Please, please, não olhe para essa moda como se ela fosse absurda porque a ilha da fantasia ainda existe e John Galliano mora nela. Eu andava preocupada. A coleção Dior (prêt-à-porter verão 2007), quase careta, nem parecia Galliano. Teria monsieur Bernard Arnault (o poderoso chefão) cortado suas asas?? Aiaiai, os números são assassinos (vai vender? não vai vender?) e obrigam a moda a se banalizar, a se encolher. Só a haute couture (ninguém sabe até quando...) ainda consegue escapar. E essa coleção voou alto, um verdadeiro laboratório de idéias, quase um manisfesto do que sempre foi a alta costura e que, pouco a pouco (nesses tempos difíceis, nessa correria moderna), está deixando de ser: beleza pura, perfeccionismo obsessivo, paixão, quase compulsão. Bom, chega de blablablá e... vem comigo decifrar esses origamis-estrelas, essas dobraduras misteriosas, esses corpetes-esculturas. Olha só esse quimono soberbo, olha só esses longos amarrados por faixas, olha só essas golas-flores, olha só essas golas-pássaros. As cores intensas (pink caliente, água do Nilo, vinho encorpado, roxo imperial) são bem capazes de me convencer (ainda?) que a vida pode ser technicolor. Espetaculares: flores e folhas de cerejeira, libélulas e borboletas pintadas à mão boiando serenas na superfície do cetim pesado. As cabeças, by Stephen Jones, foram coroadas com miniaturas de lanternas ou de leques deslumbrantes. L'esprit de monsieur Dior cresce e aparece de repente, nas saias imensas (godês e mais godês guarda-chuva) completamente folhadas, cinturinha estrangulada, decote tomara-que-caia. O que mais?? Sombrinhas de renda transparente, mil voltas de pérolas nos colares 1900. Sapatos-sandálias, bem difíceis de encarar, por causa da base feita de madeira. Eu, tadinha!, desabaria no ato...
FOTOS:MARCIO MADEIRA