As mulheres estão com tudo. Hoje, no Brasil, temos uma presidente, ministras, cientistas. E assim também acontece em muitos outros lugares. Conquistamos esses espaços porque somos competentes e inteligentes. Mas não foi sempre assim. Nossas antepassadas que o digam. Apesar de tão capazes e competentes quanto os homens, tiveram de enfrentar enormes desafios e proibições para criar e aparecer. Ao longo de boa parte da história sequer puderam estudar. Deviam ser apenas mães e esposas virtuosas, obedientes aos maridos, que tratavam como “senhor”. Nas últimas décadas, isso mudou. Proibições e regras foram vencidas, a mulher foi trabalhar, se desenvolveu, ganhou respeito, igualdade. Mas certos comportamentos instintivos perduram. Um deles é a primazia do homem na conquista amorosa.
No consultório, frequentemente ouço de mulheres — jovens e mesmo não tão jovens — perguntas sobre se devem ou não ter a iniciativa com os homens. Referem-se a atitudes como telefonar, convidar para um encontro, pedir o telefone, ligar. Racionalmente falando, nada mais natural. Afinal, se trabalhamos, se estamos em igualdade de condições para sustentar a casa e dividir as contas, se estamos no mesmo patamar para tudo, então as diferenças de cortesia poderiam acabar.
Mas nem tudo é tão racional na relação entre homem e mulher. Conquistar é um comportamento quase biológico, instintivo do homem. Quando ele se interessa, não há nada que o impeça de descobrir o telefone, ligar, convidar, tomar a iniciativa. É como se fosse uma caçada. E, se ele depara com uma mulher que tem tal comportamento, perde o interesse.
Pode ser até que isso venha a mudar, com o tempo. Mas ainda não mudou. Claro que muitas mulheres já telefonam quando querem, vão atrás, defendem o seu direito de também conquistar, mas é preciso que saibam que a conquista é extremamente importante para os homens, pois mexe com o comportamento primitivo deles. Mesmo nos romances de hoje, nos livros eróticos para mulheres, que são fenômenos de vendas, a conquista parte do homem. É como nos filmes açucarados de Hollywood, em que as mulheres se faziam de difíceis diante da insistência sedutora masculina.
Não estou dizendo que a mulher deva se reprimir, ou fingir, apenas para satisfazer à necessidade do homem, mas que é preciso ter em conta que há esse instinto. E, que se há o instinto deles, também há o delas. Então, por que não deixá-lo fluir, e se permitir o prazer de ser conquistada, desejada? Por que não se entregar a esse jogo, que até pode não ser justo, mas que existe há milênios?
Numa relação, é importante conservar alguma diferença entre o feminino e o masculino. Mesmo em casais homossexuais há um que se comporta de maneira mais feminina e outro que é mais masculino. Ou, sem traduzir para gêneros e recorrendo à sabedoria oriental, existe um que é mais Ying, ou seja, positivo, conquistador, que vai à luta, e outro que é mais Yang, ou suave, receptivo.
Enfim, para relacionamentos mais felizes e duradouros é importante preservar esse, digamos, privilégio masculino. Mas sempre lembrando que se deixar conquistar não significa submissão. No final das contas, é a mulher que vai dizer sim ou não à conquista. Assim sendo, o poder continua com ela.