Amor a distância é possível, mas exige muita fantasia e confiança
por Leniza Castello Branco* Publicado em 25/05/2010, às 11h38 - Atualizado às 11h38
Eles se conheceram por meio de um site de relacionamento e, apesar da distância entre as cidades - ou países - em que vivem, começaram a namorar. Ou não. Já namoravam, quando apareceu aquela proposta irrecusável de trabalho e um dos dois mudou-se para longe. Pode parecer impossível que relações como essas possam sobreviver, mas muitas vezes sobrevivem - e até crescem na distância. Como? O telefone é o maior aliado dos casais afastados pelas circunstâncias. Não há nada mais gostoso do que, à noite, na cama, conversar muito tempo sobre o que cada um fez, lembrar do último encontro, trocar confidências e fantasias eróticas, falar sobre a saudade. Os mais moderninhos podem até usar as câmeras do computador para se ver reciprocamente. Trocar e-mails também pode ser excitante. E cartas. São gestos de carinho que alegram o parceiro e dão alento à união. Sem falar que há também MSN, Facebook e outros recursos que permitem mandar e receber mensagens ao vivo, de maneira sincronizada, sem ter de esperar muito pela resposta. São verdadeiras conversas virtuais.
A saudade, no fim das contas, funciona como afrodisíaco. A espera pelo dia do próximo encontro torna-se absolutamente excitante. Na véspera, os dois já começam a se preparar, pois querem dar o melhor de si, mostrar atenção, dedicação. Afinal, nada é demais para quem se vê pouco. Cada minuto deve ser vivido intensamente. O sabor é sempre de recomeço, não há rotina, nem cobranças.
Tudo isso alimenta a relação, mas o que conta, mesmo, para que ela se mantenha viva, é a confiança. Um não vê o que o outro anda fazendo, mas precisa confiar. Esse é um bom teste para o futuro. E tem de haver também um projeto, planos para serem realizados a dois. Se não houver, e se a separação for muito longa, é maior o risco de a relação terminar, pois quem garante que um ou outro não se envolverá com alguém mais disponível?
Pessoas muito racionais ou imediatistas têm mais dificuldade para viver um amor assim. Ele exige a capacidade de fantasiar, de sonhar, de acreditar nas ilusões. Exige também força, para aguentar as frustrações, a saudade. Quem experimenta um envolvimento como esse fica dividido. Quando está junto de seu amor vive para ele, sente-se íntimo, acha tudo perfeito! O desejo sempre é forte, o carinho e as conversas não têm fim, os compromissos ficam para depois. Mas com a separação a vida volta ao normal e toda a intimidade parece evaporar! Há uma sensação de vazio, de perda, em cada afastamento, e daí a pessoa começa a viver de saudades e de lembranças, precisa aprender a ficar só e a tirar prazer também da solidão. Se não há segurança, o ciúme toma conta. As fantasias, em vez de serem boas, ganham sabor de perda e traição. O sofrimento torna-se maior do que a alegria dos encontros.
Quem entra num relacionamento a distância não pode se esquecer de que são dois os envolvidos e que o outro também tem de seguir seu caminho, sua viagem pessoal. Se for possível acompanhar, ótimo. Se não, melhor cair fora. Aqueles que dão conta do recado, porém, vivem uma experiência muito interessante, de desapego, de liberdade, de confiança. Como diz o poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994), "tudo vale a pena se a alma não é pequena!"
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