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O dia 2 de novembro é dedicado aos finados, ou falecidos, do latim fallescere, faltar, morrer...

...No Brasil, muita gente morre vítima de balas perdidas, pois, nos confrontos, bandidos e policiais atiram a esmo, expressão que vem do latim aestimare, estimar, e significa "sem rumo".

Deonísio da Silva Publicado em 07/11/2007, às 13h23

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Conspiração: do latim conspiratione, declinação de conspiratio (nos dois casos o "t" tem som de "s"), conspiração, originalmente designando ação de respirar em conjunto (con mais spirare), exalar sopro ou odor, mas em ações que envolvam várias pessoas. Músicos de um conjunto conspiravam ao soprar, juntos, instrumentos como trombetas. Nasceu daí o significado de concordar. Mais tarde a palavra mudou de sentido e passou a designar acordo secreto, conluio, trama. São situações em que grupos de pessoas descontentes fazem entendimentos entre si, mas para discordar de algo conjuntamente. A professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini (56), que fez a revisão da Constituição do Estado de Santa Catarina, o que lhe garantiu concisão, clareza, harmonia e originalidade no estilo, qualidades infelizmente raras em Constituições de outros Estados, ensina: "De 'tramar, planejar ou concorrer para uma conspiração', o verbo conspirar passou a designar também 'concorrer para algum fim' ou, em outros termos, 'tender ao mesmo objetivo', enfim, 'contribuir'".Esmo: de esmar, do latim aestimare, estimar, calcular, avaliar, orçar. Estimar ainda mantém o sentido de orçar, ao lado do mais comum, que é querer bem, apreciar. Mas apreciar, além de ter o sentido de aprovar, também é dar preço, examinar, julgar. O verbo esmar aparece neste trecho de À margem da História, do escritor carioca Euclides da Cunha (1866-1909), cujos livros estão repletos de palavras que já eram de uso raro quando ele os escreveu: "Ele vacila um momento no seu pedestal flutuante, fustigado a tiros, indeciso, como a esmar um rumo, durante alguns minutos, até se reaviar ao sentido geral da correnteza.". Já a expressão "a esmo" significa sem rumo definido, como em Contos em Verso, do maranhense Artur Azevedo (1855-1908): "E eu penso em tudo e em nada/ Todas as vezes que passeio a esmo,/ Por dar alívio à mente atribulada".Falecido: de falecer, do latim vulgar fallescere, falecer, faltar, que consolidou o sentido de morrer. Derivou de outro verbo, fallere, enganar, da mesma raiz de fallacia, falácia, engano, e de fallax, falaz, enganoso, que tem também o sentido de ilusório, como em Contrastes e Confrontos, de Euclides da Cunha: "Será o eterno tactear entre as miragens de um processo falaz e duvidoso". A idéia de engano está presente também em outras línguas que produziram palavras a partir da mesma raiz latina, como no inglês fall, cachoeira, queda d'água. É como se águas fossem enganadas pelo leito do rio, que as conduz a um precipício. Também o pecado original, ao qual Santo Agostinho (354-430) sempre se refere como "a queda", é "the fall", em inglês. Note-se que está presente a idéia de falecer, pois, expulsos do Paraíso e caídos na Terra, Adão e Eva perderam a imortalidade: "No dia em que comerdes do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, neste dia morrereis". O dia dos mortos, celebrado desde o século XIII em 2 de novembro, antes não tinha um dia fixo. Como nem todos os mortos fossem conhecidos, a Igreja passou a dedicar um dia do ano a todos os mortos, a partir do século V, mas esse dia era qualquer dia, de livre escolha da comunidade. A tristeza, característica da data, no México cede lugar à alegria e a deboches da morte. Caveiras de açúcar, pãezinhos com esqueletos desenhados, além de frutas e doces, todo um conjunto de insólitas lembranças é colocado em altares dedicados aos mortos, montados nas casas. Os visitantes levam também vasilhas com água, para o morto banhar-se depois de fazer a longa viagem do reino dos mortos ao reino dos vivos. Todos-os-dias: do plural de todo e de dia, respectivamente do latim totu e dia, para designar o dia-a-dia, o cotidiano. A Igreja indica um ou mais santos para cada dia do ano, mas escolhe um dia, 1º de novembro, para homenagear todos os santos. Depois das perseguições do imperador Diocleciano (c.236-305), os mártires cristãos aumentaram tanto em número que foi necessário instituir o Dia de Todos os Santos. A celebração nasceu em Antióquia, no século IV, tendo sido regulamentada no século seguinte, pois os santos dos primeiros séculos foram elevados à honra dos altares por aclamação das comunidades cristãs. Só muito mais tarde, com a institucionalização e unificação das diversas dioceses sob o comando do papa é que os santos foram reconhecidos oficialmente como tais. Quem promete fazer alguma coisa no "dia de são Nunca", expressão luso-brasileira de forte presença católica, deve lembrar-se que, por metáfora, o dia do santo das postergações, assim como o de todos os demais, cai em 1º de novembro.