O fim do amor é sempre triste, mas dói mais quando um dos dois ainda ama, o que não é nada raro acontecer. Mesmo quando não há brigas, não é fácil ouvir do nosso amor a frase fatídica: “Eu quero muito ser seu amigo (ou sua amiga). Pode contar comigo para o que der e vier!” Não mesmo. Mas a verdade é que muitas vezes, para um ou para os dois, o amor vira amizade. E, aí, não há nada que se possa fazer.
Um amigo radialista me falou recentemente, e com grande sofrimento, sobre como, mesmo ainda sentindo enorme carinho por sua mulher, percebeu que já não a amava. Separaram-se e ele se sente culpado. Costuma dizer que ela é tudo que um homem poderia desejar e custa a entender a razão de ter se afastado. O que eu lhe digo é que ela ser ótima não basta. É preciso haver o desejo. Quando ele acaba, é como se alguma coisa fosse desligada dentro da pessoa. O desejo é o que impulsiona para o amor; para a intimidade; para o querer estar junto o tempo todo, a noite toda, até o prazer da manhã.
Sem desejo, fica difícil manter uma relação. Outro sinal do fim é quando os olhares já não dialogam, não se entendem. Nessa hora, não adianta sentir culpa. Até porque nunca é só um fator que leva o casal ao triste desfecho. Podem ser muitos, com responsabilidades de ambos os lados. Para piorar as coisas, nem sempre há sincronicidade no esmorecimento do desejo, nem sempre o amor acaba ao mesmo tempo para os dois. Por isso, um sofrerá mais e não há muito o que fazer, a não ser refletir sobre o que aconteceu, até para levar o aprendizado para outras relações. Vale se perguntar, por exemplo:
1. Por que acabou o amor? Em que instante o coração mudou para o botão da amizade?
2. Estou sofrendo porque não amo mais, quando queria amar, ou porque ainda amo e não quero ver o fim dessa história?
3. Quero manter a amizade por ter esperança de uma volta ou por realmente estar tranquilo em ter o antigo amor como amigo?
4. Rejeito a ideia de manter a amizade porque ainda amo e, sendo assim, temo a perda definitiva do amor, ou porque não amo mais e não quero que as coisas se confundam no futuro.
5. O que estou aprendendo com essa situação que possa me ajudar, numa próxima vez, a evitar que o amor escoe pelo ralo?
Como sempre digo, não há receitas, mas é importante lembrar que o amor precisa ser regado, escandalosamente vivido, sem vergonha, e que o desejo deve ser exercitado sempre. Para ser feliz é preciso ter coragem. Amor e sexo devem ser construídos com sensação, toque e fantasia. São esses “ingredientes” que alimentam o desejo e, por sua vez, a relação.
Durante a crise, ou mesmo depois dela, pensar nessas questões é essencial para o amadurecimento individual, o que ajuda a eliminar mágoas e culpas para chegar à relação seguinte mais inteiro (ou inteira) e não aos pedaços. O que dói num amor que se transforma em amizade não é só o fato de ter acabado. O que dói é o fim do que poderia ter sido, pois se acreditou, investiu, sonhou e planejou junto. O que dói é saber que o outro pode ser feliz, mesmo sem você.
Mas é possível sobreviver a esse tsunami e o segredo está na autoestima. Gostar de si ajuda a recomeçar e a abrir o coração, que, quando menos se espera, fica em festa e feliz outra vez.