Ter dois amores pode gerar dor e levar a uma decisão difícil, a escolha
por Leniza Castello Branco* Publicado em 10/03/2011, às 00h01 - Atualizado em 12/03/2011, às 16h09
Desde a infância, queremos amar e ser amados. Amamos nossos pais e nossos irmãos. E desejamos ter exclusividade desse amor, mas não a temos. Então, sentimos ciúme. O ciúme e o desejo de ser único fazem parte de toda a nossa vida. Quando nos apaixonamos esse desejo de ser único é ainda mais forte e toma conta de nós. Não podemos admitir que o ser amado ame outro, queremos que ame somente a nós, e a traição é um dos maiores motivos de separações. Nos votos de casamento, com aquele "até que a morte nos separe", entendemos que vamos amar e seremos o único motivo de amor.
Muitas vezes, porém, um casal que se ama, vive bem e se considera feliz vê aparecer uma terceira pessoa, com a qual um dos dois se envolve. Como lidar com isso? O que fazer se ele ou ela ama o parceiro ou a parceira, não quer se separar mas se sente apaixonado por outra ou outro? Pensa, pesa, compara, fala com os amigos, sofre porque deseja os dois mas não agüenta a divisão interna. Ninguém preenche totalmente nossas carências; um pode ser sério, poderoso, protetor, sistemático; o outro, alegre, criativo, inesperado, aventureiro; com um tenho segurança, com o outro tenho sexo. No princípio, a ideia era apenas sair às vezes com aquela pessoa, só por brincadeira, sem intenção de se envolver. Mas o envolvimento já existe, senão não haveria sofrimento.
O psicólogo americano Leon Festinger criou a Teoria da Dissonância Cognitiva, segundo a qual "todos precisam de uma coerência entre o pensar e o agir, uma consonância; todos devem agir de acordo com suas crenças ou vão entrar em conflito e, então, mudam o comportamento ou tentam novas crenças para sair do estado de tensão interna". Quem acredita que só se pode amar um mas se envolve com dois entra em um estado de tensão. Racionalmente, "sabe" que só pode amar um, mas seu coração diz que ama os dois. O problema é que é possível gostar de dois, o difícil é relacionar-se com os dois sem sentir culpa. É uma questão moral, cada casamento ou relação tem suas regras. Não podemos é nos trair, trair nossas convicções e nossas crenças.
Para resolver o conflito, a pessoa precisa refletir e seguir aquilo em que acredita. A terapia pode ajudá-la a se conhecer melhor e agir de acordo com seu coração. Aqui é onde entra a ética. Se não suportamos a situação, vamos ter de escolher um e perder o outro, já que não podemos mentir e conviver com algo em que não acreditamos. Quem é mais maduro escolhe e aguenta a frustração por perder. Muitos homens são criados vendo o pai trair a mãe como se fosse natural. Não percebem mal nenhum em trair, desde que não sejam eles os traídos. Se forem traídos pela mulher, não vão suportar. Apesar de ser uma ética machista, muitas mulheres também agem assim. Traem o marido sem culpa porque acreditam que "o que os olhos não vêem o coração não sente".
Mas se amamos alguém verdadeiramente, se existe confiança mútua, o certo é abrir o coração, ser leal como gostaríamos que o outro fosse conosco, o que vai nos dar o alívio desejado. Ninguém está livre de se envolver, pode acontecer mesmo que a pessoa não queira, mas mentir depende de nós. Mesmo que a relação tenha acabado, o que deve ser "até que a morte nos separe" é a confiança e a lealdade.
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