Redação Publicado em 11/01/2010, às 19h19 - Atualizado às 19h19
Acerola: talvez do árabe azzaarora, acerola, fruta conhecida pelos antigos romanos como nespira, nêspera, espécie de ameixa,divulgada pelo latim eclesiástico como nespila, por influência do grego méspilon, nêspera. A acerola chegou ao Brasil graçasaos imigrantes japoneses, que a cultivaram primeiramente na região amazônica. É anônimo o introdutor da fruta entre nós, ao contrário do mamão papaia, trazido do Havaí pelo japonês Nobory Oya, que, como muitas outras pessoas, recebeu as sementes do monge budista Akihiro Shirakihara. A contribuição japonesa ao português do Brasil ainda não foi devidamente registrada, embora esteja presente em muitos lugares, como nos cardápios, nos quais encontramos onigiri, bolinho de arroz; ozôni, a primeira refeição do ano, ligada à abundância e à fertilidade, feita com motigome; já o toshikoshi soba é saboreado à meia-noite do último dia do ano, com pedidos de vida longa, crescimento e felicidade.
Boca de siri: de boca, do latim bucca, e de siri, do tupi si'ri, correr para trás. Era escrito com dois hífens até o Acordo Ortográfico de 2008. As novas edições do conto Em Boca Fechada Bem-Te-Vi não Faz Ninho, de José Cândido de Carvalho (1914-1989), vão manter a designação com hífen para a ave e sem hífen para o crustáceo, mas no original as duas palavras tinham hífen: "Campos de Melo passou todos os anos de sua vereança sem dar uma palavra. Era o boca-de-siri da câmara municipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O presidente da Mesa, mais do que depressa, disse: - Tem a palavra o nobre vereador. Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou. - Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado".
Gramofone: do inglês gramophone, gramofone, toca-discos, aparelho criado em 1887 pelo alemão Emil Berliner (1851-1929), que emigrara para os EUA. Ele prestou serviços a Alexandre Graham Bell (1847-1922), aperfeiçoando o telefone e inventando o microfone. Berliner patenteou os primeiros discos de vinil, criando, com Eldridge Johnson (1867-1945), a empresa que deu origem à RCA Victor, fabricante de discos, depois vendida a um banco, que a repassou à Radio Corporation of America (RCA), em 1929. É esta a origem da RCA Victor. Johnson recebeu, post mortem, o prêmio Grammy, em 1985, por sua contribuição aos discos e às gravações.
Katakana: do japonês kata, parte, e kana, sílabas, designando sistema usado no Japão para escrever palavras estrangeiras. É composto de 48 sílabas. Outro é o hiragama. Eles buscam simplificar o kanji, composto de cerca de 6000 ideogramas. Os mais avançados dicionários japoneses têm cerca de 230000 palavras, 10% das quais são escritas em katakana, incluindo neologismos e abreviações. Nem todas as palavras do inglês, por exemplo, têm significados equivalentes em japonês, como é o caso de privacy, privacidade, e de identity, identidade. Houve rápidas transformações da língua, a ponto de os mais velhos não entenderem mais o que falam os mais jovens.
Mingau: do tupinambá minga'u, comida que gruda, prato feito com as vísceras do prisioneiro. Esperavam que elas grudassem nos comensais, isto é,mantivessem as virtudes do guerreiro devorado, pois os tupinambás eram antropófagos. Passou depois a designar qualquer alimento de consistência pastosa, feito de leite e açúcar, engrossado com farinha de mandioca ou de milho e com arroz. Era servido nas duas pontas da vida, em geral pelo mesmo motivo, isto é, a falta de dentes em crianças e velhos. Tornou-se iguaria sofisticada, consumida sobretudo por pessoas em dieta alimentar.
Perto: de aperto, dito e escrito no português arcaico apreto, vindo de apertar, do latim tardio appectorare, apertar, comprimir contra o pectus, peito, onde está o coração, órgão tido como sede da saudade. Passou depois a designar pequena distância. A poeta gaúcha Natália Parreiras (25), no livro Invernoversos, parece retomar o significado original de perto nestes criativos versos, repletos de alusões à solidão e ao abandono: "É deserto.../ Nada sinto/ Nada penso/ O fim está perto./ É deserto.../ Um pouco de vinho tinto/ Tantas lágrimas para um só lenço/ Erros que no fundo estavam certos./ É deserto.../ Foise o ásis de água/ Tenho sede, tenho magia/ Ouço no adeus o teu eco".
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