Com sexo demais, ou de menos, não se vive o bom ritmo do amor
por <b>Paulo Sternick</b>* Publicado em 22/09/2009, às 21h10 - Atualizado em 25/09/2009, às 11h23
Não dá para ninguém ficar dizendo de que jeito os humanos deveriam se comportar sexualmente, estipular o ritmo ou a frequência da realização de suas necessidades ou desejos, nem como e com quem deveriam fazê-lo. Isso, obviamente, desde que sejam respeitados os princípios rigorosos da ética e a vigilância em relação às patologias.
Digo "necessidades ou desejos" porque, embora eles não se oponham - posso necessitar o que desejo e desejar o que necessito -, é útil diferenciá-los. A necessidade, acredita-se, envolve algo natural do organismo, enquanto o desejo vem carregado de subjetividade, expressando ânsias, angústias ou fantasias, mas também inibições, medos, repressões.
Esse acréscimo subjetivo não ocorre apenas no sexo. Pense na alimentação, nas pessoas que comem além da conta, por compulsão, ou naquelas que, ao contrário, em nome da estética ou da saúde, rejeitam a comida, com medo de engordar, chegando a magrezas extremas, no que ficou conhecido como anorexia. São extravios de necessidades, exageros movidos por desejos que buscam suprir faltas ou evitar excessos imaginários.
Embora não se possa falar da experiência sexual com base em padrões médios, alguns extremos podem ser discutidos, entre eles o de pessoas que "só pensam naquilo" - os hipersexuados - e o daqueles que, de maneira inversa, são frios e indiferentes, já rotulados pela nomenclatura oficial da psiquiatria como "hipossexuais".
É certo que, homenageando o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), podemos dizer que todos passamos por seres humanos, mas cada um tem a sua singularidade. O psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) sempre realçou que as pessoas têm diferentes constituições - e necessidades - sexuais. Não é o caso de concluir que esta ou aquela inclinação pode ser mais ou menos saudável - são apenas diferentes. Às vezes, também, o ritmo flutua de acordo com as circunstâncias, porque a pessoa enfrenta algum impasse amoroso ou outros problemas, interesses.
Uma propensão menor ao sexo pode dispor o indivíduo a maior sublimação, ao derivar essa energia para tarefas mais "nobres", como a ciência, o pensamento, a arte ou a religião. Tudo bem, desde que isso não signifique uma repressão que possa lhe causar sintomas e infelicidades, ou deixar os parceiros frustrados a ponto de gerar problemas conjugais. Já um impulso mais acentuado para a expressão dos desejos eróticos algumas vezes esbarra nos limites do parceiro, levando a traições e possíveis perdas.
A compulsão sexual, apesar do orgulho que ainda cerca o intenso desempenho da sexualidade, já figura no rol dos vícios (como o uso de drogas ou álcool). Indica a presença de carências de outras origens, que não as sensoriais, mas que buscam a descarga por meio do sexo. Às vezes o casal, ou um dos parceiros, não está feliz afetivamente e procura compensar isso com satisfações sexuais exageradas.
Quando ele e ela se gostam, é mais fácil conciliar os ritmos, compreender aumentos ou diminuições dos desejos, situando essas alterações no contexto da vida que têm levado e não esquecer de que há outras fontes de satisfação. Assim, o casal constrói a própria vida, sem precisar se constranger por não corresponder às estatísticas.
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