CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil

Amamentar exige persistência, apoio e rotina. Veja depoimento de uma mãe

Ana Paula de Andrade Publicado em 07/08/2013, às 15h50 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Especial amamentação: mãe fala sobre sua experiência - Shutterstock
Especial amamentação: mãe fala sobre sua experiência - Shutterstock

Minha gravidez foi planejada, apesar de ter esperado bastante tempo pra isso acontecer. Foram sete anos de casamento até o dia que conversando com meu marido decidimos que estava na hora de tentar. Foi tão rápido que não deu nem tempo de me “preparar psicologicamente”. Foi uma gestação muito desejada, tranquila, sem nenhuma complicação. Sou psicóloga e parei de atender três dias antes da Mari nascer.  É a maior emoção que alguém pode ter e foi assim que consegui compreender o real significado da frase “amor à primeira vista”. Lembro como se fosse hoje, aquele amor arrebatador imediato brotando do meu coração.

Sempre quis amamentar e pretendia fazê-lo até os seis meses, exclusivamente. Mas se não fosse possível, faria o que fosse necessário para ficar tudo bem comigo e minha filha. Lembro que durante a gestação já preparei o bico passando bucha e um creme com lanolina no último mês da gravidez para evitar as tão temidas rachaduras. Para mim funcionou e não tive problema com o seio ficar muito machucado. Minha GO também orientou muito bem entregando instruções por escrito do que fazer nos primeiros dias de amamentação. Lembro que li atentamente: “primeiro dia: mamada de 5 minutos em cada seio para evitar rachadura e dor. Depois, aumentar para 10 minutos em cada seio até sentir que não está mais tão sensível ou dolorido.” Recorri a elas algumas vezes quando tinha alguma dúvida ou achava que minha filha não tinha mamado o suficiente. Ainda na maternidade, ela também receitou um remédio que espirrava no nariz antes de cada mamada para ajudar na produção do leite e deveria ser usado já na primeira semana. Também li bastante a respeito da amamentação, mas nada como a prática pra você ver como realmente a coisa acontece e percebi que amamentar não é pra qualquer um. Precisa ser muito (muito mesmo) persistente, ter muita estrutura e estar e se sentir confortável com a situação.

+ Especial Amamentação: mãe de primeira viagem fala de suas descobertas

No início morria de medo e tinha muitas dúvidas sobre o quanto Mariana havia mamado.  Se tinha sido o suficiente, se ela estava satisfeita mesmo. Nas primeiras semanas, a produção de leite não era constante. Uma hora parecia estar cheio demais, em outro momento, parecia estar vazio e que não tinha o suficiente para a mamada e achava que ela ficava com fome. Estávamos nos adaptando, eu, minha filha e o peito também. Eu dizia que, de certa forma, sentia inveja de quem dava mamadeira pro filho, pois ela sabia a quantidade exata de leite que a criança tomava e eu, no início, ficava em dúvida eterna. Depois, comecei a me tranquilizar, pois sempre que levava a Mari na pediatra, via que ela estava ganhando peso e se desenvolvendo bem. E compreendi que a nossa medida era a balança do consultório da pediatra.

A pediatra também tem um papel importante nesse momento inicial, orientando e sanando as dúvidas que toda mãe de primeira viagem tem. Lembro de ter me consultado com ela sete dias após o nascimento, consulta de uma hora e meia, e na semana seguinte fizemos retorno para verificar se minha filha estava ganhando peso adequadamente. A da Mari a acompanha até hoje, e lembro que na primeira consulta explicou tudo, desenhou e falou que o leite voltaria (famosas golfadas), já que o bebê também está se adaptando e o aparelho digestivo ainda estava em processo de amadurecimento e que, na maioria das vezes, iria mamar mais que o necessário. E disse categoricamente: “depois de cada mamada, deixe-a em pé no seu colo por 40 minutos”. Pensei que fosse bobagem, mas depois de alguns banhos de leite e choros de incômodo por querer arrotar, deixava a Mari pelos tais 40 minutos até “o leite baixar” e ela arrotar 3 ou 4 vezes… Imagina isso na madrugada? Ela levava uma hora pra mamar (nos primeiros 2 meses) e depois tinha que ficar mais 40 minutos no colo pro leite baixar (sim, eu tentei deixar só 15, depois 20, 30 minutos, mas o ideal pra ela eram mesmo os tais 40 minutos).

Lembro que esse processo não era nem um pouco fácil… Muito cansativo e o sono cortado não permitia que o corpo descansasse. E essa função (amamentar) era apenas minha, não podia dividi-la com mais ninguém. Era inevitável pensar que muitas mulheres também desistiam por conta desse cansaço e estresse que gerava. Também cismei que ela podia ter refluxo, pois o leite sempre voltava, apesar de não ser azedo, eu vivia tomando banho de leite. Andava com uma fralda pendurada no ombro o tempo todo. Sempre levava uma blusa extra, caso tomasse um ‘banho’ desses e estivesse fora de casa. A médica dizia que não havia problema, já que ela ganhava peso e o que voltava era sempre “o leite a mais” que ela tomava. No fim, a Mari era gulosa mesmo e, com o tempo, parou de me dar banhos de leite.

+ Especial Amamentação: quando a fórmula é uma alternativa

Fiz livre demanda nos primeiros dez dias, depois ela pegou o ritmo com mamadas a cada três horas. Eu também precisava de rotina pra conseguir me organizar um pouco e percebi que minha filha também gostava da rotina. Ela parecia um relógio, quando estava chegando próximo ao horário, acordava e mamava.
Lembro de uma única vez que meu seio ficou machucado e doía bastante na hora que a Mari o pegava, liguei pra minha GO que me indicou o uso de um anti-inflamatório. A melhora foi imediata. Também usei o bico de silicone pra ajudar a proteger e cicatrizar o mais rápido possível. Depois, com o tempo, a criança pega o ritmo (e você também) e a sintonia cresce e tudo flui bem.
Eu adorava amamentar, mas lembro que tinha sentimentos controversos… era um momento único com minha filha, ficava naquela babação, conversava e olhava para aquela carinha de anjo e admirava como ela mamava com gosto. Por outro lado, não conseguia ser tão desprendida a ponto de amamentar em qualquer lugar, na frente de estranhos etc. Por isso, acabava me privando e não saindo tanto para lugares públicos ou com muitas pessoas, não ia pra qualquer lugar. Eu achava que esse momento não precisava ser compartilhado no meio de uma praça de alimentação ou de uma loja. Coisa minha, conheço gente que não se importa. Eu não sentia vergonha, mas queria que fosse algo nosso (meu, da minha filha e do meu marido também). Lembro que sempre que saíamos procurava saber se o local tinha algum lugar mais reservado onde eu pudesse amamentar tranquila. Podia ter barulho, nunca me importei com isso (nem minha filha, que dorme a noite toda como uma pedra desde os 2 meses. Ufa!), só não via necessidade da plateia. Sei que os shoppings possuem fraldários e todo o aparato pra mamãe e bebê, acho lindo, mas eu não sou nem um pouco fã de shopping.

+ Especial Amamentação: a decisão de parar com a consciência tranquila

Sou profissional autônoma, portanto, não tive licença-maternidade. Comecei a retomar os atendimentos um mês e meio após o nascimento dela. Lembro que aluguei bomba elétrica pra armazenar o leite caso fosse necessário. Atendia um paciente por dia na primeira semana e depois, dois e fui aumentando gradativamente, conforme as janelas de mamadas. O que facilitou e me ajudou muito foi a proximidade do consultório com a minha casa. Podia ir e voltar para amamentar. Era corrido, puxado, mas consegui e sobrevivi. A flexibilidade da minha agenda também foi essencial. Tive e tenho uma rede de apoio que é necessária pra todas que pretendem amamentar e trabalhar. Depois do nascimento, meu marido ficou um mês comigo. Com sua volta ao trabalho, tive o suporte de minha mãe e da nossa funcionária que está na família há mais de vinte anos, tanto que minha filha a chama de vó também. Digo que é preciso ter ajuda de alguém que faça pelo menos a comida e possa ficar um pouco com a criança pra você tomar um banho. A alimentação adequada da mãe é muito importante tanto para ela quanto para o bebê. Essa rede de apoio foi essencial para a nossa dinâmica e para que eu pudesse amamentá-la pelo tempo desejado.
Mari mamou por 7 meses, o desmame foi natural, tranquilo e gradativo. Conforme introdução dos sucos e papinhas, as mamadas foram se espaçando e a produção do leite reduzindo gradativamente. Não precisei tomar nenhum remédio e o leite secou naturalmente.
Lembro que senti um certo pesar, mas entendi que aquele era mais um dos vários processos e momentos de separação e independência dela que vivenciaríamos no decorrer de sua vida. Percebi e sabia que continuaríamos conectadas de outras maneiras, como no banho, por exemplo. Durante todo o primeiro ano de vida dela eu fiz massagem todos os dias após o banho. Talvez seja por isso a Mari seja uma criança calma, tranquila e muito feliz.

+  Especial Amamentação: as respostas para as principais dúvidas

Agora estou na reta final da minha segunda gravidez (Guilherme está previsto para o início de setembro). Desta vez, um menino. Dizem que meninos são diferentes e mais vorazes, vamos ver. Tenho consciência que não terei o mesmo tempo que tinha com minha filha, pois ela também vai demandar atenção. Então, dificilmente vou conseguir amamentá-lo tranquilamente, sem a interrupção da mais velha, por exemplo.  Espero poder amamentá-lo exclusivamente até o sexto mês. Meu marido vai tirar um mês de férias para ficar conosco de novo, é um período muito importante mesmo. Acho que conseguirei amamentar e espero conseguir fazê-lo da melhor forma possível. É uma experiência que vale a pena repetir, sim.