O amor a gente não explica, sente. Até porque é difícil encontrar palavras que o descrevam. Num de seus poemas, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) chegou a dizer que o “amor foge a dicionários”. Verdade. Isso não quer dizer, porém, que não possa ser comunicado. Ele se manifesta em nosso corpo. Primeiro, pelo olhar. É através dele que homens e mulheres declaram: “Oi, estou aqui!” ou “Oi, estou a fim!”. Às vezes a outra pessoa, distraída com seus perrengues, não decodifica o sinal. Mas ele está lá, visível, na pupila do interessado, que se dilata, traiçoeira.
Isso é real. Pode reparar. E, uma vez que reparar, o que você vai fazer? Os pesquisadores norte-americanos Timothy Perper e Susan Fox sabem. Depois de observar 500 casais por mais de 350 horas, os pesquisadores descobriram que a mulher, se está interessada, ao receber o sinal do olhar passa a mão nos cabelos e, se são longos, joga-os para trás. O homem, por sua vez — fazendo uso da cartilha na qual aprendeu que deve dar o primeiro passo —, olha fixo para quem lhe lançou o sinal. Para elas, concluíram os estudiosos, esses gestos são bem medidos, quer dizer, são conscientes. Os homens, ao contrário, agem sem pensar, instintivamente.
Aquele primeiro sinal que parte dos olhos é a largada para o processo de sedução. O corpo fala e os sentidos se apresentam para começar a aproximação física, mais real. Logo depois do olhar (visão), surgem os desejos de tocar e acariciar (tato) e de ouvir palavras que confortam ou excitam (audição). O casal se atrai primeiro pela química (cheiro/olfato), pelo gosto do beijo (paladar). Só mais tarde é que o relacionamento ultrapassa o físico e passa a incluir sentimento.
O desejo de estar mais tempo junto e aquela sensação de que o coração virou uma bateria de escola de samba dentro do peito são as “deixas” de que agora, sim, é amor. Mas será amor de verdade? Se aconteceu assim, à primeira vista, o sentimento obviamente não se construiu a partir da realidade, mas de uma fantasia. É como se a pessoa tivesse desenhado numa folha de papel em branco o ideal de homem ou de mulher dos seus sonhos e trouxesse essa imagem dentro de si. Aí, quando um encontro com os sinais descritos acima acontece, tudo o que estava guardado — esses sonhos e desejos — é transferido para aquela pessoa. Resumindo: você projeta no outro o que construiu dentro si.
Pode acontecer de ser correspondido. Ou não. Neste caso, será apenas mais um encontro em que o desejo bateu mais forte. Agora, se ambos passam a ver um no outro o espelho de suas expectativas, é sinal de que a atração inicial e toda aquela liguagem do corpo e dos sentidos se transformou em amor.
Parece simples demais para ser verdade, mas é assim que acontece. O amor excita, promove grandes mudanças, mexe com nossos sentidos e nos transforma. É o sentimento mais transformador que existe, a ponto de fazer com que cada um se sinta outra pessoa: melhor, mais inteiro e até um pouco poeta, segundo o filósofo grego Platão (427-347 a.C.). Para ele, “qualquer um tornase poeta (...), desde que lhe toque o amor”.