por Deonísio da Silva* Publicado em 21/09/2010, às 13h10 - Atualizado em 22/09/2010, às 15h19
Idos: do latim idus, de origem etrusca, do verbo idare, dividir, separar. No antigo calendário romano, era o dia 15 nos meses de março, maio, julho e outubro, e o dia 13 nos demais meses. Eram fixos, como as calendas, primeiro dia do mês, e as nonas, que caíam no quinto ou no sétimo dia, conforme o mês. Pode designar, como plural de ido, do verbo ir, aquilo que já passou. Nos idos de março, segundo famosa predição de adivinhos, Júlio César (101-44 a.C.) foi assassinado em conspiração organizada por seu filho adotivo, Marco Júnio Bruto (85-42 a.C.). Foi também nos idos de março que Domingos Fernandes Calabar (1600-1635) foi batizado, em Pernambuco, em 1610. Nos idos de março de 1789, Joaquim Silvério dos Reis Leiria Guites (1755-1819) denunciou os Inconfidentes. Também nos idos de março de 1944, os brasileiros tomavam Monte Castelo, bombardeando o monastério onde pareciam inexpugnáveis os nazistas que tinham invadido a Itália.
Maio: do latim maius, nome do quinto mês, escolhido sob a proteção da deusa Maia Majestas, trazida dos gregos, sendo o étimo original de procedência dórica. Maia era chamada também Bona Dea, Boa Deusa. O romancista mineiro Benito Barreto (81), autor de obras referenciais da literatura brasileira, como Os Guainãs, lançou em 2009 Os Idos de Maio, primeiro romance da Saga do Caminho Novo, projetada trilogia sobre a Conjuração Mineira. Senhor de uma prosa poética, de sutis recursos de estilo, sempre fincada na história, no capítulo final narra a cena em que o pai de Dorothéa, a Marília, namorada do inconfidente Tomás Antônio Gonzaga (1744-1812), que a si mesmo se denomina Dirceu, abraça a filha, levando-aao quarto de dormir, enquanto ouve dela o pedido de que a ajude a ser degredada para a África, com o amado. Diz dos pensamentos do pai o narrador: "O capitão Baltazar, abraçado com ela, a conduz, de volta, pelo corredor, rumo a seu quarto, presumivelmente, se perguntando, com razão, ferido e perturbado, se essa que leva é ainda a menina Dorothéa, ou já será Marília, a invenção do réprobo Dirceu...!".
Pontuação: de ponto, do latim punctum, picada. Os primeiros pontos semelhavam marcas deixadas por picada de inseto. E em gravuras - em pedra, bronze, couro, papel - eram feitos com picadas de instrumentos de escrita nesses materiais. O Almanaque Biotônico, fundado pelo escritor paulista José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), deu interessante lição de como pontuar no número que celebrou o cinquentenário da famosa publicação, em 1970. Um milionário esquecera de pontuar o testamento, causando confusão entre os herdeiros: "Deixo a minha fortuna para o meu o irmão não para o meu sobrinho jamais para o meu advogado nada para os pobres". O irmão pontuou assim: "Deixo a minha fortuna para o meu o irmão; não para o meu sobrinho, jamais para o meu advogado, nada para os pobres". O sobrinho pontuou de forma a ficar com a herança do tio: "Deixo a minha fortuna: para o meu o irmão não; para o meu sobrinho; jamais para o meu advogado; nada para os pobres". Já o advogado a quem foi encarregado o serviço testamentário defendeu seus honorários do seguinte modo: "Deixo a minha fortuna: para o meu o irmão não; para o meu sobrinho, jamais; para o meu advogado; nada para os pobres". O "defensor público" pontuou de acordo com o texto no interesse dos mais fracos: "Deixo a minha fortuna: para o meu o irmão, não; para o meu sobrinho, jamais; para o meu advogado, nada; para os pobres".
Sistina: feminino de sistino, relativo ao papa Sisto IV (1414-1484), do latim Sistus, nome de vários papas e santos, cujas variantes, Xisto e Sistro, são nomes de localidades em Portugal e na Espanha. A capela sistina é a mais famosa do mundo. Foi pintada por Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Após perder a indicação para fazer o mausoléu do papa Júlio II (1443- 1513), devido ao alerta de cardeais de que o artista professava ideias contrárias à Igreja, foi-lhe pedido que pintasse os afrescos de uma pequena igreja. Os cardeais estavam certos de que ele recusaria, pelo fato de preferir a escultura à pintura. O que não imaginavam é que o artista genial, humilde, foi estudar pintura, consultou mestres no assunto e se trancou na igrejinha, de onde saiu só após quatro anos, quando o trabalho estava pronto. Foi, pois, uma obraprima nascida de seus célebres desentendimentos com o papa.
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