Gordura visceral aumenta muito o risco de doenças cardiovasculares
Carlos Alberto Pastore Publicado em 07/12/2006, às 11h53 - Atualizado em 22/09/2012, às 14h15
A gordura é essencial à saúde humana. Além de fornecer energia, ela participa de reações químicas que dão origem aos hormônios, por exemplo. Mas gordura excessiva é sempre danosa. Em alguns lugares, aliás, a substância é muito pior. É o que ocorre, constataram os pesquisadores, com a chamada gordura visceral, ou abdominal.
Gordura visceral é aquela que se acumula no abdome, praticamente envolvendo vísceras como pâncreas, instestinos e fígado. Nesse último órgão, vale destacar, acumula-se também internamente, dando origem a uma doença conhecida como esteatose.
No passado, o acúmulo de gordura visceral era mais comum a partir da idade adulta; atualmente, sobretudo devido ao aparecimento dos fast-foods, também as crianças já o exibem. O problema ocorre em homens e mulheres; nestas, em especial a partir do início da menopausa, quando perdem a proteção do hormônio estrogênio, pois seu organismo pára de produzi-lo. Parte dos indivíduos acumula gordura na região abdominal por tendência genética, ou seja, herdam tal característica de um ou dos dois pais. Nesse caso, outros na família também têm o problema. Mas a gordura visceral pode acumular-se ainda em conseqüência do consumo excessivo de alimentos ricos em gordura saturada e do sedentarismo, isto é, falta de atividade física.
As conseqüências são as seguintes. A gordura abdominal passa a funcionar como barreira para a circulação de sangue na região. E mais: as células gordurosas favorecem a inflamação das artérias, que distribuem o sangue oxigenado a partir do coração para todas as porções orgânicas. Está aberto, então,o caminho para a formação da aterosclerose, ou seja, deposição contínua de gordura nas paredes arteriais e a formação de uma espécie de "placa" endurecida. Com o tempo, a "placa" cresce e obstrui parcial ou totalmente a circulação sanguínea. O resultado é: falta de sangue e de oxigênio no músculo do coração, com a conseqüente morte de tecidos, o que é conhecido como infarto do miocárdio. O mesmo pode ocorrer no cérebro, dando origem ao acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de derrame. O pior é que as duas doenças, em 50% dos casos, não dão aviso e, dependendo da extensão, podem deixar seqüelas graves ou até matar.
A gordura visceral também interfere na ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que regula a taxa de açúcar no sangue. Os níveis da substância aumentam, o que favorece o surgimento do diabetes.
O organismo de cada pessoa, claro, reage de maneira diferente a esse quadro. Há portadores de gordura visceral que podem viver por décadas sem problemas. Outros têm infarto ou derrame ainda jovens. A Medicina, porém, já estabeleceu uma forma de medir o risco. É a chamada relação cinturaquadril. A nova medida é obtida dividindo a largura da cintura pela largura do quadril (ambas em centímetros). O resultado terá de ser de até 0,9 para o homem e de 0,85 para a mulher. O risco de um infarto do miocárdio ou de um AVC em indivíduos com o índice cinturaquadril acima do normalé 25% maior do que o dos que têm valores normais.
Pessoas que se vejam com um volume crescente de gordura abdominal devem consultar logo um cardiologista. A situação é mais preocupante, naturalmente, em obesos que sofrem de pressão alta e/ou diabetes, são sedentários ou fumam. Os cardiologistas brasileiros de modo geral - disponíveis até nos serviços públicos país afora - têm boa informação a respeito do assunto. Eles estão aptos a fazer uma avaliação e determinar as medidas necessárias. O passo inicial com certeza será adotar uma dieta saudável, aumentando a ingestão de frutas, legumes e verduras e diminuindo o consumo de alimentos gordurosos. A segunda etapa será desenvolver atividades físicas regularmente. Se essas pessoas já forem portadoras de doenças como pressão alta ou diabetes, finalmente, também elas terão de ser tratadas.
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