Cobranças não levam ninguém a assumir um compromisso afetivo
por Rosa Avello* Publicado em 01/03/2011, às 17h29
Uma amiga me revelou uma situação comum nos dias de hoje. "Rompi uma relação que durou três anos. Não vivíamos juntos, mas nos encontrávamos com frequência e tínhamos projetos comuns de trabalho. Minha família e meus amigos sabiam de nossa relação. Ele não tinha família e me assumiu para dois ou três amigos apenas. Durante o tempo em que estivemos juntos, eu não tinha clareza do tipo de relação que estávamos construindo. Sentia-me insegura. Há pouco tive provas de que ele tinha outras mulheres. Quando falamos no assunto, ele deixou transparecer que nós não tínhamos compromisso e, portanto, eu não tinha motivo para me sentir traída. Até hoje me pergunto se foi um canalha ou se eu é que entendi tudo errado. Quando se pode cobrar compromisso de alguém?"
Primeiro, compromissos se ancoram em valores e princípios e são definidos por atitudes, não por ações. É por isso que compromissos afetivos são difíceis de estabelecer e, uma vez constituídos, são difíceis de romper. Como atitudes não são visíveis, as ações é que o são, nunca se sabe, ao cobrar compromisso, se obteremos mudanças nas atitudes ou apenas nas ações. Pessoas que são alvo de cobranças podem mudar o comportamento para se sentir livres e manter atitudes descompromissadas, uma vez que não se mudam valores e princípios apenas com cobranças. Nesse caso, a pessoa muda as ações, mas tão logo se sinta livre das pressões volta a agir com o descompromisso de costume. É ilusão acreditar que alguém vai se comprometer porque foi cobrado.
É preciso esclarecer que algumas pessoas têm compromisso somente consigo mesmas. Quando isso é inconsciente, agem como se desejassem envolvimento afetivo, mas entram em crise, ficam com dúvidas e se sentem sufocadas sempre que estão numa relação.
Pessoas assim são facilmente identificadas: mesmo sendo simpáticas e extrovertidas, têm poucos amigos. Não abrem a vida pessoal para os outros, só a profissional, e fazem de tudo para não tomar conhecimento do contexto familiar de quem se envolve com elas. Podem ser prestativas e atenciosas superficialmente, mas nunca estão disponíveis quando se precisa delas. Evitam fazer planos a longo prazo, a não ser que sejam profissionais, e tomam decisões sem considerar o efeito sobre os outros.
Finalmente, você sabe que não há compromisso da pessoa com você quando pelo menos três destas condições são verdadeiras:
- amigos e familiares seus agem de modo estranho e pouco afetivo com a pessoa, mesmo que esteja claro seu afeto por ela;
- você nota que há divergências entre você e a pessoa quanto ao status da relação;
- vocês não falam de planos conjuntos para o futuro;
- a pessoa estimula você a ter planos futuros, mas nunca se inclui neles nem se incomoda se você não a inclui em seus planos;
- a pessoa faz planos futuros, mas não inclui você neles e desconversa caso mencione o fato;
- em situações sociais, suas ações expressam a relação afetiva, enquanto as ações da pessoa expressam amizade;
- você passa por momentos críticos e não tem liberdade para pedir o apoio dela;
- você frequentemente tem dúvidas sobre o compromisso que a pessoa tem com você.
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