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Infidelidade só é admissível se for uma escolha de todos os envolvidos

Redação Publicado em 15/05/2012, às 12h57 - Atualizado em 30/12/2012, às 23h24

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Este é o último de uma série de quatro textos em que tratei do tema “infidelidade”. Longe de pretender esgotar o assunto, meu objetivo era estimular reflexões e desafiar as explicações convencionais para as traições afetivas. Quero, agora, após resumir o que foi dito nos artigos anteriores, oferecer um posicionamento final.

Comecei a série lembrando que o ato de trair é consciente. As pessoas traem porque acreditam que podem fazê-lo, mesmo que depois se sintam culpadas. Os motivos que geram os atos infiéis, porém, podem não ser conscientes. Impulsos inconscientes de autoafirmação, possessividade e autodestruição frequentemente levam à infidelidade. Do mesmo modo, motivam a traição, inconscientemente, a imaturidade (incapacidade de lidar com os limites) e a insegurança (dificuldade de perceber a importância que tem para o outro, negação da própria capacidade de construir relações ou insistência em desqualificar o parceiro). Por fim, também são insconscientes os motivos de quem trai por não ter competência para lidar com as próprias emoções e as do outro, bem como para negociar diferenças nas relações.

Entre os motivos conscientes das traições estão a vingança (de quem foi traído ou por qualquer outra razão sente raiva do parceiro), a decisão de não reprimir o desejo (por querer mais sexo ou variedade erótica do que encontra no casamento) e a ânsia por liberdade (por considerar a monogamia uma hipocrisia e uma forma de controle). Quem trai por liberdade interpreta a monogamia como uma lei que não deve mais ser obedecida, uma vez que os hábitos se transformaram, trai por rebeldia, como protesto. E há também quem diga que trai para salvar o casamento: embora tenha insatisfações em relação ao parceiro, acredita que é melhor estar casado; ou quer se separar, mas teme a reação do outro. Paraestes últimos, trair é um jeito de atenuar  o convívio com o parceiro indesejável.

Já virou lugar-comum dizer que, se a postura infiel não gerar culpa nem tumultuar a vida da pessoa, e se ela souber administrar a variedade de experiências e os riscos de ser descoberta, então sua infidelidade é apenas uma escolha — e portanto, subentende-se, aceitável. O estilo de vida individualista atual de fato tolera atitudes egoístas e banaliza comportamentos cínicos.

A verdade é que sempre que alguém se vê obrigado por outra pessoa a passar por situações inaceitáveis estará sendo vítima de uma relação de poder e sua saúde mental estará em risco. É o caso da traição. Trair é um ato de poder. Deixaria de sê-lo só se a opção fosse escolha dos envolvidos. Conheço um casal cujo marido perdeu a libido por problemas de saúde. Sua mulher sempre foi companheira fogosa e ele sabia disso. Ele disse à esposa que se sentia culpado por não poder satisfazê-la e que aceitaria se ela tivesse um amante, desde que lhe omitisse caso se apaixonasse por outro. Aqui não existe traição, casamento aberto nem exercício de poder. Há a opção construída por ambos, que eticamente contemplou necessidades mútuas. A luta para libertar as relações afetivas das disputas pelo poder é o “arroz-com-feijão” dos consultórios psicológicos. Enquanto formos complacentes com atos infiéis, estaremos atrasando a evolução ética dos relacionamentos afetivos.