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O dom de lutar e sorrir do valente Gustavo Rosa

Ele abre seu ateliê em São Paulo e fala da batalha para derrotar o câncer na medula

Redação Publicado em 08/12/2010, às 13h00 - Atualizado às 21h19

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Com o transplante marcado para dia 28, o paulistano segue otimista e busca forças nas artes para enfrentar o mieloma múltiplo, que voltou após dez anos. - CAIO GUIMARÃES
Com o transplante marcado para dia 28, o paulistano segue otimista e busca forças nas artes para enfrentar o mieloma múltiplo, que voltou após dez anos. - CAIO GUIMARÃES
O réveillon deste ano será diferente para o renomado artista plástico Gustavo Rosa (63). Enquanto os povos do mundo inteiro irão festejar a entrada do Ano-Novo, ele vai passar a data no hospital. O mieloma múltiplo - tipo raro de câncer na medula óssea - que o acometeu há dez anos, voltou a se manifestar e ele precisará fazer um novo transplante. Mas engana-se quem pensa que ele está triste, muito pelo contrário, se apegou ainda mais ao trabalho, sai todas as noites com os amigos e segue otimista. "Sou forte e procuro constantemente passar alegria para as pessoas. Não sei fazer drama, faço poesia", destaca ele, durante entrevista em seu estúdio, em SP. - Você não perdeu a alegria... - Ao contrário, passei a dar mais valor à vida. Hoje, eu aproveito cada momento. As pessoas se queixam de coisas bobas que não valem a pena. A vida é muito mais bela. Ela tem muito mais coisas a oferecer e você só valoriza quando acontece esse tipo de coisa. Tudo o que eu faço hoje é com mais valor, mais vigor, mais intensidade e mais verdade. - Como está lidando com a volta da doença após dez anos? - Este ano vou ignorar o meu aniversário que é dia 20 de dezembro para fazer o transplante. Enquanto todo mundo vai se divertir, eu vou para o hospital. Preferi dessa maneira, para quando voltar a ter forças poder trabalhar. A pintura é meu grande prazer. - De onde vem sua força? - O meu trabalho é um motor muito bravo, intenso. Os amigos de verdade também ajudam. O Juca Chaves está sempre aqui. Ele tem um humor fabuloso, ele transforma a tragédia em humor e tem essa qualidade que é um exemplo de vida. Poderia citar dezenas de amigos que me dão muita força nesse momento, que é quando você vê quem realmente é amigo. - Nunca quis constituir família? - A arte sempre esteve em primeiro lugar e eu achava que um filho poderia atrapalhar. Meus pais já faleceram, uma irmã também. Eu tenho um irmão que mora no Rio, o fotógrafo Roberto Rosa, mas ele, infelizmente, viaja muito. Tenho também um sobrinho e primos. - Você está otimista? - Sim, otimista e forte. Vai dar tudo certo. Mas estou com um pouco de medo, não vou negar. É uma coisa muito sensível, de repente, algo pode dar errado. - Que lição aprendeu com isso? - A lição é que a gente tem de ter humildade. Você nunca pode ser o pai da verdade, nunca achar que é o Super-Homem. Estou tendo coragem de fazer essas declarações, que muitos têm vergonha e preconceito, para servir de exemplo para outras pessoas. Conheço muita gente que tem o problema e esconde, tem vergonha. Com essa atitude, eu só posso ajudar, como a Hebe Camargo, a Ana Maria Braga, que são minhas amigas e tiveram a mesma postura que eu. - Você se sente realizado? - Ainda não, eu nunca estou realizado, estou sempre buscando o melhor que eu possa dar e sempre acho que eu tenho muito o que aprender. Essas coisas que nos acontecem, esses golpes fortes, vem para nos ensinar a melhorar e ficar mais humilde.