União antecipada por gravidez pede atenção ao vínculo do casal
por Célia Horta* Publicado em 29/06/2010, às 15h27 - Atualizado às 16h54
Qualquer gravidez, mesmo quando programada, implica arranjos na vida conjugal. Ao nascer um bebê, nasce também um novo casal e um novo sistema familiar. Mas quando namorados decidem se casar motivados por uma gravidez inesperada, em qualquer idade, talvez seja ainda mais importante que, durante a gestação e após o nascimento do filho, boa parte da atenção seja direcionada ao relacionamento do casal, sobretudo nos dias de hoje, quando as separações são bem mais freqüentes.
Do ponto de vista social, o mundo definitivamente mudou. Até meados do século passado, casar-se grávida era visto como falta de pudor pela família e pela sociedade, e motivo de vergonha para a noiva e futura mãe. Muitas mulheres escondiam a gravidez com roupas apertadas até o limite do possível. Viviam verdadeiros conflitos para contar à família. Algumas se privavam da possibilidade de usar um vestido branco na cerimônia de casamento por não se sentirem dignas e merecedoras da cor, símbolo de castidade e pureza.
Hoje, quando decidem se casar, as futuras mamães não só usam o branco como até procuram um vestido que valorize a barriguinha proeminente. Interiormente, porém, continuam vivendo um turbilhão de emoções gerado pelo prenúncio da chegada de um filho e pela necessidade de adaptação que a situação exige. Se tudo isso pode provocar um descompasso na vida de qualquer casal, mesmo daqueles que já têm uma vida conjugal estabelecida pelo tempo e pela qualidade da convivência, imagine a ameaça que não representa para os parceiros cuja união foi antecipada pela gravidez. É comum que até a chegada do bebê estes não tenham tido tempo suficiente para fortalecer a conjugalidade e, assim, favorecer a parentalidade - termo proposto pelo psicanalista francês Paul-Claude Racamier (1924-1996) para designar as vivências do ser pai e do ser mãe. Em meio a tantas preocupações ligadas à chegada do bebê, a parentalidade pode surgir em detrimento da conjugalidade. Dessa forma, o relacionamento do casal, ainda não bem trabalhado, corre o risco de encontrar um espaço precário no sistema familiar.
É necessário, portanto, uma atenção vigorosa ao vínculo de casais que se unem nessas circunstâncias. Para que a conjugalidade não se despedace ou se desenvolva bem é necessário, em primeiro lugar, avaliar e dosar o tempo que cada um dedica exclusivamente à relação conjugal. Além disso e das conversas, há que se pensar sobre como anda a intimidade. O casal ainda consegue namorar? Outro ponto é reajustar as expectativas de um em relação ao outro, de modo a atender à nova configuração familiar. O que se espera do parceiro não pode ser exatamente o mesmo que se esperava quando não havia um filho. Também a divisão de responsabilidades é algo a ser devidamente combinado. Uma criança exige muitos cuidados, afinal. Lembrar que o pai deve se aproximar do filho é importante, não só para que ele possa participar das funções cotidianas e desenvolver prazerosamente o papel de pai como também para que o casal possa compartilhar idéias e emoções sobre essa experiência singular e enriquecedora para o casal, ligada à maternidade e à paternidade. Assim, em vez de representar risco de afastamento conjugal, o filho poderá consolidar a boa união do casal.
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