Envolver-se com ex-companheiro de amigos traz riscos e suspeitas
Paulo Sternick Publicado em 10/08/2006, às 11h03
Se há tantas pessoas no mundo, por que se relacionar logo com o ex de uma das suas melhores amigas, ou com a ex daquele amigão de infância? Bem, diriam os românticos, juntando sua voz com a dos sem escrúpulos, a paixão não escolhe circunstância, estado civil ou status. O desejo teria o zelo de poupar a amizade e perder o que pode ser, enfim, a alma gêmea tão esperada? Afinal, ninguém tem culpa se a intimidade surgiu no convívio e plantou as sementes de uma afinidade recíproca, cultivada em segredo, o desejo sendo refreado sabe-se lá por quanto tempo. Se um amor autêntico, e até duradouro, pode surgir nessa incômoda e delicada situação, ela também traz escondidas perigosas armadilhas. No limite, o pior cenário reúne uma dupla decepção: a nova paixão foi um alarme falso e a amizade antiga será enterrada pela mágoa.
Talvez porque haja no mundo atual uma quebra generalizada de valores ou apenas porque hoje tudo seja mais exposto, o fato é que situações desse tipo estão muito difundidas. Tanto que o assunto teve destaque no The New York Times, um dos mais influentes jornais americanos. Entre os casos famosos está o do guitarrista do grupo Bon Jovi, Richie Sambora (46). Quem o "pegou" foi a atriz Denise Richards (35), nada menos do que a "boa" amiga da ex-mulher dele, Heather Locklear (45). Até um comercial de cerveja exibido nos Estados Unidos andou brincando com a situação. Nele, um caubói pergunta para outros homens que estão num bar, bebendo cerveja: "Seu melhor amigo é deixado por uma mulher. Quanto tempo ela vai estar proibida para você?" Inicialmente, a resposta fica nos limites estritos da amizade: "Para sempre". Até que um deles insiste: "E se ela for linda de morrer?" Aí, a lealdade não resiste à força da beleza: "Ok, seis meses!"
Será que há algum "prazo de carência" para um caso acontecer nessas circunstâncias? Bem, se por um lado é absurdo situar tal fato no mesmo plano de um adultério (embora possa ter longínquo parentesco com incesto), é também leviano negar que, subjetivamente, a situação mexe com imprevisíveis sentimentos ligados à história, ao passado e - por que não? - ao futuro do ex-casal. Sim, pois, exceto no caso de a relação ter acabado há muito tempo, quem garante que eles não voltariam a se relacionar? E mais: será que o novo envolvimento não passa de uma tentativa de causar ciúme, ou, ainda, daquelamanjada vingancinha?
Amizade e amor, embora de maneiras diferentes, despertam o que há de mais sensível e valioso na vida emocional das pessoas. Por isso, envolver-se com o ex de amigo pode despertar nele uma sensação de dupla traição. Certo ou errado, as pessoas guardam sentimentos de posse sobre seus amores. Mesmo quando tudo acaba, e o parceiro ou a parceira encontra outro amor, não é sempre sem dor, constrangimento ou ciúme que ele ou ela é visto nos braços da outra ou do outro. Imagine, então, se esse outro for um amigo, ou uma amiga no qual se depositava confiança - e de quem se esperava lealdade! Desde quando, na penumbra, ele ou ela estaria de olho na sua parceira ou parceiro, mordendo-se de cobiça e inveja, esperando apenas a hora de dar o bote? um mundo em que a virtude nem sempre é mais recompensada do que a mesquinhez, sofremos pressão cultural para não prestar atenção a certos valores. Quem estuda as amizades sabe que elas são importantes para o bem-estar do indivíduo, mas também fonte de decepção e amargura. E raramente envolver-se com os ex dos amigos deixa de ferir e até destruir a amizade. Se somos civilizados e cuidadosos, devemos considerar a delicadeza dos sentimentos envolvidos, além das armadilhas que a situação apresenta. Claro que cada caso tem suas especificidades, mas essas questões certamente precisam fazer parte do cálculo antes que decidamos avançar o sinal.
Este site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de Privacidade