Quem já passou por isso, sabe: o exercício de ser pai ou mãe fica muito mais difícil quando os filhos tornam-se adultos e se unem a outras pessoas para formar uma nova família. Nesta hora, eles vão colocar em prática o que aprenderam em casa sobre relacionamento, vida a dois, organização do lar, cuidados com as crianças, e muitas vezes seus pais se sentem perdidos, sem saber até onde deve ir seu papel na nova situação. O que costumo dizer a eles é o seguinte: bons pais de filhos adultos precisam aprender a estar disponíveis sem invadir e a respeitar sem abandonar.
Um fio tênue separa um pólo do outro. E, para que se consiga um equilíbrio, muita coisa precisa ser aprendida por todos os envolvidos. A tarefa dos pais ficará mais fácil se eles já compreenderam que tentar controlar tudo que acontece com os filhos nunca dá bons resultados, especialmente depois que eles crescem; que limites e rejeição fazem parte de qualquer relação e não são sinais de desamor — mesmo quando vindos dos filhos; que desenvolver ansiedade com relação à felicidade dos filhos não os ajuda a serem felizes (o que talvez possa ajudá-los é a busca dos pais pela própria felicidade). Quando os pais têm uma vida conjugal satisfatória, interesses de casal e/ou pessoal e a certeza de que fizeram um bom trabalho na educação e no crescimento emocional dos filhos, a situação se desenvolve com mais simplicidade.
Do mesmo modo, a relação torna-se mais tranquila quando o jovem casal tem facilidade e leveza para lidar com o exercício de ser seu próprio continente, em lugar de ficar chamando os pais sempre que necessita e rejeitando-os quando não os quer por perto; se compreende que as invasões ou abandonos não são maldade dos pais, mas, talvez, inabilidade deles para lidar com as mudanças; se valoriza a sua intimidade e não compete pelos respectivos familiares; se adota regras explícitas e tem projetos claros e comuns.
Pais que se mantêm disponíveis sem invadir a vida dos filhos contribuem para a evolução deles e do mundo, pois quando um jovem casal consegue fazer as coisas do seu jeito está criando algo novo. Lembremos que, quando um casal se junta, cada parceiro traz toda uma bagagem de crenças, verdades, hábitos e rotinas que fazem parte do legado da sua família. Se por dificuldades pessoais ou interferência das famílias, esses indivíduos iniciarem uma competição sobre qual a bagagem correta, podem perder a chance de fazer da sua relação o gérmen de algo novo e reparador. Por outro lado, se eles compreenderem que estruturar um novo casal é uma oportunidade de quebrar preconceitos e criar novas formas de lidar com os vários ângulos que a nova vida trará, poderão fazer diferença no mundo. Afinal, não há um só jeito certo de lidar com a vida. De comum acordo, podese fazer experiências para definir como funcionarão as rotinas, tarefas e orientações da nova família.
Nesse exercício de convivência, todos lucrarão. Os pais, por se sentirem úteis e ao mesmo tempo autônomos, estando disponíveis quando necessário e respeitando os limites impostos pelos filhos. Estes, por continuar com a certeza de ter com quem contar e de que não precisam erguer um muro quando querem privacidade. E a geração futura, que será criada aprendendo a riqueza e o limite das relações familiares.