mim mesma; fora a intensidade, fora o fato de ter sido uma das edições mais incríveis, de ter sido tão intenso, a minha mãe estava viva (...) A Anamara também está nesse grupo. Contato, de trocar uma ideia, é mais com o Serginho e Dourado. E Anamara, por um desejo, gostaria de vê-la mais. A gente tem esse afeto uma pela outra. Ah, poxa, não posso esquecer da Elenita, maravilhosa também. Tenho contato com ela, tenho planos de encontrá-la e ela também está nesse grupo”, acrescenta.
APRENDENDO COM O BBB ATÉ HOJE
Mesmo após 15 anos do programa, Lia Khey reforça que ainda aprende com o Big Brother Brasil, e todos os dias. “Porque, como eu disse, ele é um estudo sobre mim mesma. Aprendi que sou uma pessoa passível de ser amada, independente do meu status. Como tive uma infância muito escassa e sofri muito classismo, isso era uma constante na minha vida, eu, inconscientemente, acreditava que a partir do momento que me tornasse uma pessoa famosa ou com dinheiro, teria pessoas à minha volta. E foi o meu momento de maior solidão, com exceção dos meus amigos do Rio”, fala.
“Mas São Paulo, que é o meu lugar, percebi o quão despertencente me sentia internamente; percebi isso. Então, é uma grande lição para mim. Porque depois que essa onda passou, que me encontrei como artista e nem tinha mais esse dinheiro, foi quando conheci os meus verdadeiros amigos, reconheci. Então, a minha lição mais valiosa é que preciso ser gentil comigo e que sou foda, sou incrível, sem falsa modéstia. Sair de onde saí, conquistar o que conquistei, depois recomeçar tudo de novo, e ser quem sou para essas pessoas e sempre fui para quem se acercava de mim”, completa.
A ex-BBB ensina e reforça que aprendeu a entender que é amada por ela mesma, e que pode ser amada pelas pessoas que estão à sua volta. “É interessante porque parece algo tão simples, mas acredito muito que tem gente que está rodeada de pessoas e não tem um amor genuíno e também não tem espaço para amar genuinamente. Eu tenho. E fico muito feliz com isso, sabe? Quem não sabe de onde vem não sabe para onde vai, então estar ali foi muito importante, dentro de um contexto geral, não só a permanência ali dentro, mas tudo que permeou a minha jornada e o fato de eu ter oportunidade de poder me autoavaliar através dessa jornada que tracei dentro da casa”, filosofa.
NOVAMENTE NO BBB?
Lia Khey não esconde a vontade de participar do reality show novamente. “Ah, eu participaria, sim. Creio que eu seria tão boa para o BBB quanto ele seria para mim, sabe? Acho que as pessoas poderiam, inclusive, pensar mais a respeito disso. Porque a gente entra, a gente está na Globo, é um programa, é uma grande oportunidade, mas o que você tem a acrescentar a esse programa que é visto pelo Brasil inteiro? O que você vai fazer de valioso ali? Você vai conseguir ser você mesma? Tenho certeza que eu seria eu mesma e tenho certeza que teria acrescentar tanto quanto o contrário. Não é uma troca unilateral. E que eu ia entregar muito (risos)”, frisa.
A ex-dançarina ainda é muito lembrada por sua participação no BBB 10. E ela acha que o motivo pelo qual as pessoas têm essa memória ainda muito latente é por conta da sua entrega, desempenho e coragem de se jogar. “E de ser eu mesma, o combo inteiro. E a importância que eu dava para aquilo. Estava muito feliz de estar ali dentro, era muito importante para mim. Essa vontade. Então, acho que as pessoas reconheceram isso, se reconheceram nisso. E até quem não gostava de mim, que é normal, né? Ninguém é uma unanimidade. Como diria Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra. Então, independente de gostar ou não de mim, acredito que essas pessoas se lembrem pela história que a gente contou lá dentro. E também devo isso a quem estava ao meu lado, a gente contou uma história muito bonita”, crava a artista.
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