Recentemente, o cantor Zezé Di Camargo (50) afirmou: “Estou solteiro”. Pouco antes, Zilu Camargo (49) havia dito: “Estamos em uma fase mais aberta do nosso casamento”. A frase de Zilu me fez lembrar o livro Casamento Aberto, de Nena e George O’Neill, lançado com grande sucesso em 1972.
A obra fala sobre um tipo de união na qual os parceiros teriam a liberdade de se relacionar, sexualmente ou não, com outras pessoas. As regras do que poderia ou não ser feito deveriam ser acertadas antes, a confiança seria fundamental e não haveria lugar para o ciúme. Seria esta uma boa opção para um casal?
Depende. Os escritores franceses Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Simone de Beauvoir (1908-1986) tiveram uma experiência assim. Teoricamente, parece perfeito. O problema é que o ciúme é instintivo e não pode ser controlado racionalmente. Mas o aspecto mais interessante nesse arranjo é justamente a ausência da posse. Ninguém é dono de ninguém. Preserva-se a individualidade, o eu é mais importante do que o nós.
Há uma tendência para o egoísmo, sim, pois importa mais viver os próprios instintos, ser feliz, do que viver para alguém. Isso traz insegurança justificada para muitas pessoas. O risco é real: a maioria dos casamentos ou namoros abertos terminam com relativa brevidade. Natural, uma vez que a liberdade torna mais fácil para ambos conhecer uma terceira pessoa e apaixonar-se por ela.
Em minha experiência, já pude notar que as mulheres suportam melhor um combinado desse tipo, apesar de sentirem ciúme. Já os homens, quando sabem que a mulher teve uma aventura, acabam se separando. Em geral, o rompimento é atribuído a outros motivos, pois eles nunca admitem não ter conseguido sustentar a tal abertura.
Esta, porém, não é uma regra geral. Há homens e mulheres que até gostam que seus parceiros se relacionem com outras pessoas. Alguns chegam a participar, criando triângulos amorosos e sexuais.
Se isso acontecer de comum acordo, tudo bem. Num certo limite, na verdade, acredito que todos os casamentos deveriam ser abertos, no sentido de se respeitar a independência e a individualidade de cada um. Assim, as portas ficariam destrancadas para, no caso de o amor ou o desejo acabarem, cada um ter a liberdade de ir viver a própria vida, sem que isso seja visto como traição ou abandono. A amizade, os compromissos e a responsabilidade com os filhos, claro, seriam mantidos.
“Até que a morte nos separe” é um juramento quase impossível de cumprir. Um casal deve ficar junto porque quer, enquanto quer. Cobranças de nada servem, o resultado é o afastamento.
Uma relação é bonita quando um anseia pela companhia do outro, os dois sentem atração e desejo, não falta assunto para conversar, quando há planos, confiança e lealdade. Se vai haver abertura para outros relacionamentos, sexuais ou não, isso é questão de ambos concordarem.
Qualquer arranjo pode ser feito num casamento, em relação a sexo, amizades, trabalho e dinheiro. Entre duas pessoas que resolvem unir suas vidas o que não pode haver é mentira, traição, violência, maus-tratos, indiferença. A união deve ser viva e, se morrer, que cada um permita ao outro continuar vivendo, sem ressentimentos ou mágoas.