Ex-Malhação Renata Sayuri expôs caso de violência sexual que deixa marcas até hoje e psicoterapeuta analisa situação delicada; confira
Publicado em 23/04/2025, às 16h55
A atriz Renata Sayuri, de 44 anos, conhecida por sua participação na temporada de 2011 de Malhação, revelou um episódio traumático que viveu aos 23 anos: uma violência sexual sofrida após uma confraternização de trabalho. Três meses depois, precisou realizar um aborto. A denúncia nunca foi feita, mas a dor permaneceu e seis meses após o ocorrido, Renata recebeu o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar.
Para compreender os efeitos profundos que uma violência sexual pode causar, a CARAS Brasil conversou com a psicoterapeuta Pollyana Esteves, que explicou como traumas dessa natureza impactam a vida da vítima de forma duradoura.
Segundo a especialista, o impacto vai muito além do momento vivido. O corpo e a mente reagem criando mecanismos de defesa, muitas vezes inconscientes.
"O trauma de uma violência sexual desencadeia diversos traumas, e com isso, nosso corpo e nosso inconsciente mobilizam vários mecanismos de defesa. O transtorno bipolar (caso da atriz Renata Sayuri) é um desses mecanismos, como se criasse, entre aspas, uma nova personalidade capaz de lidar com o ocorrido, ou uma personalidade que se torna mais séria, ou mais reservada, com o objetivo de proteção", conta.
Esses mecanismos podem se expressar até fisicamente: "Por exemplo, algumas pessoas ganham peso como uma forma de não se sentirem atraentes e, assim, evitar esse tipo de acontecimento. Muitas pessoas traumatizadas têm dificuldades em estabelecer relacionamentos. O impacto do trauma depende muito de como cada indivíduo, cada inconsciente, absorve aquela violência sexual."
A especialista diz que sim e esses fatores influenciam diretamente a forma como a vítima processa o trauma. "A idade em que ocorreu influencia, assim como a proximidade com o agressor. Se a violência foi cometida por um familiar, o impacto é maior do que se foi por um estranho."
"Há diversos tipos de violência, incluindo aquelas com penetração e o ato sexual completo. O trauma se manifesta de várias formas, e existem quatro graus de trauma. Um deles, o terceiro grau, está associado ao desenvolvimento da bipolaridade. Muitos casos de bipolaridade decorrentes de trauma podem ser curados ao se resolver o trauma original. Contudo, há pessoas que têm bipolaridade primária, que não tem cura. Mas a bipolaridade causada por um trauma, especificamente o trauma de terceiro nível, pode ser revertida", diz a psicoterapeuta.
Vergonha, culpa e medo. Esses são os principais motivos apontados por Pollyana para o silêncio que cerca tantas histórias de abuso: "A maioria das pessoas permanece em silêncio porque, geralmente, sente-se culpada. A vítima se sente como se tivesse provocado ou contribuído para o ocorrido. Principalmente se a violência ocorreu na infância, isso gera muita culpa e medo."
Ela continua: "Em casos de abuso intrafamiliar, muitas vítimas não relatam por receio das consequências, como a desagregação familiar ou até mesmo ameaças graves. Muitos medos levam a pessoa a não contar e a guardar o segredo."
O impacto do silêncio não tratado pode ser devastador, atingindo até mesmo o nível máximo de trauma: "O silêncio agrava ainda mais o trauma, pois viver essa experiência sozinha, sem ajuda para processar o que aconteceu, leva ao que chamamos de desamparo aprendido. (...) Isso afeta o âmbito profissional, pessoal e diversos outros setores da vida", declara a especialista.
Segundo a psicoterapeuta, sim e muito: "Em relação ao aborto decorrente de violência sexual, isso intensifica ainda mais o trauma. (...) Mesmo nos casos em que o aborto é autorizado devido ao estupro, o processo de interromper a gravidez é traumático."
"Já atendi diversas pacientes que passaram por essa situação e, posteriormente, tinham muito medo de tentar engravidar novamente (...) como se fossem ser punidas. Apesar de a gravidez ser resultado de um ato de violência sexual, elas se sentiam culpadas por terem feito o aborto", relembra ela.
Pollyana analisa que enfrentar esse processo pode levar a atitudes extremas: "Passar por todo o processo de aborto pode causar diversos traumas e levar até ao trauma de nível 4, que é quando a pessoa se torna suicida, o nível máximo de trauma."
Para a rede de apoio de pessoas que são vítimas de violência sexual, a especialista explica o que deve ser feito: "Jamais se deve culpabilizar a vítima. Se ela se sentir culpada, é preciso ajudá-la a entender que de forma alguma ela tem culpa, inclusive em relação à decisão de abortar."
"Ao lidarmos com abuso sexual na infância, é crucial que os pais estejam atentos a mudanças no comportamento dos filhos (...) Essas mudanças de comportamento, mesmo em adolescentes, devem ser observadas", garante a psicoterapeuta.
Pollyana acredita que, embora desafiador, o processo de cura é possível e tratamentos inovadores, como o uso terapêutico de psicodélicos, podem ser eficazes em alguns casos.
"Em casos de traumas de abuso sexual mais profundos, é muito importante estudar a questão do psicodélico (...) Devido à neuroplasticidade e às novas conexões neuronais que promove na mente, é possível ver a situação de outra forma e realmente se libertar dela. Pessoas que vivenciam o abuso têm o sistema nervoso central (...) desregulado. É como se estivessem sempre tensas, sempre esperando que algo ruim aconteça."
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