O povo nordestino usa várias expressões para designar o homem valente. Uma delas é cabra macho...
...do latim caper, cabra, mais macho. Já o conquistador é chamado garanhão, do espanhol garañón, com provável origem no germânico wranjons, cavalo destinado à reprodução.
Deonísio da Silva Publicado em 07/07/2008, às 13h24 - Atualizado em 27/03/2013, às 11h09
Cabra: do latim caper, bode, cabra, aplicando-se também ao cheiro de suor. Está presente na expressão nordestina cabra macho, isto é, o bode, pois cabra pode ser também a fêmea. Dizem os versos do cancioneiro popular: "Há quatro coisas no mundo/ Que alegram um cabra macho:/ Dinheiro e moça bonita,/ Cavalo estradeiro baixo,/ Clavinote e cartucheira/ P'ra quem anda no cangaço". O cavalo - estradeiro, ou seja, próprio para longas viagens; e baixo, fácil de montar e mais resistente - compõe meio de transporte mais rápido do que o jegue, ganhando em velocidade o que perde em resistência. Clavinote é carabina pequena e cartucheira, artefato de couro, levado a tiracolo, para guardar cartuchos. É também muito usada a expressão cabra da peste, que não tem nada a ver com doença, ao contrário, é indivíduo valente, digno de admiração. O clima, a fome, o analfabetismo e o sadismo das forças policiais a serviço do coronelismo político nutriram o contexto que exaltou o rígido código de honra sertanejo, que cultiva a bravura e, paradoxalmente, a servidão, pois o camponês torna-se braço armado na defesa do patrão.
Embriagar: do português antigo embriago, acrescido do sufixo ar, formador de verbos. A origem é o latim vulgar embriacus, nasalizado a partir do latim medieval ebriacus. No latim clássico é ebrius, ébrio, palavra formada a partir de bria, recipiente para o vinho. A música Ébrio (1946), clássico do cantor e compositor carioca Vicente Celestino (1894-1968), diz: "Torneime um ébrio e na bebida busco esquecer/ aquela ingrata que eu amava e que me abandonou/ Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer/ Não tenho lar nem parentes, tudo terminou". Ao final, o protagonista pede: "Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar este ébrio triste e este triste coração". No trânsito, constatamos outro lado triste da bebida: "Um terço dos motoristas tem álcool no sangue nos finais de semana", declarou ao jornal Folha de S. Paulo em junho o psiquiatra Ronaldo Laranjeira (51), coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A conclusão foi tirada de pesquisa feita com motoristas em São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Santos (SP) e Diadema (SP). Não é pouca coisa. "O álcool é responsável por cerca de 60% dos acidentes de trânsito e aparece em 70% dos laudos das mortes violentas", disse, ao mesmo jornal, o médico Milton Steinman (44), da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado e do pronto-socorro do Hospital das Clínicas.
Garanhão: do espanhol garañón, garanhão, asno grande destinado a inseminar éguas e jumentas. A origem remota pode ser o germânico wranjons, caso genitivo de wranjo, designando o cavalo reprodutor, o que explica a terminação em ón em espanhol e em ão em português. Outras línguas neolatinas, como o francês e o italiano, radicaram a palavra no frâncico stall, estrebaria. Assim, garanhão é étalon em francês e stallone em italiano, palavra presente no nome do ator norteamericano Sylvester Stallone (62). O frâncico, língua indo-européia pertencente ao grupo germânico, está presente em palavras do português, mas nem sempre é percebido. Neste caso, pode-se detectar a raiz em estábulo, estrebaria, estalagem. Segundo registrou o jornal Folha de S.Paulo, na festa de 34 anos de seu casamento com a primeira-dama Marisa Letícia (58), o presidente Lula (62) utilizou a palavra garanhão para referir-se a si mesmo: "A Marisa é a mulher mais feliz do mundo, porque se casou com o garanhão de Garanhuns". Não foi a primeira vez que Lula aludiu à sexualidade em seus já célebres improvisos. Embora condenáveis pelo mau gosto, as metáforas do presidente são bem recebidas pelo povo e é provável que até contribuam para aumentar sua popularidade em algumas regiões do país.
Sucroalcooleiro: dos compostos sucro e álcool, mais sufixo eiro, étimos árabes: as-sukkar, açúcar, palavra cujas origens remotas estão no sânscrito e no grego; e al-kuhul, no árabe culto, al-kohol, no árabe vulgar, ambos designando o antimônio, escrito no latim alcohol, daí a preferência da grafia portuguesa. Antes de ser conhecido como líquido, o álcool era pó, conforme registrado no século XVII pelo médico português João Curvo Semedo (1635-1719). O setor sucroalcooleiro é estratégico na economia brasileira, pois produz, além de açúcar e álcool comum, combustíveis. E suas usinas lideram as multas por poluição em São Paulo, Estado em que os canaviais foram pouco a pouco substituindo os pastos das fazendas.
Este site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de Privacidade