Em entrevista à CARAS Brasil, a geriatra Roberta França analisa como envelhecimento e doenças crônicas contribuem para casos como o de Francisco Cuoco
Publicado em 20/06/2025, às 18h15
A morte de Francisco Cuoco, aos 91 anos, trouxe à tona um alerta importante sobre os riscos enfrentados por idosos que acumulam doenças crônicas e fragilidades associadas à idade. O ator, ícone das novelas brasileiras, estava internado havia 20 dias no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e faleceu em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo informações divulgadas pela família. Mas o que significa esse diagnóstico e por que ele é tão comum na terceira idade?
Em entrevista à CARAS Brasil, a geriatra Roberta França explica os riscos envolvidos nesse tipo de quadro e aponta sinais importantes que familiares devem observar para evitar o agravamento do estado de saúde dos idosos.
De acordo com a médica, esse tipo de desfecho costuma estar ligado a uma infecção generalizada, conhecida como septicemia. “A falência múltipla de órgãos é uma condição grave, onde múltiplos sistemas deixam de funcionar adequadamente e ordenadamente. A principal causa é a septicemia, que é o que a gente chama de infecção generalizada, que, na verdade, é uma grande resposta inflamatória, uma resposta inflamatória grave a essa infecção generalizada”, explica.
Ela destaca que há outros fatores que podem contribuir para esse cenário, especialmente em pessoas idosas. “Muitas coisas podem levar a um quadro de falência múltipla de órgãos, por exemplo, não só as infecções graves, mas os traumatismos, as queimaduras e múltiplas comorbidades, principalmente a gente pensando em idosos que têm hipertensão, diabetes, cardiopatias, infecções em insuficiência renal e múltiplas outras condições que afetam e pioram o seu sistema”, detalha.
Para a médica, a idade aumenta realmente o risco de doenças, e de forma significativa. Ela alerta que o corpo de um idoso tem menos reservas para reagir a situações de estresse, como infecções. “A idade avançada aumenta muito esse risco da gravidade da falência porque há uma grande redução do que a gente chama de reserva funcional do idoso, que é a capacidade do seu corpo em responder a esses estresses que podem acontecer, e a imunidade que a gente já sabe que é muito reduzida no idoso. Então, associado a isso, múltiplas doenças crônicas pioram muito a resposta fisiológica, levando o paciente a um comprometimento sistêmico muito grande e um risco muito maior de ir a óbito diante de um quadro séptico ou de um quadro de falência”, afirma.
Quando um idoso enfrenta problemas como obesidade, dificuldades respiratórias e baixa mobilidade, o impacto é direto na qualidade de vida e na resistência do organismo. “Toda condição, toda doença crônica, ela já vai gerar uma resposta fisiológica diferente e ela já vai gerar um declínio funcional e também cognitivo ao longo dos anos. Quando tenho idosos que apresentam obesidade, que apresentam dificuldade de locomoção, que apresentam doenças crônicas como o próprio diabetes, a hipertensão arterial e alguns tipos de cardiopatia, esse somatório reduz muito a qualidade de vida desse paciente porque é um paciente que funciona mal”, aponta a geriatra.
O sedentarismo, alerta a médica, cria um ciclo vicioso: “A gente sabe que a baixa mobilidade compromete muito mais o sistema porque é um ciclo vicioso. O paciente se locomove mal, ele fica mais tempo parado, aumenta o seu risco de trombose, aumenta o seu nível de obesidade, piora sua hipertensão, piora o seu diabetes e aí ele caminha menos, ele faz menos exercícios porque ele se sente mais cansado e aí ele se sentindo mais cansado ele acaba engordando mais, ganhando mais peso e tendo uma piora clínica funcional muito grande”.
Segundo a especialista, a perda da funcionalidade motora é um dos primeiros sinais de alerta. “Idoso precisa de movimento. Esse talvez seja a coisa mais importante da gente falar. Idoso que para, idoso que não faz atividade física, vai para uma cadeira de rodas mais cedo ou mais tarde. A gente precisa entender que a funcionalidade motora é fundamental para que a gente mantenha esse paciente funcionando com qualidade de vida e com autonomia. Você perde muito da sua autonomia quando a sua parte motora começa a se comprometer. E comprometendo a parte motora, gradativamente, a parte cognitiva também irá se comprometer”, alerta.
Ela enfatiza a importância do envolvimento da família: “É muito importante que a família se atenha a esses sinais, quando esse paciente começa a ficar mais parado, com mais dificuldade de executar tarefas simples no dia a dia, queixando-se que não consegue, que não pode, querendo cada vez mais se isolar do convívio social. A gente precisa achar alternativas e formas de reverter essa situação”.
Por fim, a médica reforça que o envelhecimento deve ser acompanhado de escolhas conscientes e hábitos saudáveis: “Mais importante do que ganhar muitos anos de vida é a gente ganhar qualidade nesses anos de vida que a gente tem. Senão não faz o menor sentido”.
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