Blefar: do inglês bluff, fingir, radicado no alemão bluffen, enganar no jogo de cartas. Passou a designar não apenas o engano em qualquer jogo, sobretudo no pôquer, mas também ocultar uma situação, com o fim de tirar proveito do outro. O jornalista Walter Isaacson (59) conta que o então secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger (88) devolveu diversas vezes um relatório que havia solicitado, sempre com uma pergunta: “É o melhor que você pode fazer?”. Na última vez, a pessoa a quem encomendara o trabalho, irritada, respondeu: “Diabos, é, sim, o melhor que eu posso fazer”. E o estadista, com toda a calma: “Ótimo, acho que desta vez vou ler”. Foi um blefe em outro tipo de jogo, o das instituições.
Eldorado: do espanhol el dorado, o dourado, designando um suposto país da América do Sul, repleto de ouro. A origem remota é o latim deauratus, de ouro. Veio a designar lugar de riquezas extraordinárias, concebido pelos conquistadores espanhóis Francisco Orellana (1511-1546), Francisco Pizarro (1476-1541) e Gonzalo Pizarro (1502-1548). Forçados a mostrar onde ficava o Eldorado, muitos índios foram torturados e mortos. A única maneira que encontraram para escapar à sanha da sangrenta expedição foi situar o lugar cada vez mais dentro da selva. Essa busca desesperada foi uma das razões da decadência do império espanhol. No final do século XVII, dos 400000 habitantes de Madri restavam apenas 150000. Os outros tinham partido em busca de ouro.
Ingrato: do latim ingratus, negação de gratus, agradecido. É do mesmo étimo de agradável. Qualifica quem, não sabendo reconhecer o que recebeu, torna-se desagradável e mal-agradecido. É do rei francês Luís XIV (1638-1715), o Rei-Sol, introdutor das perucas nas cortes europeias e construtor do Palácio dos Inválidos e do Palácio de Versalhes, onde morreu, esta triste definição: “Sempre que ofereço um posto vago, faço centenas de descontentes e um ingrato.” Sua frase mais conhecida, porém, é outra: “O Estado sou eu”. Ao taxar a nobreza e o clero, estes de repente lhe ficaram ingratos. As coisas melhoraram quando a Controladoria Geral foi entregue a Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), que aumentou taxas e impostos, mas manteve isentos clérigos e nobres. O rei foi, porém, muito grato às suas quase 20 amantes, ou favoritas, como eram mais conhecidas.
Operar: do latim operare, fazer, executar. É verbo de vários sentidos e significados. Como o étimo é opus, obra, coisa feita, ação, é muito utilizado na Economia e na Medicina. Assim, o agente financeiro pode operar na bolsa de valores e o médico opera o paciente, isto é, submete-o à intervenção cirúrgica. Neste caso, pode ser reflexivo, como em “Maria operou-se do apêndice”. Sinônimo de obrar, pode ainda ter o sentido de defecar. Na última década, este verbo esteve ligado a ações terceirizadas, geralmente serviços públicos cedidos a concessionárias. Dessa maneira, as empresas de telefonia são denominadas operadoras.
Patrono: do latim patronus, protetor dos plebeus, depois advogado ou defensor, no fórum ou fora dele. É do mesmo étimo de pai, patrão e padrão. No Renascimento, talvez influenciado pelo latim eclesiástico, que adotou patronus para qualificar o santo padroeiro de determinada localidade, veio a designar o protetor das ciências, da literatura e de outras artes, também conhecido como mecenas, designação vinda do nome do estadista romano Caio Cilino Mecenas (60 a.C.- 8 d.C), patrono de escultores e pintores. A retribuição vinha em forma de dedicatórias. Galileu Galilei (1564-1642), pai da Física moderna, ousou mais: quando descobriu as quatro luas de Júpiter, dedicou-as aos Médicis.
Tabu: do tonga ta ‘bu, idioma da Polinésia, designando o que é sagrado, proibido, inviolável. Chegou ao português após uma baldeação no inglês taboo. A cirurgia já foi um tabu, como é comentado neste trecho de José, do escritor mineiro Rubem Fonseca (86): “Durante a Inquisição, as universidades de Medicina somente permitiam que os estudantes operassem em manequins cujas partes sexuais eram omitidas. Esses tabus religiosos não estão confinados apenas à estupidez católica, são encontrados em todos os livros sagrados, sejam cristãos, hindus, budistas, semitas, maometanos, não importa.”