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Bebê / Anuário

Os dilemas da maternidade

Com o aumento da liberdade de escolha para as mulheres, também cresceram as possibilidades em torno do seu papel, tendo que conciliar a profissão com a rotina doméstica e o sonho (ou pressão) de ser mãe

Camila Carvas Publicado em 03/09/2011, às 08h23 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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Miranda Kerr amamenta o filho Flynn; mãe aos 27 anos, a modelo fez da maternidade sua prioridade - THE GROSBY GROUP
Miranda Kerr amamenta o filho Flynn; mãe aos 27 anos, a modelo fez da maternidade sua prioridade - THE GROSBY GROUP

Houve um tempo em que a mulher brincava de casinha quando criança e seguia cuidando do “lar” – e do marido – na vida adulta. Elas se casavam antes dos 20, tinham filhos bem cedo e, assim, cumpriam o papel de mãe e esposa dedicada. Mas a pílula anticoncepcional surgiu, os sutiãs foram queimados em praça pública, os divórcios se tornaram mais frequentes, a máquina de lavar roupa se popularizou e as mulheres expandiram seus horizontes. Ganharam as universidades e o mercado de trabalho. Conquistaram o direito de decidir o seu futuro e o que fazer com o próprio corpo.

A pílula e o divórcio contribuíram para a autonomia das mulheres em relação ao casamento e à gravidez e possibilitaram novas escolhas. “As mulheres começaram a estudar e se profissionalizar e estão, sim, mais exigentes no sentido de poderem escolher os caminhos de uma vida mais feliz com ou sem um companheiro ou companheira”, diz Sandra Azeredo, psicóloga da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho completa essa revolução porque dá autonomia financeira.
E os movimentos feministas e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) ajudaram homens e mulheres a escolherem seus parceiros sem se sentirem obrigados a ficar presos a um casamento tradicional.

E se há duas gerações as mulheres tinham seus primeiros filhos com 18, 19 anos, hoje isso acontece, pelo menos entre as mulheres com melhor formação escolar, mais tarde. “A mulher quer ampliar seus estudos e conseguir um status profissional porque sempre há uma interrupção quando se tem filhos”, diz Ceneide Cerveny, psicóloga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “E o dinheiro está ligado à carreira porque um trabalho melhor oferece uma remuneração melhor
e, consequentemente, condições melhores de vida para as crianças, como creche e babá”
, acrescenta. Existe uma estreita relação entre bons níveis de escolaridade, reduções nas taxas de fecundidade e aumento da idade média com que as mulheres têm seus filhos. Entre aquelas com menos de 7 anos de estudo, a média é de 25,2 anos e entre as com mais de 8 anos de estudo, é de 27,8, apontam as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas, para algumas mulheres, a maternidade ainda vem em primeiro lugar. A top model australiana Miranda Kerr, 27, já disse que não vê problemas em colocar suas ambições pro ssionais em espera. “Para mim, família é vida”, falou à revista W. “Minha carreira tem sido maravilhosa, mas não é a minha vida, não sinto pressão para voltar a trabalhar”.

Na década de 1990, Lisandra Souto deixou de lado a carreira de atriz para se dedicar ao projeto de ser mãe. A primeira gravidez foi aos 25 anos. “Parei quando comecei a tentar engravidar, mas demorei para conseguir, uns três anos”, conta. Sem nenhum arrependimento, Lisandra diz que mesmo antes de conhecer o marido, o jogador de vôlei Tande, sempre sonhou em poder cuidar e curtir os filhos o máximo possível. “Pude ver os primeiros passinhos, ouvir o mamãe”, lembra. Agora que os pequenos cresceram, e têm 11 e 7 anos, ela abriu uma clínica de estética, pertinho de casa, o que permite ter um horário flexível. A pressão para que as mulheres assumam o papel de mãe ainda existe. “A maternidade é uma instituição poderosa que é a
base da própria de nição do feminino. Ela seria a essência biológica que define a mulher”, em 90. “As mulheres têm acesso às novas técnicas de reprodução assistida e se dispõem, mesmo com riscos, a ter uma gravidez em idades mais
avançadas”
, dizMargosian. Não existe consenso para determinar a idade limite para ter um filho. Mas sabe-se que um grande adiamento vai resultar em mães entrando na menopausa com filhos na adolescência, o que pode gerar conflitos. A psicóloga Sandra Azeredo acredita que a partir dos 45, 50 anos, o corpo já não tem o vigor e a energia de antes. “E ser mãe exige uma enorme energia”, diz Sandra. Apesar disso, dados do IBGE revelam que de 1999 a 2009 houve um aumento na proporção de casais sem filhos, indo de 13,3% para 17,1%. Nem todas as mulheres estão dispostas a conciliar carreira e filhos. A maternidade, portanto, deixou de ser uma obrigação e passou a ser uma opção. E uma opção não apenas para quem não quer,
mas também para quem deseja ser mãe. Afinal, os avanços da medicina reprodutiva permitiram que mulheres solteiras, com problemas de infertilidade ou mais velhas conseguissem engravidar.

Em 2010, o centro de medicina reprodutiva Huntington atendeu 1500 casos, 500 de mulheres abaixo de 35 anos e 1000 acima dessa idade. “Aos 35 anos, a mulher tem uma queda abrupta de fertilidade”, diz Eduardo Motta, ginecologista e diretor do
Huntington. Ele conta que aos quatro meses de vida, ainda dentro do útero da mãe, a mulher tem cerca de 20 milhões de folículos ou óvulos primordiais. Quando ela nasce, são apenas 2 milhões. E quando chega à puberdade, restam 400 mil. Esses óvulos têm uma vida biológica já estabelecida, podem durar dias, meses ou anos, e serão gastos, eliminados e deteriorados ao longo da vida. Quanto mais idade a mulher tiver, mais difícil será engravidar. E quanto mais velhos os óvulos, mais difícil se dividirem bem.

E mesmo que engravide, a mulher mais velha deve ter mais cuidados. “Ela já tem mais tendência a desenvolver doenças como diabetes ou hipertensão”, diz o ginecologista João Leandro Costa de Matos, coordenador do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Balbino, no Rio de Janeiro. O ideal é cuidar da alimentação, não fumar e fazer exercícios físicos. “Principalmente a partir dos 35 anos, há um aumento de risco para a mulher e para a criança”, completa Marcos Margosian, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz. Crescem as chances de abortamento, prematuridade e bebês com distúrbios neurológicos. Se aos 30 anos, por exemplo, a chance de ter um filho com Síndrome de Down é de uma em 800, aos 40 é de uma em 90. “As mulheres têm acesso às novas técnicas de reprodução assistida e se dispõem, mesmo com riscos, a ter uma gravidez em idades mais avançadas”, diz Margosian. Não existe consenso para determinar a idade limite para ter um filho. Mas sabe-se que um grande adiamento vai resultar em mães entrando na menopausa com filhos na adolescência, o que pode gerar conflitos. A psicóloga Sandra Azeredo acredita que a partir dos 45, 50 anos, o corpo já não tem o vigor
e a energia de antes. “E ser mãe exige uma enorme energia”, diz.

Porém, com o estilo de vida contemporâneo, a maternidade tem sido cada vez mais adiada. A apresentadora Adriane Galisteu, a cantora Ivete Sangalo e as atrizes Betty Goffman e Suzy Rêgo são exemplos recentes. Isabella Fiorentino, modelo e apresentadora, também adiou o plano de ser mãe em função da carreira. “Quando me casei, estava com 31 anos. A ideia era engravidar logo na lua de mel! Mas recebi o convite para apresentar o Esquadrão da Moda e resolvi esperar mais um pouquinho!", lembra Isabella. Mas o programa que inicialmente iria durar seis meses acabou sendo estendido. “Percebi que não teria escolha, era chegada a hora de realizar o sonho de ser mãe! O que pesou mesmo foi a idade... o Esquadrão não
sairia do ar tão cedo e meu marido já estava ansioso para ser pai!”
, diz a modelo, que engravidou aos 33 anos.

A maternidade pode não ser mais uma unanimidade, mas ainda é o sonho de muitas mulheres. Mulheres que podem, sim, desejar outras coisas, mas também querem ser mães. E foi, entre outros motivos, para ajudar quem resolveu esperar um pouco — ou quem já tinha algum tipo de problema — que a medicina reprodutiva evoluiu tanto. As novas técnicas, como o congelamento de óvulos, aumentam as esperanças, mas não consertam os poucos e envelhecidos óvulos. Por isso, quem pretende ter um filho, mesmo que num futuro “distante”, deve procurar um especialista antes dos 35 anos. O mundo se transformou, muitos paradigmas caíram por terra, as mentes estão mais abertas ao diferente, mas a biologia continua igual. E esse é o maior dilema da maternidade no século 21.